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Que bom os contrários se encontraram!
Numa de suas frases mais sábias, Millor Fernandes fez uma correção no dito popular, aquele que diz: “Em terra de cego quem tem um olho é rei.” Na visão do jornalista, em terra de cego “o rei diz que tem um olho”, e todos acreditaram.
Mas nos dias de hoje, quando a informação e contrainformação estão se digladiando nas redes sociais e pela mídia convencional, a frase do escritor José Saramago está mais atual que nunca, quando afirmou, que “a única coisa mais aterradora do que a cegueira é ser a única pessoa que consegue enxergar.”
A tragédia que gerou a frase se passa, quando uma mulher mantém a capacidade de enxergar quando uma epidemia viral cega toda a população mundial. Ela assiste, em meio ao caos crescente, a comportamentos marcados pelo egoísmo, autoritarismo e violência em todas as suas formas.
Por isso, meus amigos, vamos começar a nos acostumar, pois o mundo nunca mais será o mesmo pós-COVID 19. Precisamos aprender rapidamente a transformar nossa angustia de hoje numa oportunidade e não desperdiçarmos a oportunidade para repensar nossas vidas e valores.
Talvez essa seja a última oportunidade. No rastro do susto com as primeiras notícias do coronavírus, o mundo começou a se mexer e sem notar, ricos se nivelaram a pobres, poderosos se aliaram aos mais fracos, raças e nações inteiras se uniram contra um único inimigo sem a necessidade de alianças espúrias, interesseiras ou por ganhos inescrupulosos.
Hoje podemos entender melhor o que os astronautas, que passaram meses nas estações orbitais disseram, quando voltaram “à mãe terra”. Todos, sem exceção, se sentiram estranhos, pois não reconheciam mais suas nacionalidades.
Os astronautas se sentiam como terráqueos, representantes de uma única raça, sem fronteiras ou limites estabelecidos pela humanidade como a melhor forma de se conviver em paz.
Olhe ao seu lado! Da janela é possível ver as transformações que chegam mansas, como aquelas nuvens que se formam durante o dia. Pais já conversam mais com seus filhos, amigos estreitam suas relações trocando informações e o humor deixou de ser “de ataque” e nossos desejos são mais complementares.
Nossas qualidades humanas se afloraram e nos tornamos mais solidários, porque agora, pela primeira vez, temos um objetivo comum: derrotar um vírus maligno e seus efeitos que causam sofrimento e angústia.
Vizinhos já se conhecem pelo nome, a saudade se transformou em sentimento verdadeiro e não mais obsessão por ter alguém sob controle. As falsas religiões e seus profetas foram desmascarados e a fantasia dos políticos caíram pelo chão deixando expostas suas reais intenções e desejos pelo poder a qualquer custo.
Não! Realmente não mais voltaremos à normalidade como a conhecemos. Acho, sinceramente, que Deus é estranho em seus planos, mas surpreendente e preciso em seus objetivos e consequências, pois de uma só vez conseguiu neutralizar o flagelo do egoísmo coletivo, numa união de todos os interesses mais importantes num só: a preservação e a sobrevivência da nossa espécie.