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Educação


Pandemia agravou violência em escolas, alertam especialistas

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Na última quarta-feira (6/4), em Uberaba, no Triângulo, um aluno de 11 anos levou um canivete para a escola e deu vários golpes em uma colega, da mesma idade. Apreendido, o garoto disse à Polícia Militar que pretendia matar a colega, que frequentemente o chamava de “viadinho” e “gayzão” e, às vezes, o agredia fisicamente. As informações são do jornal O Tempo.

No mês passado, um adolescente de 13 anos entrou em um colégio particular de BH com uma granada. Já em Sete Lagoas, na região Central, por conta de uma fofoca, duas jovens de 12 e 14 anos brigaram na porta de uma escola – e uma delas foi esfaqueada e ficou em quadro grave (veja mais abaixo).

Os episódios de extrema violência, em intervalo tão curto, acendem o alerta para o atual contexto da violência nas escolas, que segundo especialistas foi agravado pela pandemia.

“A literatura já dizia isso, e as pesquisas também, que, em outras crises que o mundo teve anteriormente, houve um grande estrago do ponto de vista da saúde mental, o que na educação chamamos de sofrimento emocional em uma geração que nunca viu uma situação como essa pandemia”, disse a líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Luciene Tognetta.

Segundo ela, que é professora do Departamento de Psicologia da Educação, esse sofrimento causado pela pandemia foi retratado em estudo da Unesp realizado com quase 2.000 estudantes paulistas, em 2021. “Vimos que esses índices são altos e que as meninas foram mais afetadas que os meninos. Entre aqueles que se autodeclararam pretos, os problemas de sofrimento emocional são ainda maiores”, enfatizou.

Para Luciene, tudo isso reverbera nesse momento que muitas escolas estão vivendo. “A escola já não estava preparada para lidar com um tema que é urgente. A violência na escola se combate promovendo situações de convivência, ajudando esses meninos a repararem as suas ações, fazendo com que participem, opinem, avaliem. O problema é que, antes, a gente negava isso aos alunos. Não por maldade, mas por falta de políticas públicas que nos ajudassem a formar professores para essas questões. E (a saída) não é mandar fazer curso em videoaula, mas sim abrir espaço para discussão”, argumentou.

Sem distinção

A professora acrescenta que o problema afeta as redes pública e privada. “As escolas vão explodir, infelizmente. A pandemia acelerou bastante (a violência), trouxe momentos de muita dor e tristeza, então isso foi bastante complexo, o que então indica que as escolas precisam ter um pouco mais de acolhida, tempo, perseverança e calma”, concluiu.

Alunos mais vulneráveis e menos tolerantes

A neuropsicopedagoga e diretora do Colégio Batista Mineiro de Sete Lagoas, Christiane Silva, ressaltou que, após quase dois anos de atividades remotas, muitos estudantes voltaram ao ambiente físico da escola mais vulneráveis e intolerantes – não houve registro de caso de violência na unidade. Conforme ela, isso trouxe um impacto para o convívio social de crianças e adolescentes.

“Há maior dificuldade para ouvir e esperar a vez. Isso gera pequenos conflitos, como em uma brincadeira na qual todos querem ser o primeiro”, citou.

Para a especialista, o período de isolamento afetou as habilidades sociais que são fundamentais para a convivência. “Além de estarem mais distantes desse convívio, estavam mais próximos a computadores, games, jogos e mais parados também, sem poder praticar uma atividade física. Então é uma série de fatores que trouxe esse estudante para uma situação mais introspectiva também”, acrescentou.

Mais famílias têm acionado o núcleo de psicólogos da escola para resolver conflitos, disse ela. “A gente lidava com uma geração mais imediatista, impulsiva, agitada e ansiosa. Isso se agravou na pandemia de Covid”, observou.

Números de ocorrências

Em 2021, ano de retorno gradativo às atividades presenciais, houve 88 casos de lesão corporal e outros 128 de agressão em escolas. Em 2020, foram feitos 95 registros do primeiro crime e 164 do segundo, conforme dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública.

Em 2022, com a volta total das atividades – exceto na rede do Estado, cujo ano letivo começa hoje por conta de greve –, houve 68 ocorrências de lesão corporal e outras 82 de agressões. Os dados são próximos aos do último ano antes da pandemia. 2019: 72 registros de lesão corporal e 113 de agressões.

Outro caso

Na última quarta-feira (6), a Polícia Civil de Minas Gerais informou que um inquérito da corporação investiga ameaça de “massacre” pichada em parede de um banheiro de colégio particular da região Nordeste de BH. Dois adolescentes foram identificados como suspeitos, e o diretor da instituição prestou depoimento.

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