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Saúde

Roberto Kalil fala sobre como combater a enxaqueca

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No Brasil, 31 milhões de pessoas sofrem com enxaqueca - Créditos: Tatiana Maksimova/Getty Images

No Brasil, 31 milhões sofrem com a doença neurológica incapacitante

Imagine num período de um mês, passar 25 dias sofrendo com dores que te afastam do trabalho, do lazer, do convívio? Quem sofre de enxaqueca, sabe bem como é essa rotina. Dados recentes divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) apontaram a enxaqueca como uma das principais causas de incapacidade em todo o mundo. Esse é o tema do “CNN Sinais Vitais”, com Dr. Roberto Kalil, desta semana.

O “CNN Sinais Vitais”, com Dr. Roberto Kalil, vai ao ar neste sábado (9), às 18h30, na CNN Brasil.

“A gente pode resumir a enxaqueca dizendo que é um distúrbio do processamento neurossensorial. Esse distúrbio é cíclico, ou seja, ele acontece em crises e pode se tornar crônico com uma frequência muito maior. Mas o que está em jogo na fisiopatologia da enxaqueca é uma disfunção na forma como funcionam alguns centros que regulam a percepção. Por exemplo, da dor. Então, esses centros quais são? A gente tem órgãos como o hipotálamo que regula várias funções vitais e que faz parte da regulação também da dor e que vai estar envolvido na fisiopatologia da enxaqueca”, explica o Dr. Marcio Nattan, neurologista do Grupo de Cefaleias do HCFMUSP.

“Cerca de 15% da população do mundo tem enxaqueca, coisa de um bilhão de pessoas. No Brasil, 31 milhões de pessoas sofrem com enxaqueca. Esse adensamento no mundo é bastante parecido com o Brasil. Exceto, quando a gente fala de enxaqueca crônica, que é a enxaqueca que a pessoa tem 15 dias ou mais de dor por mês. Ela passa mais tempo com dor do que sem. No Brasil a taxa é mais comum do que o que a gente tem de números no resto do mundo, em torno de 5% da população”, completa Dr. Marcio.

A enxaqueca pode ser classificada de algumas maneiras. Basicamente, é possível separar a enxaqueca com aura e sem aura. A enxaqueca com aura vai acometer mais ou menos 20% das pessoas. Elas têm dificuldade para enxergar, o que pode apagar um campo de visão, pode ter pontos brilhantes, dificuldade para focar. Outros sintomas são formigamentos nos braços que sobem até a face ou dificuldade da fala. É preciso uma equipe multidisciplinar no tratamento da enxaqueca, inclusive utilizando a psiquiatria.

“Apesar de ser um diagnóstico neurológico, os aspectos psiquiátricos que a enxaqueca desencadeia, seja a dor crônica, incapacidade laboral, a incapacidade social, causam ansiedade, podem causar depressão ou outras questões. Assim como quadros psiquiátricos como depressão e estresse, que podem agravar a enxaqueca. Então, a gente sempre olha com muito cuidado, e com muita cautela quando alguém chega com esse diagnóstico, ou com uma queixa de dor de cabeça crônica, ou cefaleia, que a gente ainda não tem o diagnóstico fechado. Vamos fazer um diagnóstico aprofundado justamente para poder fazer uma abordagem correta e focar no melhor tratamento”, conta a Dra. Inah Proença, médica psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas.

Um alerta importante nesse episódio é que, apesar da angústia que a enxaqueca traz para o paciente, é fundamental buscar tratamento médico personalizado e evitar a automedicação.

“A pessoa que sofre com dor de cabeça tende a achar que isso é uma coisa normal e acaba recorrendo a tomar um analgésico. Muitas vezes ela desconhece que o risco de desenvolver o que a gente chama de cefaleia, por uso excessivo do analgésico. Com o tempo, a pessoa começa a perceber que ela não responde mais tão bem ao analgésico, cada vez precisa de mais e ela vai continuar usando aquilo. O objetivo do tratamento não é só parar de usar analgésico, mais do que isso, é que a pessoa não precise recorrer tão frequentemente ao analgésico”, explica o Dr. Marcio.

“A automedicação descontrolada é sempre um sinal de alerta para enxaqueca, para depressão, para qualquer outra questão. Esses medicamentos tomados de forma errada ou administrados em posologia errada podem trazer grandes consequências para o organismo. E o uso crônico dessas medicações pode muitas vezes agravar o quadro da enxaqueca”, destaca a Dra. Inah.

Sobre a automedicação, a medida utilizada pela medicina é que qualquer pessoa que use analgésicos 10 dias ou mais do mês, está fazendo um uso excessivo.

“Também tem a quantidade de comprimidos por dia. Nós temos pacientes que usam de 6 a 10 comprimidos de analgésico ao dia. Isso, além de piorar a frequência das dores de cabeça, também traz um risco para o estômago, para o fígado, porque esses medicamentos são metabolizados e acabam influenciando no sistema do trato gastrointestinal. A mensagem principal é que o tratamento preventivo vai fazer a frequência das dores diminuir”, diz o Dr. Alexandre Ottoni Kaup, pesquisador e neurologista do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein.

O “CNN Sinais Vitais” mostra também as novidades do tratamento preventivo para a enxaqueca, como a utilização da toxina botulínica e os novos medicamentos disponíveis para os pacientes. Além de dicas de hábitos diários para evitar as crises.

“Algumas atividades ajudam muito no tratamento da enxaqueca, como a atividade física. A gente tem dados importantes a respeito do cuidar do sono, que é fundamental. A gente vê uma associação muito próxima de distúrbios do sono, como a insônia, como apneia do sono, na piora da enxaqueca. Distúrbios como transtorno de ansiedade e depressão também estão relacionados à piora da enxaqueca. Então, o cuidado da saúde mental, boa alimentação, é uma promoção de saúde e pode ajudar”, diz o Dr. Marcio Nattan.

(Publicado por Lucas Schroeder, da CNN, em São Paulo)

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