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Heróis e bandidos: onde está a diferença?

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Eu não poderia deixar passar em branco o que as redes sociais comentaram na última semana, sobre o paciente que se arrastou até o veículo da Secretaria de Saúde de Nova Serrana. Mas, quero analisar a questão de um outro ponto de vista, talvez mais crítico, talvez mais humano.

Quem assistiu ao vídeo, logo fez questão de compartilhar a imagem triste de um cidadão, com dificuldades de locomoção rastejar até o veículo, se apoiando primeiramente no pneu e com mais dificuldade, ainda, abrir a porta e entrar no carro que o levaria a algum atendimento.

A apatia do motorista foi nojenta em todos os sentidos. A situação não é um absurdo acontecido apenas em Nova Serrana, porque sabemos de situações similares em outras cidades sem serem registradas.

O mundo virtual esbanja aberrações desse tipo. Recentemente foi o motorista do caminhão atingido pela queda do helicóptero em que morreu Ricardo Boechat, que preso nas ferragens da cabine foi socorrido por apenas uma mulher, enquanto marmanjos gravavam as imagens, numa vã tentativa de mostrar ao mundo o que eram capazes de fazer, ou seja, nada!

Mostraram a ignorância humana em todo o seu esplendor. Alunos em escolas se atracam em brigas animalescas e suas imagens são postadas sem que ninguém interfira para separar o embate físico. Cadáveres expostos em rodovias, feridos em acidentes ganham destaques, enquanto internautas fascinados pedem mais e mais fotos e vídeos.

Essa é a cultura da tecnologia virtual que estamos ajudando a consolidar, onde falsos heróis deixam cair a máscara para se revelarem como bandidos, que são.

Nessa “onda”, aquela testemunha de catástrofes gravou a imagem do “coitado” rastejando até o carro da prefeitura. Pode ser, que sua intenção fosse realmente mostrar o descaso do funcionário da Secretaria de Saúde e sua evidente frieza. Mas, com toda a certeza havia uma outra forma de fazer a importante denúncia.

Com apenas uma das mãos poderia ser prestada a importante ajuda. Ele poderia caminhar até o motorista e ordenar uma atitude digna de servidor público na ajuda ao personagem da história tão macabra. Ele poderia sair da zona de conforto e ser apenas um pouco solidário ao invés de mostrar tamanha insensibilidade.

Sua preocupação era outra, com certeza! E assim, fatos como este se repetem e teimamos em manter nossa apatia em troca de mais “curtidas e compartilhamentos” da desgraça alheia.

Acompanho centenas de postagens, todos os dias. Faço as minhas, como qualquer leitor desta coluna. Porém, nunca encontrarão algo similar nelas, porque ainda preservo meu senso de dignidade humana e acho que esse foi um dos melhores conselhos de meu pai.

Por isso, antes da tal “onda” nos engolir mais do que já fez, vamos pensar no que podemos fazer de bom sem propagar o sofrimento de pessoas necessitadas. Podemos fazer diferente, podemos ajudar de verdade.

Bandidos e heróis se misturam nas redes sociais. Caloteiros e gente fraca invadem residências de pessoas desprotegidas, como recentemente aconteceu com uma empresária no Rio de Janeiro, que foi espancada até que seu algoz lhe deformou todo o rosto. A lição pode ser esta: heróis se apresentam ao vivo e a cores. Bandidos se disfarçam na trincheira da internet. Mas, bandidos podem ser mais humanos que alguns heróis das redes sociais.

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