Saúde
Vacina nonavalente contra HPV chega à MG e alavanca proteção contra câncer a 90%
Gardasil 9 é a versão mais atual da vacina em todo o mundo; imunizante começa a ser ofertado na rede privada, com futura pretensão ao SUS
Existe uma forma de estar 90% protegida contra o câncer de colo de útero. Bastam duas ou três doses da vacina Gardasil 9, a versão mais atualizada do imunizante contra o HPV (Papilomavírus Humano), que acaba de chegar à rede de saúde privada em Minas Gerais. A cerca de R$ 900 a dose, o esperado é que, no futuro, o imunizante possa ser incorporado no Sistema Único de Saúde (SUS). Com informações de O Tempo.
O diferencial da Gardasil 9, produzida pela farmacêutica Merck & Co. Inc. (MSD), é a proteção. A vacina contra o HPV disponível hoje no SUS é quadrivalente e garante defesa, principalmente, para os sorotipos 16 e 18, os principais causadores de câncer de colo de útero, de pênis, de ânus e orofaringe. Já o Gardasil 9 amplia a proteção contra mais cinco sorotipos, isto é, é a primeira vacina nonavalente disponível no Brasil.
O resultado é um acréscimo de proteção que alcança 90%. “A vacina disponível hoje no sistema público, também desenvolvida pela MSD, tem uma prevenção de 70%, que já é uma ótima proteção contra cânceres e lesões relacionadas ao HPV. O importante que a Gardasil 9 traz é um acréscimo de 20% na proteção contra câncer de colo de útero, então o potencial de proteção chega a 90%”, explica a diretora médica e de vacinas do MSD Brasil, Marina Della Negra.
Só para se ter uma ideia, em 2023, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima 17 mil novos casos de câncer de colo de útero, o que representa um risco de 13 casos a cada 100 mil mulheres. “O impacto desse câncer na vida de uma mulher jovem é imenso. Pode acontecer de ela ser impedida de ter filhos, de ter que retirar o útero. Vacinar pode impedir um desfecho muito invasivo”, continua a diretora.
Nonavalente é específica para casos graves
De acordo com Negra, os cinco sorotipos acrescentados à proteção da vacina Gardasil 9 são de “alto risco”. “Eles têm maior risco de desenvolvimento de lesões de alto grau, pré-cancerígenas e cancerígenas. Eles foram priorizados para serem incluídos na proteção dessa vacina porque estão em até 70% dos cânceres”, detalha.
E não se trata apenas de uma defesa do corpo ao câncer de colo de útero. De acordo com o Ministério da Saúde, cerca de 80% da população sexualmente ativa deve ser infectada pelo vírus HPV em algum momento de sua vida. As lesões provocadas pelo vírus podem evoluir para doenças graves como cânceres de vulva, vagina, pênis, ânus e orofaringe.
Meninos e homens também precisam se vacinar
É por isso que a imunização contra o HPV é indicada para todos os gêneros. Podem se vacinar com a nonavalente meninas e meninos, mulheres e homens, de 9 a 45 anos de idade. Por ano, cerca de 30 mil brasileiros são diagnosticados com algum tipo de tumor que afeta o sistema reprodutor.
“A imunização dos meninos ainda é muito negligenciada. Às vezes, a família pensa que não é preciso vacinar porque HPV é só para câncer de colo de útero, não é. Um rapaz, um homem, também pode ter lesões por HPV na região da faringe, no pênis ou anal. O câncer de pênis, inclusive, pode chegar a ser gravíssimo, ocasionando a amputação do órgão. Está aí o valor da vacinação”, afirma a médica.
Tabu ainda é desafio
No Brasil, a cobertura vacinal contra HPV está em 57% para meninas de 9 a 14 anos com até duas doses e 36% para os meninos de mesma idade. Em Minas, a cobertura é melhor, mas ainda está longe da meta. 69% das meninas e 48% dos meninos estão imunizados com duas doses da vacina contra o HPV no Estado. O ideal, de acordo com o Ministério da Saúde, é alcançar 90% de cobertura vacinal.
Um dos desafios na imunização dos jovens é o enfrentamento de tabus com relação ao HPV. “A vacinação contra o HPV é ideal na pré-adolescência e adolescência. As famílias se pegam pensando que a vacina pode incentivar a vida sexual do jovem, mas uma coisa não tem nada a ver com a outra. A vacina previne contra o câncer, é uma conquista da ciência nesse sentido. Não está relacionada, em nada, às escolhas sexuais”, afirma Marina Della Negra.
A médica reforça que vacinar é, na verdade, um ato coletivo. “A vacinação é necessária para proteger o indivíduo, seja ele quem for. Um parceiro pode transmitir o vírus para outro, um vírus que pode ficar ‘adormecido’ por anos. Independente se a pessoa está em um relacionamento estável ou não, independente da sua orientação sexual, a vacina vai proteger contra doenças graves, cânceres. Você sempre pode ser um vetor. A vacinação é para todos”, reforça.
Existe momento ideal para se vacinar?
Pelo SUS, a vacinação contra o HPV está disponível para crianças e jovens de 9 a 14 anos de idade. Essa faixa etária é tida como a ideal para ocorrer a imunização. “A proposta é que a pessoa seja imunizada o quanto antes, assim ela vai ficar protegida antes de iniciar a vida sexual e antes de estar exposta ao HPV”, explica a médica. “Além disso, há uma melhor resposta imunológica em crianças e jovens”.
É por isso que, no caso de pessoas de 9 a 14 anos, só são necessárias duas doses da vacina. Já para mulheres e homens de 14 a 45 anos de idade, são três doses. Mesmo assim, a vacinação continua sendo primordial. “Em pessoas de até 30 anos, mesmo aquelas que já trataram lesões causadas pelo HPV, estudos mostraram redução de até 80% no risco de novas lesões ou reinfecções após a vacinação. O benefício se estende para aqueles de até 45 anos. O caso é que, sem vacina, essas pessoas seguem expostas a infecções e lesões cancerígenas”, continua Negra.
Revacinação é possível
Para as pessoas que já estão vacinadas com a quadrivalente, é possível se imunizar outra vez com a vacina nonavalente. Assim, haverá aumento na proteção contra mais cinco sorotipos do HPV. “Se a pessoa já estiver vacinada, estará protegida em 70%. Então, ela pode se vacinar com a nonavalente e aumentar em 20% a defesa do seu corpo. A única recomendação é que, nesse caso, seja respeitado o tempo de 1 ano entre uma vacina e outra”, explica a médica.
A Gardasil 9 já está disponível em todas as clínicas e centros de vacinação privados no estado de Minas Gerais.
Gardasil 9 vai para o SUS?
De acordo com a diretora médica e de vacinas do MSD Brasil, Marina Della Negra, é de interesse da farmacêutica que todas as pessoas tenham acesso à vacina de forma gratuita, mas o trâmite de aprovação pelo Ministério da Saúde ainda não foi iniciado.
Antes disso, está prevista a produção 100% nacional da vacina quadrivalente contra a HPV. “Nós temos uma parceria com a Butantan, em São Paulo, que recebe a tecnologia da vacina da MSD nos Estados Unidos e acelera a sua produção no país. É por isso que a quadrivalente se tornou possível de ser ofertada pelo SUS”, explica Negra.
“Depois que a quadrivalente for totalmente produzida aqui no Brasil, podemos começar a pensar na inclusão da nonavalente no sistema público. Por enquanto, a vacina é transportada dos Estados Unidos. E a avaliação do Ministério da Saúde não avalia apenas eficácia e segurança, mas também há uma análise de custo e benefício para o Governo”.
O que diz o Ministério da Saúde?
“Para que uma tecnologia em saúde seja fornecida pelo SUS, é necessário, via de regra, que haja registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), preço regulado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), no caso de medicamentos e vacinas e que ela seja analisada pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), que avalia aspectos como eficácia, acurácia, efetividade, segurança, custo-efetividade e impacto da incorporação ao SUS.
Retomar as altas coberturas vacinais, manter o Brasil livre de doenças já eliminadas e diminuir o índice de mortalidade por causas imunopreveníveis são prioridades da atual gestão do Ministério da Saúde. A Pasta retomou as campanhas de estímulo à imunização e lançou o Movimento Nacional pela Vacinação, uma ampla mobilização de toda a sociedade para vacinação contra a Covid-19 e outras doenças previstas no Calendário Nacional de Vacinação.
Em paralelo, em articulação com outras instituições, o Ministério da Saúde tem combatido a veiculação de fake news sobre vacinas, disseminadas nas redes sociais e na internet.
Além disso, em parceria com estados e municípios, a Pasta desenvolve ações de multivacinação pelo país com metas de 90 a 95% de cobertura vacinal. Para alcançar esses níveis, faz uso de estratégias como o microplanejamento, com a mobilização de lideranças e comunidades em ações ajustadas à estrutura de saúde e a realidade socioeconômica e geográfica local para aumentar o acesso da população às vacinas.”