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Vendido como alternativa para interromper vício, cigarro eletrônico provoca pior crise de abstinência

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“O cigarro eletrônico é uma alternativa prática, fácil e moderna para você que deseja largar o cigarro tradicional”. A mensagem faz parte do anúncio de um site que comercializa cigarros eletrônicos – que tem a venda proibida no país. No entanto, o dado é desmentido pela médica Liz Almeida, responsável pela Coordenação de Prevenção e Vigilância (Conprev) do Instituto Nacional de Câncer (INCA), que explica que os efeitos são totalmente opostos ao anunciado. “Uma coisa que se observou nos países, onde esse produto foi liberado, é que a síndrome de abstinência ao cigarro eletrônico é mais severa do que a síndrome de abstinência ao cigarro comum”, afirma. As informações são da Itatiaia.

Segundo ela, além de não ser seguro, estudos apontam que eles não se tornaram substitutos do cigarro comum de uma forma mais saudável. “Os fumantes passaram a utilizar os dois: o cigarro comum em ambientes abertos e os cigarros eletrônicos em ambientes fechados, porque alguns modelos menores não fazem tanta fumaça, não têm o cheiro do cigarro comum e passam despercebidos”, explica.

Quem faz uso de cigarro comum acredita que a troca pelo eletrônico pode auxiliá-lo a parar de fumar. Porém, não é isso que afirmam as pesquisas. “Os estudos mostram que se você faz uso de cigarro eletrônico você tem três vezes e meia mais chances de vir a utilizar o cigarro comum e quatro vezes mais chances de se tornar um fumante do cigarro comum. Então, isso configura o cigarro eletrônico como uma porta de entrada para o cigarro comum”, destaca.

O coordenador do Ambulatório de Dependência Química e psiquiatra do Hospital das Clínicas da UFMG, Frederico Garcia, explica que existe uma quantidade significativa de nicotina no fluido que compõe o cigarro eletrônico, levando à dependência. “Como a aspiração do cigarro eletrônico é mais fácil, os usuários consomem grandes quantidades de nicotina quando comparados ao próprio cigarro normal”, destacou.

De acordo com o psiquiatra, além de causar dependência, o produto provoca danos como taquicardia, aumento da pressão arterial e outros problemas cardiovasculares.“A grande questão é que a indústria está usando o cigarro eletrônico como produto de entrada para a criação da dependência. Como se dá um aumento da percepção de segurança, ‘ah, não causa câncer, não causa os problemas do cigarro, então é um um produto melhor’”, diz.

Só que o médico tem percebido que muitos começam com o cigarro eletrônico, mas, devido ao custo elevado, acabam passando a usar o comum. “Ele começa fumando porque é supostamente seguro e mais tranquilo, mas depois fica dependente”.

Os riscos a curto prazo já são observados: doenças de natureza respiratória e circulatória. “A nicotina desses aparelhos acaba sendo consumida em um volume maior do que o próprio cigarro. A nicotina, a partir de determinada concentração, pode, inclusive, causar convulsões. Isso foi relatado em crianças e adolescentes nos Estados Unidos”.

O número de dependentes de tabaco, de acordo com Garcia, aumentou. “A gente tem observado também alguns adultos que consomem uma quantidade de nicotina que chega a atingir um nível tóxico. O cigarro eletrônico acaba sendo mais um fator de risco para a saúde e não uma solução para outros problemas como alguns dizem”.

Liz Almeida destaca duas características que o produto promete e não cumpre: o cigarro eletrônico não atende à proposta de fazer com que as pessoas parem de fumar e também não é menos perigoso que o comum.

Venda desenfreada pela internet

Apesar da venda de cigarros eletrônicos ser proibida no país, é possível encontrar sites e perfis nas redes sociais comercializando esse tipo de produto. “O problema é que ele está sendo veiculado através da internet, dificultando a fiscalização […] O que nós precisamos fazer é conscientizar a população, é levar essa informação para o maior número possível de pessoas e, evidentemente orientar os pais, porque isso é o mais importante”, orientou Liz Almeida.

O que diz a Anvisa

Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), “não há informações que sustentem a autorização para a entrada destes produtos no mercado brasileiro”. Apesar disso, os produtos são vendidos em sites e pelas redes sociais. “A fiscalização de lojas físicas é responsabilidade das autoridades locais, município e estado”, explicou o órgão.

Já as denúncias podem ser feitas na própria vigilância sanitária do município. “A Anvisa realiza a fiscalização online de qualquer produto fumígeno, entretanto, esta não é uma atribuição exclusiva da Agência. Vigilâncias Sanitárias Estaduais e Municipais também podem fiscalizar qualquer tipo de irregularidade sanitária”.

O órgão ainda listou o motivo do dispositivo não ser autorizado no país.

  • Nenhum tipo de DEF é útil para a cessação ou tratamento do tabagismo;
  • Os DEF causam dependência (presença da nicotina) e diversos riscos à saúde;
  • Redução da emissão de substâncias não significa redução de risco ou dano à saúde;
  • Ausência de estudos à médio e longo prazo dos impactos à saúde;
  • Iniciação de jovens ao tabagismo, com chances de 2 a 3x de iniciar o uso de produtos convencionais;
  • Há uma grande diversidade de produtos, o que torna impossível prever os riscos;

“Estudo realizado no Brasil demonstra que os usuários não têm uma percepção de risco correta sobre os produtos; se sentem atraídos pelos aditivos e não se acham fumantes”, concluiu o órgão.

Tratamentos pelo SUS

Frederico Garcia explica que a melhor forma de parar de fumar é procurando profissionais capacitados em centros de saúde ou serviços especializados, como é realizado no Hospital das Clínicas. “No caso do tabagismo, nós temos tratamentos que foram muito bem avaliados, que são eficazes, que são seguros e que trazem um benefício muito maior do que a substituição de um produto fumígeno por outros”.

Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), por meio da Secretaria Municipal de Saúde, explicou que os 152 Centros de Saúde da capital possuem tratamento pelo Programa de Controle do Tabagismo, com oferta, inclusive, de medicamentos. Para receber o tratamento, é necessário procurar o Centro de Saúde da região e participar das reuniões.

“O tratamento começa com palestra sobre o programa e segue com avaliação clínica, além de sessões de terapia individuais ou em grupo. Nas sessões em grupo, a abordagem intensiva é realizada em grupos de 10 a 15 participantes, coordenados por profissionais de saúde de nível superior. São quatro sessões semanais durante o primeiro mês, seguidas de duas sessões quinzenais e uma sessão mensal do terceiro ao sexto mês. Em casos específicos, o tratamento pode ser realizado com a abordagem individual”, destacou a pasta em nota.

De acordo com a secretaria, “o tratamento do tabagista contempla estratégias para enfrentar a dependência química, comportamental e psicológica. A abordagem por meio de grupos é prioritária, contudo, em alguns casos pode ser oferecido também de forma individual de acordo com a demanda do paciente e as possibilidades das equipes”.

De janeiro a agosto deste ano, 1.374 pessoas participaram do Programa de Controle do Tabagismo nos Centros de Saúde da capital.

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