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Economia

Oportunismo? Preços devem continuar subindo em dezembro

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Dezembro costuma ser um mês em que os brasileiros se deparam com aumento de preços por todo lado. O décimo terceiro salário chega aos bolsos dos trabalhadores, provocando um aumento na demanda e, consequentemente, aumento nos valores dos produtos. Mas em um ano atípico, em que o acumulado da inflação ultrapassa os 10% e a renda das famílias fica extremamente achatada, o mesmo deve se repetir neste mês? As informações são do Jornal O Tempo.

Professor de economia do Ibmec-BH, Felipe Leroy acredita que a inflação deve ser elevada em dezembro. “Existe uma pitada de oportunismo por parte dos ofertantes. Muitos entraram na espiral da pandemia, justificando que falta tudo e aumentando os preços”, diz o especialista, lembrando que o dólar alto, o fechamento de fábricas durante a pandemia e as políticas governamentais ainda influenciam a escalada de preços. “O reflexo disso é que as famílias perderam poder de compra e qualidade de vida”.

A escalada de preços nos supermercados afetam as famílias, mas impactam sobretudo todas as pequenas empresas que atuam no ramo alimentício. Proprietária do buffet Fora do Comum, Camila Bitencourt explica que a inflação alta complica a vida de quem precisa de tempo para planejar as ceias que são vendidas no Natal e no Réveillon.

“Todo final de a gente lida com um grande aumento de preços, mas normalmente a gente sabe lidar com isso. Eu fecho o cardápio em agosto, porque preciso fazer testes e fichas técnicas com valores. A gente planeja conforme uma porcentagem estimada de aumento de preços, mas neste ano está mais complicado. Estamos no início de dezembro porque já atingimos a porcentagem que havia sido calculada”, relata Camila.

O principal drama são as carnes, especialmente bovinas. “Já estou atrás de fornecedores e antecipando meus pedidos. Mas corro o risco de ter pedidos no fim do mês em que vou ter que decidir ter um menor lucro ou não vender, por causa do aumento dos preços”, explica.

O mesmo problema é vivenciado por Rachel Dornas. Ela é proprietária do buffet Ateliê de Delícias que, desde 2011, comercializa ceias de natal completas – de petiscos à sobremesa. “Essa é, sem dúvida, a pior fase que passamos durante este tempo. Nunca vivenciei nada parecido com essa alta de preços. Estamos vivendo como na década de 80, 90, quando vejo uma promoção corro para fazer estoque porque cada dia está um preço”, lamentou.

Dornas acredita que este ano o Natal será econômico para a maioria das famílias. Ela conta que, para manter os pedidos, reduziu a margem de lucro e tem feito pesquisa no supermercado em busca de ofertas. No cardápio dos clientes, ela acredita que uma forma de baratear os pedidos será com a substituição de produtos. “Em vez de salpicão, pode-se servir uma maionese, adotar uma farofa mais simples. Além disso, uma das coisas que voltarão à mesa é o frango assado”, opina Rachel.

Consumidor deve pesquisar para encontrar melhores preços

Gestor do site de pesquisas Mercado Mineiro, Feliciano Abreu acredita que os preços de itens da cesta básica, por exemplo, não terão um aumento exponencial em dezembro. “Mas cair é impossível, porque os preços já estão pressionados há muito tempo”, avalia.

Ele aconselha que os consumidores deixem para fazer as compras a partir do dia 15 de dezembro, quando os preços da ceia tendem a estar melhores. “Bem na véspera do Natal você corre o risco de não achar bons produtos. Mas a partir do dia 15, a concorrência de ofertas nos estabelecimentos tende a acelerar”, observou.

Para encontrar os melhores preços, a dica é pesquisar antes de sair de casa. Atualmente, os principais supermercados, sacolões e açougues contam com sites e aplicativos onde é possível verificar os valores dos produtos. O Mercado Mineiro apurou que a variação de valores nas carnes, por exemplo, pode chegar a quase 190% entre os açougues de BH.

Questões estruturais pesam na inflação

Problemas enfrentados pela indústria devem influenciar no aumento de preços neste fim de ano, segundo o professor de economia da PUC Minas Frederico Sande Viana. “A demanda está um pouco fraca por causa da queda na renda, mas a oferta está muito desorganizada ainda. Com uma melhora na demanda por causa do décimo terceiro, vai ter uma pressão inflacionária”, explica.

Mas segundo o professor, não são apenas os problemas conjunturais (como petróleo caro e mudanças climáticas) que provocam a inflação alta. As questões estruturais do país impedem que venham investimentos externos e o dólar acaba se mantendo nas alturas, impactando toda a cadeia econômica.

“Nossa inflação está ligada a uma questão fiscal associada a um baixo crescimento econômico. É preciso fazer uma reforma tributária, porque é preciso ter um equilíbrio fiscal para passar credibilidade ao mercado”, argumenta Viana, lembrando que o aumento nos gastos públicos também pressiona a inflação.

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