Racismo
Racismo: 83% dos negros já sofreram discriminação na área da tecnologia
A área de tecnologia tem sido o foco da maior parte dos trabalhadores que procuram por evolução de carreira e financeira diante dos salários e oportunidades oferecidas pelo setor. O que parece terreno fértil, contudo, só dá espaço para o mesmo perfil: homens brancos, sem deficiência e cisgêneros. As informações são do jornal O Tempo.
A pesquisa Potências Negras Tec, divulgada neste mês, informa que a situação dos negros que tentam entrar nas empresas de tecnologia piorou em um ano: o desemprego aumentou nove pontos percentuais, enquanto aqueles que ganham mais de R$ 5,4 mil diminuíram 15 pontos percentuais. Menos emprego acompanhado de menos dinheiro para essa parcela da população.
Chama a atenção o número de negros que relatam ter sofrido discriminação racial no ambiente de trabalho: 83% responderam que já foram vítimas do racismo, seja por colegas de trabalho (39%), por professionais de recursos humanos (35%) ou chefes (34%).
O estudo contou com a participação de 1.427 pessoas pretas (69%) e pardas (21%). Ao final das entrevistas, 56% dos entrevistados disseram ocupar cargos operacionais ou cargos de assistentes/técnicos e 29% estão desempregados – há um ano, o mesmo levantamento informava que aqueles sem emprego somavam 20% dos entrevistados.
A situação se inverte quando se fala dos brancos. Enquanto só 25% dos negros que trabalham com tecnologia ganham mais que R$ 5,4 mil, 63% dos brancos dizem ultrapassar essa faixa salarial. Já a taxa de desemprego daqueles mais privilegiados é de 18%, contra os já citados 29% dos negros.
Sônia Lesse, especialista em Diversidade e Inclusão, diz que a discriminação racial não é exclusividade do setor da tecnologia. Mas, algumas nuances fazem com que a área seja ainda mais segregadora.
“Muitas pessoas que estão em posição de decisão acabam não escolhendo as pessoas negras, porque entendem que elas não têm capacidade intelectual para fazer algo. O senso comum racista diz que você precisa ser muito inteligente para trabalhar com tecnologia”, diz.
A especialista também cita que a formação acadêmica das pessoas negras em comparação com as brancas pesa, tanto pelo lado institucional quanto pela idade.
“Muitas pessoas negras começam a trabalhar muito cedo, então entram na universidade mais tarde. Elas iniciam a vida trabalhista antes de começar a acadêmica. Como elas se formam mais tarde, depois têm dificuldade para conseguir até mesmo um estágio. Além disso, elas enfrentam dificuldades para ter acesso às universidades mais renomadas. Infelizmente, tem muita gente que contrata não pela capacidade da pessoa, mas pelo currículo”, afirma Sônia Lesse.
A especialista lembra que o setor da tecnologia justifica a não presença de negros em cargos de alta remuneração pela qualificação. Porém, os dados da pesquisa comprovam que isso não é verdade. Entre os que trabalham no mundo tec, a maioria tem ao menos curso superior.
“A pesquisa mostra que 50% das pessoas que responderam já tem ensino superior completo ou está além disso, com pós-graduação, mestrado ou doutorado. Quando a gente olha para o mercado de trabalho, apenas 45% das pessoas negras têm carteira assinada. Mesmo entre aquelas que já têm formação ou especialização, 56% delas ocupam cargos operacionais ou de assistência”, diz Sônia Lesse, especialista em Diversidade e Inclusão.
A pesquisa ganhou o nome de Potências Negras Tec e foi realizada entre os dias 11 e 26 de outubro de 2022 pela comunidade Potências Negras e Shopper Experience. Essa comunidade é uma jornada de desenvolvimento com foco na população preta e parda, co-criada por Profissas e Minuto Consultoria. O projeto começou em março de 2021 com o Potências Negras Summit, e segue com conteúdos mensais e experiências criadas especialmente para a comunidade negra.