Saúde Mental

Fofocar pode aliviar estresse e ansiedade e provocar sensação pertencimento

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Fofoca pode ser boa desde que não prejudique ninguém - Foto: FREEPIK

Há quem fique com as orelhas em pé só de ouvir alguém dizer: “tenho uma fofoca”. E também têm aqueles que acreditam que fazer fuxico não seja nada edificante. Sendo unanimidade ou não, o ato de falar dos outros acompanha o ser humano desde seus primórdios. Teorias variadas tentam dar conta da origem da fofoca, e uma delas remonta aos tempos da descoberta do fogo, fato acontecido cerca de um milhão de anos atrás.

A hipótese é a de que, antes do descobrimento desse elemento, os primeiros humanos passavam o dia todo em busca de abrigo e de comida, e, ao cair da noite, não havia mais nada para fazer a não ser dormir. Mas, ao saberem da existência do fogo, ao fim do dia, começaram a se reunir em torno de uma fogueira, e, estando mais seguros, aquecidos e com tempo livre, conversavam sobre assuntos menos sérios.

Obviamente, o ato de futricar tem contornos bem diferentes na atualidade, mas o seu cerne continua o mesmo: fortalecimento de vínculos sociais, sensação de pertencimento e proximidade entre os seus, conforme explica a médica psiquiatra Jaqueline da Matta.

“A fofoca também pode ser uma forma aliviar a ansiedade. Ao compartilhar preocupações ou frustrações, podemos aliviar o estresse”, aponta. Psicóloga e terapeuta comportamental especializada no atendimento e acompanhamento de mulheres, Juliana Pereira complementa o raciocínio da médica, destacando que “a comunicação sobre terceiros pode ter um papel social, ajudando a entender normas e fortalecer laços em determinados contextos.”

É assim que se sente Raquel Gomes Batista, de 36 anos, que trabalha na área da saúde. Ela conta que tem o hábito de fofocar e mesmo de ouvir casos de outras pessoas. “Quem nunca?”, brinca. Segundo Raquel, esse costume parte de uma busca pelo entretenimento. “Sou curiosa e gosto de saber quem outro é”, resume, destacando que o ato de falar da vida do outro é algo natural do convívio social.

Mas a médica psiquiatra Jaqueline da Matta alerta que a fofoca que fortalece os laços é aquela leve, sem intenção de difamar alguém. “A fofoca prejudicial é aquela que tem a clara intenção de difamar, prejudicar a pessoa alvo”, sentencia.

A psicóloga Jaqueline Pereira concorda. “Quando assume um tom pejorativo ou difamatório, os prejuízos de uma fofoca superam qualquer benefício, promovendo ambientes tóxicos e afetando a saúde mental dos envolvidos. Inicialmente, pode haver uma sensação de pertencimento, mas, com o tempo, o mesmo motivo que uniu as pessoas pode causar afastamento social, já que a desconfiança e a insegurança entre os participantes tendem a crescer”, diagnostica.

É preciso, dessa forma, estar atento até que ponto o mexerico pode ser danoso ou não. “A fofoca se torna prejudicial quando causa danos à reputação ou ao bem-estar emocional de alguém, promove desinformação ou divisões em grupos”, indica Juliana Pereira.

Além disso, segundo a especialista, quando se torna um hábito recorrente, falar mal dos outros pode indicar uma necessidade de validação por meio da desvalorização de terceiros. “Outro sinal de alerta é quando o indivíduo passa muito tempo envolvido nessas conversas, a ponto de perder horários, compromissos ou comprometer sua produtividade para falar da vida alheia”, indica. “Pode ser que, em curto prazo, uma fofoca una pessoas. Mas, a longo prazo, tende a deteriorar a confiança, desgastando os laços sociais e relacionamentos”, salienta a psiquiatra Jaqueline da Matta.

Afinal, por que fofocamos?

São variados os motivos que podem nos levar a fofocar. Segundo a psicóloga Juliana Pereira, a necessidade de falar mal dos outros pode estar associada a inseguranças, busca por pertencimento e dinâmicas de poder.

“Psicologicamente, pode ser um reflexo de baixa autoestima, necessidade de validação social ou mecanismos de defesa, como a projeção, em que se atribuem aos outros características indesejadas que a pessoa nega em si mesma. Além disso, pode ser uma fuga para não olhar para a própria vida, desviando a atenção de questões pessoais que exigiriam autoconhecimento e transformação”, destaca a psicóloga.

A médica psiquiatra Jaqueline da Matta também enumera uma série de razões pelas quais tendemos a fuxicar. “Isso pode ocorrer por ciúmes ou inveja: ao falar mal dos outros, a pessoa tenta diminuir a percepção de superioridade para aliviar seus próprios sentimentos negativos”, afirma.

“Também acontece por raiva e frustração, já que fazer fofoca é uma forma indireta de confrontar alguém e de expressar sentimentos negativos. Além disso, pode estar relacionado a controle e poder, uma vez que espalhar fofocas se torna um meio de exercer controle social ao prejudicar a reputação da pessoa criticada. Por fim, também tem ligação com padrões culturais: em algumas culturas ou grupos sociais, as fofocas são mais aceitas ou até incentivadas”, diz Jaqueline.

O contexto em que cada pessoa vive também influencia as motivações e os efeitos do mexerico. “No ambiente de trabalho, a fofoca pode ser uma forma de lidar com incertezas, mas também pode minar a confiança e prejudicar a produtividade. Em círculos de amizade, pode reforçar vínculos superficiais, mas também gerar rupturas. Na família, pode perpetuar padrões disfuncionais de comunicação e rivalidades. Cada contexto influencia a forma como a fofoca é percebida e seus impactos”, pontua a psicóloga Juliana Pereira.

Fonte: https://www.otempo.com.br/interessa/2025/3/13/fofocar-pode-aliviar-estresse-e-ansiedade-e-provocar-sensacao-pertencimento

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