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Cidadania

Uma vida à procura de um ente querido: famílias não desistem de desaparecidos

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“Toda vez que vou fazer cenoura baroa, lembro da minha filha. Quando ela queria me ajudar no almoço de sábado, o prato era cenoura, arroz e carne moída. Essa situação de não saber o que aconteceu com ela é pior que a morte”.

O desabafo é de dona Marilucia Pereira das Chagas, 78, que sempre se lembra do dia 14 de fevereiro de 1991, quando soube do desaparecimento da filha do meio, Cláudia Maria Pereira Chagas, à época com 27 anos.

Assim como Marilucia, outras tantas famílias vivem em busca de informações de crianças, adolescentes e adultos que, de repente, sumiram.

Números em Minas

Segundo a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), de 2012 – quando foi implementada a atual metodologia de registros – a 2019, foram quase 78 mil casos de desaparecidos em Minas Gerais.

Dessas pessoas, ao menos 40 mil voltaram para casa – o número pode ser maior, já que algumas famílias não comunicam o retorno à polícia.

“Fomos à falência e nunca tivemos uma pista”

Cláudia morava com a companheira no bairro Colégio Batista, na região Leste de BH, quando sumiu. À família, a namorada contou que elas estavam tomando cerveja no imóvel, com outras pessoas, quando houve um desentendimento, e Cláudia saiu. No entanto, a mulher não contou aos parentes o dia exato do sumiço.

“Fui a programas de TV, participei do Mães da Sé (ONG de São Paulo que tenta achar pessoas desaparecidas), recorremos às religiões, e contratei detetive. Fomos à falência e nunca tivemos uma pista”, relata a idosa.

Maioria dos casos são resolvidos

Um mistério que intriga a família e também a polícia. De acordo com a delegada Maria Alice Faria, chefe da Divisão Especializada de Referência da Pessoa Desaparecida (DRPD) em BH, cerca de 95% dos casos de desaparecidos são resolvidos atualmente.

Mas há sumiços que ocorreram há décadas e continuam sem explicação – a Sejusp só tem dados consolidados de 2012 em diante. Apesar do tempo, a delegada afirma que nenhum caso é abandonado.

“Obviamente, os casos que acontecem hoje são emergenciais. Mas esses casos antigos são importantes, tanto que a unidade não arquiva, a gente deixa de stand-by para sempre buscar novos elementos, novas possibilidades de buscas. A gente vai até onde é possível”, garante Maria Alice.

Enquanto isso, no fundo, ainda há esperança de um encontro.“Se eu pudesse falar com a Cláudia, diria que nós a amamos infinitamente. Mesmo precisando acreditar que ela morreu para tentar amenizar a incerteza, eu fico olhando na rua e tentando encontrá-la a qualquer momento”, ressalta uma das irmãs de Cláudia, Lúcia Lemos, de 58 anos.

Como ajudar?

Quem tiver alguma informação sobre uma pessoa desaparecida pode falar gratuitamente com a Polícia Civil por meio do telefone 0800 2828 197.

Sumiço que deixa marcas profundas nas famílias

Não sair de casa sem avisar, olhar a cor da roupa, a cor do tênis, ficar sempre vigilante. O sumiço de Cláudia Maria Pereira Chagas, mesmo após quase 30 anos, ainda deixa marcas profundas na família.

“Eu fiquei uma pessoa insegura. Depois do desaparecimento, surgiu uma regra lá em casa: ninguém podia sair sem eu ver, fiquei neurótica. Eu tinha que ver as roupas com que meu marido e meus filhos estavam saindo. Sou professora, e, se saísse para uma excursão com os alunos, não relaxava. O desaparecimento pode acontecer em fração de segundo”, disse uma das irmãs de Cláudia, Lúcia Lemos, 58.

Na opinião da professora, ainda falta um cruzamento mais eficiente de dados de investigações de desaparecidos para que as possibilidades de localização aumentem.

“Minha irmã não é só mais um número de desaparecido, ela tem mãe, tem sobrinhos, tem irmãs. Toda mãe merece uma resposta, isso é justo. Qual fim o filho teve? A Cláudia não deixou de existir porque é desaparecida. Ela pode não ser viva para a sociedade, mas ela é viva para nossa família”, ressaltou Lúcia.

Os quatro perfis dos desaparecidos

“Genericamente, temos quatro grandes perfis de desaparecidos: os adolescentes, os idosos, o doente mental e o grupo do desaparecimento voluntário, que talvez seja o maior deles. São homens e mulheres que têm seus problemas e resolvem dar um tempo”, explica a delegada Maria Alice Faria.

A delegada Maria Alice Faria diz que a ocorrência de desaparecimento é muito especializada e passa por diversos setores na busca de informações. “São vários tópicos a serem preenchidos, com as características físicas e outras informações”, explicou a policial.

 

Fonte: Por Carolina Caetano –  O Tempo

Foto: Alexandre Mota

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