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RACISMO NO FUTEBOL: Jogo é suspenso após times abandonarem o campo em protesto a denúncia ato racista de arbitro

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Os jogadores de PSG e Istanbul Basaksehir protagonizaram um momento histórico na tarde de hoje pela última rodada da fase de grupos da Liga dos Campeões ao saírem de campo após o quarto árbitro, o romeno Sebastien Coltescu, ser acusado de ser racista contra um membro da comissão técnica do time turco. A ação foi comandada por Demba Ba, jogador senegalês nascido na França do Istambul.

O jogo no Parque dos Príncipes, em Paris, foi interrompido pouco antes dos 15 minutos do primeiro tempo. A Uefa suspendeu a partida por tempo indeterminado. O placar ainda estava em 0 a 0.

A ofensa teria sido feita ao ex-jogador camaronês Pierre Webo, membro da comissão técnica do Basaksehir. Demba Ba, que estava no banco de reservas, foi flagrado pela transmissão interpelando o quarto árbitro.

“Você nunca diz: ‘este cara branco’, você diz ‘este cara’. Então me ouça, por que quando você menciona um cara negro você diz ‘este cara negro?”, questionou Demba Ba. Imediatamente, os atletas dos dois times foram conversar com o árbitro. Leonardo, diretor de futebol do PSG, também entrou em campo. Em imagens veiculadas pelo Esporte Interativo, Neymar e Mbappé disseram ao juiz da partida que não jogariam se o quarto árbitro  estivesse em campo. Após cerca de 15 minutos de indefinição, os atletas dos dois times saíram de campo.

O lateral brasileiro Rafael, do Istanbul, afirmou que não escutou a ofensa racista por parte do quarto árbitro da partida contra o PSG pela Liga dos Campeões na tarde de hoje, mas que o técnico presenciou. O romeno Sebastien Coltescu foi acusado de racismo contra um membro do time turco.
“O que aconteceu é que o quarto árbitro chegou para um assistente, não sei porque ele expulsou, porque ele é racista. Ele falou negro, sai daí, vai embora. O treinador escutou, eu não escutei. Eu vi que todo mundo começou a ir para cima, com certeza ele falou, saímos de campo. Dois ou três não queriam sair”, disse o brasileiro Rafael em entrevista ao Esporte Interativo.

Uefa divulga nota e diz que vai investigar o caso

“Na sequência de um incidente no jogo desta noite da UEFA Champions League entre o Paris SaintGermain FC e o Istanbul Basaksehir FK, a UEFA decidiu – após discussão com os dois clubes – de forma excepcional que os minutos restantes do jogo sejam disputados amanhã com uma nova equipe de arbitragem. A partida será iniciada às 18h55 do horário local. Uma investigação completa sobre o incidente
ocorrido será aberta imediatamente”, diz a nota oficial da Uefa.

“A UEFA está ciente de um incidente ocorrido durante o jogo desta noite da Liga dos Campeões entre o Paris Saint-Germain e o Istanbul Basaksehir e vai conduzir uma investigação aprofundada”, escreveu a entidade em sua conta oficial no Twitter. “O racismo e a discriminação em todas as suas formas não têm lugar no futebol”, completou.

A partida foi suspensa e será retomada nesta quarta-feira com uma outra equipe de arbitragem, às 18h55, no horário local, 14h55 de Brasília.

Paris Saint-Germain e Istanbul Basaksehir faziam confronto decisivo no Grupo H da Liga dos Campeões. O time francês precisava somente de um empate para assegurar classificação às oitavas de final da competição. O jogo estava 0 a 0 no momento da paralisação.

Relembre outros casos de racismo em campo e as consequências:

KALIDOU KOULIBALY

Em 26 de dezembro de 2018, o volante francês de origem senegalesa Kalidou Koulibaly, do Napoli, foi expulso contra a Inter de Milão, em princípio por aplaudir ironicamente o árbitro após levar um cartão amarelo, recebendo então o segundo. Após o jogo, Koulibaly revelou que tinha pedido ao árbitro três vezes para suspender a partida por causa das ofensas racistas da torcida da Inter, mas foi ignorado. A Federação Italiana puniu o Inter com dois jogos sem torcida, mas ignorou a apelação de Koulibaly e manteve a suspensão de dois jogos ao volante do Napoli. O jogador já havia passado outra situação semelhante em janeiro de 2016, quando foi ofendido pela torcida da Lazio. O jogo chegou a ser suspenso por alguns minutos, e retomado em seguida.

koulibaly, napoli x inter de milão — Foto: REUTERS/Alberto Lingria

koulibaly, napoli x inter de milão — Foto: REUTERS/Alberto Lingria

MARIO BALOTELLI

Outro jogador com casos seguidos de racismo no futebol italiano é o atacante Mario Balotelli. Um dos mais recentes ocorreu em janeiro deste ano, quando o agora jogador do Monza atuava pelo Brescia. A partida contra a Lazio, pela 19ª rodada do Campeonato Italiano, foi interrompida por alguns minutos após gritos racistas contra o jogador, vindos da arquibancada na qual estava a torcida visitante da Lazio. Avisado por Balotelli, o árbitro interrompeu o jogo por alguns minutos no primeiro tempo. O técnico da Lazio, Simone Inzaghi, chegou a pedir aos torcedores do seu time que parassem de cantar músicas contra o atacante do Brescia.

Balotelli conversa com juiz durante Brescia e Lazio após sofrer racismo — Foto: Reuters

Balotelli conversa com juiz durante Brescia e Lazio após sofrer racismo — Foto: Reuters

MOUSSA MAREGA

Em fevereiro deste ano, o atacante malinês Moussa Marega, do Porto, deixou o campo na partida contra o Vitória de Guimarães, revoltado com as ofensas da torcida do seu ex-time, onde ele atuou na temporada 2016/17. Parte da torcida fazia gestos imitando macaco quando o atacante pegava na bola. Após o jogo, Marega desabafou nas redes sociais contra a torcida rival e a arbitragem.

– Gostaria apenas de dizer a esses idiotas que vêm ao estádio fazer gritos racistas … vá se f… E também agradeço aos árbitros por não me defenderem e por terem me dado um cartão amarelo porque defendo minha cor da pele. Espero nunca mais encontrá-lo em um campo de futebol! VOCÊ É UMA VERGONHA!!!

Marega reage a insultos da torcida do Vitória de Guimarães no estádio Dom Afonso Henriques ao sair do jogo do Porto — Foto: EFE/EPA/HUGO DELGADO

Marega reage a insultos da torcida do Vitória de Guimarães no estádio Dom Afonso Henriques ao sair do jogo do Porto — Foto: EFE/EPA/HUGO DELGADO

SERGINHO

Em março de 2019, o atacante brasileiro Serginho, do Jorge Wilstermann, abandonou um jogo contra o Blooming, pelo Campeonato Boliviano, cansado de ser ofendido pela torcida rival sem o árbitro atender aos seus apelos para interromper o jogo. Aos 40 minutos do segundo tempo, novamente ofendido quando ia cobrar um escanteio, o brasileiro abandonou a partida. Atravessou o gramado e foi embora para o vestiário.

ARI

Também em março de 2019, o atacante russo Pavel Pogrebnyak, do Klub Ural, disse que “não via sentido” na presença de estrangeiros na seleção da Rússia, especialmente o brasileiro Ari, que joga em clubes do país desde 2010 e obteve a cidadania russa em julho de 2018.

“Não entendo mesmo por que Ari recebeu um passaporte russo. É risível que um jogador negro represente a seleção russa“, afirmou Pavel ao jornal Komsomolskaya Pravda. Pelas declarações, o jogador do Klub Ural foi punido pelo comitê de ética da Federação Russa de Futebol com uma multa equivalente a R$ 15 mil.

RAHEEM STERLING, HUDSON-ODOI E DANNY ROSE

Em março de 2018, torcedores da seleção de Montenegro proferiram ofensas racistas direcionadas aos jogadores ingleses Raheem Sterling, Hudson-Odoi e Danny Rose durante um jogo em Podgorica. Como punição, a Uefa determinou que Montenegro jogasse sua próxima partida pelas eliminatórias para a Eurocopa com portões fechados e estipulou uma multa de 20 mil euros.

Raheem Sterling Inglaterra x Montenegro — Foto: Reuters

Raheem Sterling Inglaterra x Montenegro — Foto: Reuters

PRINCE GOUANO

Também em 2019, o zagueiro francês Prince Gouano, do Amiens, se aproximou da lateral do campo e reclamou diretamente com um torcedor do Dijon, que o ofendia com palavras racistas, inclusive chamando-o de macaco. O jogo já passava dos 30 minutos do segundo tempo quando Gouano resolveu dar um basta na situação e deixar o campo.

“Estamos no século 21, isso é inadmissível. A cor não importa, somos todos humanos. A certa altura, percebi um torcedor fazendo barulho de macaco, olhei para ele e questionei: ‘É isso mesmo?’. Ele continuou e eu avisei ao juiz que iria levar meu time para o vestiário. Eu fiz isso não só por mim, mas por todos que são vítimas, porque isso não pode continuar. Isso tem que acabar”.

Prince Gouano, após o jogo, em entrevista à emissora beIN Sports, que transmitia a partida

Prince Gouano (à frente), do Amiens, deixa o campo revoltado com ofensas racistas da torcida do Dijon — Foto: Twitter/Dijon

Prince Gouano (à frente), do Amiens, deixa o campo revoltado com ofensas racistas da torcida do Dijon — Foto: Twitter/Dijon

Os jogadores das duas equipes chegaram a deixar o gramado em protesto, retornando cinco minutos depois para jogar o restante da partida, não sem antes emitir uma mensagem à arquibancada de que novas ofensas não seriam toleradas.

Após o jogo, o Dijon emitiu um comunicado oficial classificando como “imbecilidade” o comportamento preconceituoso do torcedor que xingou Prince Gouano. O clube francês afirma ter prestado queixa contra o seu próprio torcedor.

“Imediatamente, tudo foi feito para identificar o autor, que não tem lugar em um estádio de futebol. Esse comportamento é simplesmente inaceitável. Esses atos intoleráveis não têm lugar nem no campo nem fora dele. O Dijon inteiro dá o seu total apoio ao capitão do Amiens Prince Gouano. Este ato isolado mina os valores de respeito e solidariedade defendidos pelo Dijon. O clube decidiu apresentar uma queixa e quer uma decisão firme a ser tomada pelo tribunal contra este indivíduo”, dizia um trecho da nota divulgada pelo Dijon na época.

JORDI OSEI-TUTU

Em julho de 2019, o inglês Jordi Osei-Tutu, de 20 anos, emprestado pelo Arsenal ao Bochum, da segunda divisão da Alemanha, foi às lágrimas ao reclamar com veemência de uma ofensa racista sofrida durante o jogo contra o St. Gallen, da Suíça. O caso ocorreu nos minutos finais do primeiro tempo. Osei-Tutu chegou a deixar o campo, indignado, e com muito custo seus colegas conseguiram convencê-lo a disputar a segunda etapa.

Na nota divulgada após a partida, o St. Gallen pôs em dúvida a acusação de racismo feita por Osei-Tutu: “Nossos jogadores tratam uns aos outros com respeito, não importa sua origem, cor da pele ou religião. O jogador envolvido no incidente assegurou à diretoria do clube que ele respeitou a filosofia do clube no jogo de ontem contra o Bochum”.

Tinga Cruzeiro

Além da derrota para o Real Garcilaso na estreia da Libertadores, o Cruzeiro também saiu de campo lamentando as manifestações de racismo sofridas por Tinga. A torcida peruana fez imitações de macaco em sons e gestos, todas as vezes que o volante pegava na bola.

As ações de preconceito e hostilização chatearam o atleta, que em entrevista à TV Globo no final da partida disse que trocaria um título pela igualdade entre raças e classes e respeito.

Indignados, diversos atletas manifestaram repúdio às ações de racismo e apoiaram Tinga.

Em sua conta no Instagram, Alex, meio campo do Coritiba, escreveu: “Estou nessa com vc Tinga!! Oq eu vi hj foi um dos maiores absurdos q já vi em um campo de futebol. As pessoas responsáveis pela Conmebol devem tomar uma atitude o mais rápido possível”.

Companheiros do Cruzeiro também utilizaram redes sociais para demonstrar apoio ao jogador, além de pedirem uma punição ao clube peruano.

“Lamentável as coisas que aconteceram aqui no Peru ,estádio sem condições de jogo , seguranças 0 ,Racismo será que a conmebol se pronuncia?”, escreveu Júlio Babtista.

O zagueiro Dedé fez vários posts, reforçando a igualdade. “Estou revoltado com que aconteceu hoje aqui no Peru, cambada de racistas, Deus nos fez iguais!!”

“Somos negros, brasileiros e com muito orgulho da nossa cor e raça Eu @J_Baptista81#Tinga e outros negros estamos juntos #RACISMONUNCA”.

FONTE: UOL / GLOBO ESPORTE / JOVEM PAN

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