Saúde
Só uma picada: exame para Alzheimer mais perto da realidade no Brasil
Estudos apresentados durante conferência internacional atestam a eficácia do exame de sangue. Laboratório brasileiro já planeja testes no país
Uma única picada no dedo: é tudo de que precisa o possível novo exame para detecção de alterações de biomarcadores relacionados ao Alzheimer. Os resultados promissores – que apontam para uma revolução no diagnóstico e acompanhamento do tratamento da doença – foram apresentados durante a Conferência Internacional da Associação do Alzheimer (AAIC 2023), realizada em Amsterdã, na Holanda, na última semana. Com informações de Veja.
Hoje já se sabe que um dos principais biomarcadores para identificação da doença de Alzheimer é a presença de uma proteína chamada beta-amiloide no cérebro. Por isso, atualmente, tanto o diagnóstico como o acompanhamento da doença verificam e monitoram o acúmulo dessa proteína no organismo.
Isso é feito com procedimentos complexos, como exames de imagem cerebral (PET Amiloide) e análise do líquor através de punção lombar. Os exames de sangue mais modernos, uma vez validados e aprovados, ofereceriam uma opção rápida, não invasiva e econômica para esse propósito.
O teste mostrou-se altamente preciso, superando até o diagnóstico clínico. As análises demonstraram também que não há necessidade de armazenamento das amostras em baixa temperatura, assim como preparação ou processamento extraordinário do material, o que aponta um grande potencial de coleta e medição remota.
Destacou-se, inclusive, que há uma futura probabilidade de realização dos testes em casa, o que tornaria a detecção precoce e o acompanhamento ainda mais acessível para pacientes e seus familiares.
“As pesquisas que estão sendo desenvolvidas têm mostrado que esses exames fornecem informações semelhantes aos testes-padrão, o que os torna uma ferramenta valiosa na pesquisa e no tratamento da doença”, destaca o patologista clínico Helio Magarinos Torres Filho, diretor médico do laboratório Richet Medicina & Diagnóstico, que acompanhou a apresentação dos resultados no encontro.
Um dos estudos apresentados no congresso foi conduzido pela Universidade de Gotemburgo, Suécia. Nele, foram analisados 77 pacientes e, segundo os pesquisadores, os biomarcadores neurofilamento leve (NfL), proteína glial fibrilar ácida (GFAP) e tau fosforilada (p-tau181 e 217), associados à doença de Alzheimer, foram detectados de forma confiável nas amostras de sangue.
“Esses resultados permitem ainda vislumbrar, no futuro, um exame simples o suficiente que permita a coleta de sangue em casa de forma independente, aumentando a acessibilidade e permitindo o diagnóstico precoce e um melhor monitoramento de pacientes considerados de risco e/ou que estão em tratamento”, acrescenta Torres Filho.
Outro estudo apresentado no encontro, conduzido pela Universidade de Lund, também na Suécia, revelou que o exame de sangue teve uma taxa de acerto superior a 85% na identificação de alterações relacionadas à doença de Alzheimer, em comparação com a taxa de acerto, de aproximadamente 55% dos médicos da atenção primária.
Realidade brasileira
No Brasil, o Richet Medicina & Diagnóstico já está testando está nova tecnologia para futura implementação no país, buscando tornar o teste acessível e disponível. “Os exames de sangue para a doença de Alzheimer vão melhorar a precisão do diagnóstico e o tratamento adequado de pessoas com a doença”, afirma Torres Filho.
Entretanto, já há outros exames de sangue, que utilizam técnicas diferentes, sendo oferecidos por aqui. Os laboratórios Dasa, que possuem marcas como Alta (SP e RJ), Delboni (SP) e Sérgio Franco (RJ), trabalham com a espectrometria de massas, para detectar proteínas beta-amiloide – a 40 e a 42 – em pequenas concentrações, aliado ao teste PET amiloide Florbetabeno (PET-CT com Florbetabeno-18F), que auxilia no diagnóstico de Alzheimer medindo a carga de placa amiloide no cérebro por meio da leitura do radiofármaco que se liga à proteína beta-amiloide, presentes no encéfalo de pacientes com a enfermidade.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de pessoas com demência, incluindo o Alzheimer, em todo o mundo é estimado em 55 milhões. No Brasil, o Ministério da Saúde estima que há cerca de 1,2 milhão de casos, sendo a maioria ainda não diagnosticada oficialmente.