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Vamos falar de bombons?

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Quando o confinamento provocado pela pandemia começa a fazer aniversário, as pessoas se incomodam com a ociosidade. Ficar em casa causa desentendimentos entre as famílias ou moradores.

Lembrei de uma passagem muito instrutiva que aprendi. Dona Marilú é uma senhora de 86 anos muito bem vividos. Não que ela tenha feito na sua juventude extravagâncias ou ousadias atrevidas. Ela é mãe de 4 filhos maravilhosos, netos e bisnetos que preenchem sua vida com muita alegria ou aquele sentimento de dever cumprido.

Lembro dela com um enorme sorriso e muita simpatia. Dona Marilú sempre foi uma pessoa especial por suas convicções, seus gestos suaves e de uma ternura impressionante, mesmo quando sua religiosidade era provocada a exaustão, por quem duvidava da sua fé inabalável.

O grande mérito dela, não fica apenas na sua personalidade e nem no seu jeito meigo, educado, refinado e inteligente. O grande “barato” da Dona Marilú foram os ensinamentos a duas gerações, que carregam um orgulho enorme da convivência com ela e ainda hoje, continua com suas lições imperdíveis sobre a vida.

Recentemente, ouvi uma passagem sobre sua fascinante sabedoria. Em sua casa, sempre cheia, suas filhas, genros e netos discutiam sobre vários assuntos do cotidiano. Falavam de política e as questões polêmicas, de bons e maus comportamentos, de crises ou desavenças entre parentes e amigos impulsionando o assunto que corria solto.

Dona Marilú participava apenas escutando os debates, ora amenos e ora acalorados. E como em toda “família unida” que se prese, vieram à tona assuntos incrivelmente comuns à toda prole quando se junta.

O assunto parecia ir bem, mas de repente as críticas começaram a dividir opiniões. Falava-se dos modos da “fulana”, da roupa da “cicrana”, da conduta de “beltrano” ou ainda, de pessoas que nem lá estavam para se defender. Mas, Dona Marilú continuava em seu posto de observação escutando a tudo e a todos.

É claro, que em algum momento as pessoas se dirigiam a ela por questão de respeito à sua presença. Mesmo assim ela se mantinha solene, como uma rainha entre seus súditos mais exaltados.

Imagino que ela tivesse muitas questões a colocar, mas se manteve como uma espectadora das reclamações expostas. Também imagino, que Dona Marilú sentiu um pouco o reflexo da intolerância compartilhada por opiniões ou pela defesa de razões absurdas alimentadas por apenas uma ou duas pessoas…

Mas ela ficou firme em sua majestosa paciência. Os presentes eram bem informados sobre os acontecimentos do dia a dia e os assuntos não assustavam, pois todos demonstravam conhecimento sobre o que era dito.

Quando todos os assuntos foram colocados com total clareza, defendidos por opiniões fortes e presumível conteúdo, aquelas pessoas tão sábias e conhecedoras do mundo notaram, que sem dizer uma só palavra, Dona Marilú a tudo escutava sem emitir qualquer som, suspiro ou bocejo por coisas tão fora da sua realidade.

Acho que Deus é realmente um Ser maravilhoso na capacidade de distribuir virtudes que sufocam a nossa estupides e em determinado momento, quando o assunto rotulava uma pessoa ausente com atribuições descabidas, perguntaram a ela, qual era a sua opinião sobre o que fora colocado.

Foi quando, pela primeira vez, olhando para cada um dos presentes, com severidade por tudo que ouvira, Dona Marilú sorriu e disse: “-Vamos falar de bombons?” (Silêncio total) …

Todos com cara de “Ué!” O que fazer com uma sugestão de tão grande magnitude?

O que responder a uma sabedoria tão elementar, mas pouco usada nos dias de hoje?

O que dizer a uma senhora de 86 anos, que viveu uma vida inteira ensinando sobre a importância do bem e suas virtudes a tantos prepotentes amontoados em discussões que não levam a nada?

A lição caiu como uma bigorna sobre a consciência de todos… E ali ficaram, num silêncio assustador por entenderem que falar de bombons é muito mais produtivo, muito mais humano.

Ao ouvir sobre essa passagem, eu também aprendi que o bombom é uma arma poderosa contra nossa ignorância, que chega a reunir pessoas em torno de uma causa sem sentido na defesa de razões absurdas num mundo tão complexo e repleto de desentendimentos.

Aprendi, que quando eu estiver sob a pressão das imposições de opiniões buscarei, como Dona Marilú, a sabedoria da vivência na harmonia, da paz que precisamos alimentar ao invés do confronto.

Aprendi, com aquela senhora de 86 anos, que tivessem as discussões políticas nas redes sociais uma pessoa como ela, para falar de bombons, nossa vida seria um pouco mais doce e deliciosamente achocolatada para matar a nossa fome de tranquilidade e respeito.

Por isso, quando nossos argumentos forem vazios, perderem sua força de convencimento, e por isso nos sentirmos fracos e deprimidos, quem sabe, podemos falar de bombons?

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