Colunistas
“Panem et Circenses”, uma ode Nova-Serranense
Eu acho que deveria me candidatar a prefeito. Sim, eu sei que Euzébio já ganhou essa eleição, isso são favas contadas, mas é por isso mesmo que eu acho que deveria me candidatar.
Porque seria algo que eu me debruçaria sem o estresse que uma candidatura com reais chances de competição me traria. Mas acima de tudo seria uma candidatura para fazer o povo pensar.
Pensar, a arte esquecida por muitos e nunca conhecida por tantos. Principalmente nesse mundo virtual, uma galáxia um tanto distante para mim.
Meu último texto aqui nesta coluna foi bastante criticado e eu achei isso ótimo, pois mostra que o texto foi bem lido. Confesso que o fato de grande parte dos críticos acharem que sou funcionário deste Popular, ou que minhas opiniões refletem a visão do jornal, me leva a um profundo e prazeroso divertimento.
A ignorância mediana da população é algo estrutural na sociedade brasileira e remete a décadas de descaso com a educação. Não podemos culpar única e exclusivamente aqueles que confundem alhos com bugalhos.
Mas concentro as minhas críticas em Nova Serrana, onde alguns ainda possuem a terrível insistência de agirem como se vivessem nos tempos áureos e românticos do Cercado.
Além do descaso com a educação, ainda recai sobre a ignorância da população o fato desta ter sido alimentada com pão e circo praticamente desde a fundação da cidade, em 1953.
Panem et Circenses, é a expressão em latim que nomeia a manipulação das massas no império romano através da comida, com o pão sendo distribuído pelo império, e o divertimento oferecido através do circo. Tudo para que a plebe, a classe popular, ficasse desinteressada nos problemas políticos e se concentrasse apenas naquilo que os governantes ofereciam. Uma grande tentativa de distrair o povo. O mesmo que nossos políticos fazem, como bem retratou o jornal O Popular em seu editorial “Eu queria eleições todos os anos!”
Confesso que não sou de sair de casa, ainda mais agora com toda essa situação calamitosa.
Vez ou outra dou uma curta caminhada, às vezes vou até a Lanchonete do Vandinho comprar coxinha para comer em casa (aliás, estou ansioso para provar o patê de frango que me recomendaram), ou saio para passear com meu cachorro Rufus.
Esses dias encontrei na rua um conhecido que não via há anos. As primeiras e únicas coisas que ele me perguntou foram:
“E aí, trabalhando muito?”
“Trabalhando de quê?”
“Trabalhando onde?”
O alemão Max Weber, um dos fundadores da sociologia no século XIX, dizia que o trabalho dignifica o homem. Em Nova Serrana o trabalho parece ser o próprio homem, pois não há lugar para diferenciação. Pois o pensamento coletivo da cidade parece alheio a todo o resto que compõe a vida humana.
Cabe ressaltar que na Roma Antiga a plebe funcionava dessa exata maneira. A fome era saciada pelo pão dado pelo império, e o circo funcionava como as novelas, os jogos de futebol, o carnaval e os realitys shows da tv funcionam nos dias atuais. A plebe vivia em prol do trabalho, sem questionar nada que acontecia na sociedade, enquanto os imperadores usufruíam de toda riqueza e conforto.
Além de toda ignorância e subserviência cega por parte da população, a política em Nova Serrana é perigosíssima. Não dá pra saber o que o submundo dos políticos pode ser capaz de fazer em detrimento das críticas que recebem. É um solo muito pantanoso.
Mas se eu me candidatasse, eu defenderia causas que considero nobres. A primeira seria obviamente o meio-ambiente, por motivos que já citei várias vezes aqui nessa coluna. A segunda seria mostrar para o povo que é possível sim fazer uma campanha política séria e sem ataques a opositores, usando de inteligência e discutindo problemas nunca antes discutidos na cidade.
Mas a política é algo exaustivamente enfadonho para mim. Prefiro observar atentamente o comportamento em volta das suas nuances.
Na noite da última terça-feira (11) Rufus ficou latindo irrequieto até tarde, o motivo era um foguetório na cidade. Ouvi rumores de que a pirotecnia estaria ligada ao PC, aquele mesmo que governou Nova Serrana no passado.
Coincidentemente PC são também as iniciais de Pão e Circo.