A batalha pela vida agora dá lugar aos planos de pai e filho, que um dia foram adiados. Conhecer os avós, tios e primos, ir à escola, participar de aulas de natação e de futebol, além de assistir aos jogos do Cruzeiro, time do coração, no Mineirão, são alguns dos desejos do engenheiro Rafael para o seu filho, o Léo. “A expectativa é enorme, mas ainda precisamos dar tempo ao tempo, esperar ele sair do oxigênio. Mas tudo o que eu puder fazer para ele enquanto pai, eu vou fazer”, garante.
Leonardo Drosghio deixou o hospital no dia 7 de agosto, segunda-feira que antecedeu o domingo de Dia dos Pais. Foto: Daniel de Cerqueira / O Tempo
Planos que sempre acompanharam Rafael em suas visitas ao filho, liturgicamente e diárias, no CTI Neonatal da Santa Casa de Belo Horizonte. “Enquanto o Léo estava no hospital, o Rafael sempre ficava comentando sobre aquilo que queria fazer com ele. Citava as brincadeiras, os lugares em que ele queria levá-lo”, relata a assistente de logística, Stefany Drosghio, de 29 anos, esposa de Rafael e mãe de Leonardo. Para ela, um sentimento de ansiedade e um desejo de cuidado que aproximaram pai e filho. “Eles se conhecem muito, entendem um ao outro. Então ele poder levar o Léo para a casa no dia dos pais é um merecimento pelo pai exemplar que ele é”, completa Stefany.
Em casa, o menino, agora com 58 centímetros e 6,020 kg, continuará com o tratamento iniciado no hospital, que permitirá o seu desenvolvimento, bem como o de seus pulmões – comprometidos com o nascimento prematuro. Léo permanece com o tubo de traqueostomia, cuja função é levar o ar até os pulmões no processo de respiração. O bebê também será assistido pelo Serviço de Atendimento Domiciliar da prefeitura de Belo Horizonte. Rotineiramente, profissionais da saúde irão até a casa da família para acompanhar a evolução do garoto.
“Agora, em casa, vamos poder aproveitar ele ao máximo. E eu tenho certeza de que nesta nova etapa o Léo vai conseguir se desenvolver ainda mais”, afirma o pai. O menino não possui uma previsão para a retirada do tubo de traqueostomia, o que irá depender do seu processo de evolução.
A família precisou alugar uma casa no bairro Graça, em Belo Horizonte, para poder receber o filho. Foto: Daniel de Cerqueira / O Tempo
O abrigo
A casa, ainda vazia, com móveis apenas no quarto, será mais um abrigo para o menino Leonardo. “Nós tínhamos tudo programado. Iríamos para um apartamento. Mas para o Rafael vir para a casa, precisávamos de um lugar mais arejado. Então tivemos que alugar essa casa”, conta o pai.
Rafael e Stefany tiveram apenas três dias para encontrar e resolver todas as burocracias para receber o filho no novo lar, no bairro Graça, região Nordeste da capital. O prazo foi entre a sexta-feira (4 de agosto), dia em que receberam a notícia da alta do Léo, e a segunda-feira (7 de julho), quando o menino deixou a Santa Casa de Belo Horizonte.
O lar aos poucos vai tomando forma. Os móveis passam a ocupar os espaços vazios. Um preenchimento necessário, mas ainda secundário diante dos desejos do pai. “O que eu quero mesmo é ver o Léo correndo pela casa e a voz dele tomando conta desse espaço”, diz, entre sorrisos, Rafael.
A luta pela vida
“Ele segurou minha barriga chorando, e disse que era para eu ter forças, pois queria segurar o nosso filho no colo”. O relato Stefany Drosghio narra a prece feita por Rafael Souza pela vida do primeiro filho do casal, que se encontrava em risco durante a vigésima primeira semana de gestação. Três semanas após a súplica, o nascimento do bebê com apenas 29 centímetros e 780 gramas. Um quadro de prematuridade extrema que fez com que o menino permanecesse internado no CTI Neonatal da Santa Casa BH durante sete meses.
O engenheiro Rafael Souza visitou o seu filho Leonardo todos os dias em que ele esteve internado, durante sete meses. Foto: Daniel de Cerqueira / O Tempo
Na vigésima primeira semana, o processo de dilatação teve início, o que colocou a vida do bebê em risco. A mãe precisou ser hospitalizada. Prostrada em uma cama da Santa Casa BH, ela resistiu por mais três semanas, até o nascimento de Leonardo. “Se ele tivesse nascido quando a dilatação começou, a chance de sobreviver era mínima. Foi uma luta, dia após dia”, narra o pai do garoto.
Foi também durante o período em que esteve no equipamento em que ele se desenvolveu, cresceu e ganhou peso. “O médico dizia pra gente que a recuperação só dependeria dele, e graças a Deus ele foi se recuperando”, conta o engenheiro Rafael Souza. Foram 182 dias em observação ininterrupta, devido ao quadro clínico, considerado grave, do garoto, e mais 34 dias de cuidados intermediários.
O bebê, que nasceu na 25ª semana de gestação, ficou sete meses internado na Santa Casa de BH. Foto: Daniel de Cerqueira / O Tempo
Rotina de cuidado que, muito além da aproximação, reforçou a conexão entre pai e filho. “Isso me surpreende muito. Eles se conhecem muito, se entendem um ao outro. O Léo sabia quando o pai dele chegava, e o Rafael parecia que sentia aquilo que o Léo estava precisando”, conta Stefany.