Economia
“Haddad, você fez o que pôde, mas o ciclo político é mais forte do que você”, diz Sr. Mercado
A política econômica teoricamente foi criada para atenuar a volatilidade do PIB. Dessa forma, a economia caminha de maneira mais estável, essa estabilidade torna a sociedade mais próspera e permite visão de longo prazo.
O “new deal” nos EUA foi inspirado nessa ideia. Porém, também foi percebido que ela era uma ferramenta excelente de popularidade. Justamente por isso, o conceito de que esse instrumento precisa permanecer na mão de um corpo técnico e não nas mãos da classe política foi concebido.
De alguma forma, diversas nações se organizaram para realizar essa transferência. Contudo, a pandemia “arremedou” o tal instrumento nas mãos dos governos novamente.
Dessa forma, a política econômica volta a atuar na direção do ciclo político. As variáveis macroeconômicas, especialmente aquelas que impactam em popularidade de governantes, passam a ser observadas de forma diferente e os instrumentos aplicáveis de estímulo ou contração passam a ser aplicados na intenção de promover reeleições, fortalecer a base da liderança de um mandato.
No Brasil, não é diferente, e talvez aqui seja ainda mais difícil desaparelhar novamente essa classe. Enquanto isso, é justamente isso que observamos ocorrer em outras geografias, como nos EUA e até mesmo na Argentina.
Para mim, Senhor Mercado, o ministro Fernando Haddad tem o emprego mais difícil do mundo. A agenda de ajuste fiscal claramente foi induzida por ele.
Contudo, o ciclo político “gritou” mais alto. Parte de mim, o mercado, acreditou na credibilidade dessa agenda, que veríamos uma contenção na piora da trajetória fiscal.
Os níveis de popularidade do governo passaram a piscar em vermelho e isso obrigou uma mudança de rota. Tudo isso com inflação comportada e desemprego nas mínimas, que é o que mais preocupa: o que vai acontecer caso essas duas variáveis macro comecem a degringolar?
O balanço de riscos mudou de lado da mesa. Agora, temos mais possíveis acontecimentos que podem piorar o cenário do que o contrário:
- Queda no preço de petróleo, que afetaria duplamente o câmbio: menor fluxo de entrada de dólares no Brasil na exportação da commodity e queda de arrecadação, que gera uma mudança no resultado fiscal – um regra de bolso, a grosso modo, a cada US$ 1 de oscilação no preço do Brent temos de alteração de R$ 2 bilhões até R$ 3 bilhões no resultado fiscal;
- Risco de alta de juros nos EUA no primeiro semestre do ano que vem. Se o Brasil continuar sendo esse indicador futuro de política monetária para os americanos, isso é bem provável de ocorrer;
- Gabriel Galípolo, futuro presidente do Banco Central, deixar de seguir o “script” da política monetária.
O cenário se consolida de forma negativa, com espaço para piora, e que dificilmente vai mudar de direção. Talvez o único gatilho para “inverter a mão” serja uma depreciação mais acentuada do real, que o levasse para algo como R$ 7 por dólar.
Enquanto isso, ainda não estamos tão próximos, mas nem tão distantes assim, de observarmos uma das oportunidades mais incríveis de comprar ativos brasileiros da história. Aliás, na Bolsa, já vemos preços completamente erráticos em alguns papéis, jamais vistos dessa forma antes.
Conclusão: os canhões estão altos, talvez fiquem ensurdecedores – essa será justamente a melhor hora para investir.
Foto: REUTERS/Adriano Machado – Com informações de Sr. Mercado/InfoMoney: https://www.infomoney.com.br/colunistas/senhor-mercado/haddad-voce-fez-o-que-pode-mas-o-ciclo-politico-e-mais-forte-do-que-voce-diz-sr-mercado/