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“Uso da cloroquina é potencialmente prejudicial”, dizem especialistas britânicos
Apontada até então como o remédio mais eficaz para recuperar pacientes com sintomas graves da Covid-19, o uso da hidroxicloroquina e da cloroquina no tratamento da doença ainda está longe de ser um consenso na comunidade médica.
Em artigo publicado nesta quinta-feira (8), no British Medical Journal, uma das publicações médicas mais respeitadas na Europa, dois farmacólogos britânicos condenam o uso indiscriminado do medicamento no combate ao novo coronavírus.
“Nenhum medicamento é garantido como seguro, e o amplo uso da hidroxicloroquina expõe alguns pacientes a danos raros, mas potencialmente fatais, incluindo reações adversas cutâneas graves, insuficiência hepática fulminante e arritmias ventriculares (principalmente quando prescritas com azitromicina). A overdose é perigosa e difícil de tratar”, ressalta o artigo assinado por Robin E Ferner, professor honorário de farmacologia clínica da Universidade de Birmingham, e Jeffrey Aronson, da Univesidade de Oxford.
O artigo médico reforça ainda que “nenhuma intervenção deve ser considerada eficaz. Mesmo medicamentos inicialmente apoiados por evidências de eficácia podem mais tarde provar ser mais prejudiciais do que benéficas.
“Precisamos de melhores ensaios clínicos controlados, randomizados e com alimentação adequada de cloroquina ou hidroxicloroquina. Por enquanto, exceto por medidas de suporte, a infecção pelo novo coronavírus é “essencialmente intratável”, destaca o artigo.
Cloroquina não é paracetamol
Em entrevista ao jornal francês Le Monde nesta semana, a imunologista Françoise Barré-Sinoussi, coautora da descoberta do vírus HIV e ganhadora do Prêmio Nobel de Medicina em 2008, também alertou sobre os riscos do uso amplo da droga e pediu responsabildiade aos médicos que, por acaso, prescrevam o tratamento.
“Cloroquina não é Doliprane (o paracetamol vendido na França). Ela pode ter efeitos deletérios nos pacientes e aumentar o risco para o coração. Sua eficácia não foi comprovada”, afirmou Barré-Sinoussi, que preside o comitê de pesquisa da Covid-19 na França.
Unicamp concorda
Ontem, a reitoria da Unicamp também se manifestou sobre o assunto. “As manifestações de apoio ao uso da hidroxicloroquina para Covid-19 se baseiam em evidências frágeis, não apoiadas por investigações sólidas que devem ser fundamentadas em ensaios clínicos controlados”, diz a nota.
“Não há, portanto, indicação formal dos mais respeitados órgãos de saúde pública do Brasil e do exterior para o uso profilático ou doméstico desses fármacos sem a estrita supervisão, responsabilidade médica e concordância explícita dos pacientes”, finaliza a Unicamp.
Fonte: O Tempo
Foto: Web