Colunistas
O pouquinho que é demais
Num final de tarde de 2015, fui buscar duas estudantes de nutrição na faculdade de Bom Despacho, onde faziam o último período de um curso ao qual nunca dei muita importância.
Na verdade, na minha concepção a profissão de nutricionista era uma variante de qualquer curso de culinária onde se aprendia como fritar um ovo sem utilizar óleo, cozinhar uma carne sem os malefícios da gordura ou como saborear uma fruta ou suco tirando o maior proveito de suas vitaminas.
As duas estudantes vinham conversando todo o tempo sobre o que aprenderam, suas noções e cálculos que mediam os efeitos dos alimentos nos organismos humanos e um monte de coisas, que apenas aumentavam minha vontade de comer uma picanha maturada regada a cerveja gelada, sem limites ou contra indicações.
Na verdade, acompanhei as duas durante muito tempo a ponto de me sentir integrado aos modernos conceitos da boa alimentação. Eu sempre ouvi com muita atenção as conversas e cheguei a participar de alguns estudos com a participação de outras colegas, que se reunião para a realização de trabalhos exaustivos. Mesmo sem muito interesse na matéria acabei aprendendo muitas coisas.
O mais importante deste texto que ora escrevo é a relação do tempo, entre o ano de 2015 e o ano de 2021. Uma das conversas mais impressionantes entre as duas foi a afirmação que em poucos anos o mundo contabilizaria mais mortos pela obesidade do que pela fome, tão combatida pelas organizações não governamentais, governos e instituições.
Elas diziam com firmeza, que o mal causado pela má alimentação deixa sequelas irreversíveis, principalmente quando associadas à ignorância de pais e mães que consideram mais importante empanturrar seus filhos com batatinha frita e doces do que reeducar seus hábitos alimentares e ensiná-los o caminho da alimentação saudável.
Estas duas estudantes levavam tão a sério seus conhecimentos e descobertas, que criaram o seu próprio negócio de nutrição depois de formadas para fazer o serviço completo: reeducar as pessoas numa alimentação saudável, ensiná-las a produzir alimentos saborosos e com valores nutricionais balanceados e oferecer conforto aos balofos e gordinhos que não se assumiam como possuidores de parentesco com a classe paquidérmica da natureza.
O tempo passou, a modernidade avançou, as vaidades cresceram, os desejos por um “corpiccio” malhado aumentaram e a tecnologia aplicada na atividade nutricional virou uma espécie de moda e hoje ocupam destaque nos noticiários nacionais e internacionais.
Estou escrevendo tudo isso para mostrar, que existem aptidões além dos livros e ensinamentos catedráticos. Da afirmação que ouvi das duas (então estudantes), hoje essas importâncias se confirmam como uma realidade mundial, ou seja, pela primeira vez na história humana as doenças infecciosas matam menos pessoas do que a idade avançada e suas degenerações.
Pela primeira vez na história do homem a violência mata menos pessoas que os acidentes e pasmem: pela primeira vez na história, a obesidade, o excesso de peso, a gula, a má alimentação, os maus hábitos alimentares matam mais “em todo o planeta” do que o flagelo da fome.
Entenderam?
Claro que não entenderam, porque precisamos mudar os valores que a indústria alimentícia impõe sobre a população, precisamos saber, que um pote de margarina não atrai formigas ou insetos porque são carregados de substâncias maléficas à saúde de qualquer ser vivo e assim acontece com milhares de alimentos maliciosamente expostos nos supermercados.
Finalizando, aprendi com as duas estudantes (que hoje são profissionais altamente qualificadas), que precisamos mudar não apenas os maus hábitos, mas também a cultura alimentar que nos acostumamos. Precisamos parar de alimentar a preguiça, as manias de pensar “que um pouquinho não faz mal” e nos postarmos como seres inteligentes e capazes de determinar o melhor caminho para a nossa saúde, a dos nossos filhos e da nossa raça.
Pense nisso, quando estiver com um brigadeiro ou uma coxinha gordurosa na boca!