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Notícias lastimosas ou tragédias anunciadas!
Perante todos os temores da vida, os mais diversos, a morte é o único que indubitavelmente experenciaremos. Em função dessa inevitabilidade, a melhor maneira de se relacionar com a ideia do perecimento, talvez seja esquecer sua existência.
Mas neste início de 2019, a “senhora sombria empunhando sua foice”, assim caricatamente a retratamos, parece decidida a impedir que os brasileiros a ignorem. Vivemos uma sequência de notícias lastimosas; tragédias, algumas anunciadas, que desassossegam nossas gentes.
Primeiro foi o rompimento da barragem de Brumadinho, déjà vu, nefasta reprise do que outrora fora vivenciado em Mariana; após a catástrofe, numa reunião com os ministros Bento Albuquerque (Minas e Energia) e Ricardo Salles (Meio Ambiente), Fábio Schvartsman, presidente da Vale, convocou a imprensa para informar que a empresa decidiu acabar com todas as barragens semelhantes às que se romperam em Mariana e Brumadinho. Restam dez.
Serão extintas em até três anos. “Um esforço inédito de uma empresa de mineração no sentido de dar resposta cabal à altura da enorme tragédia que tivemos em Brumadinho”, declarou o mandatário da Vale, sem se dar conta de que suas palavras têm, para a companhia que dirige, o peso de uma autodenúncia.
Sendo assim, entre mortos e desaparecidos, a Vale tomou a decisão correta, porém com um atraso que custou mais de três centenas de vidas. Para tornar o cenário ainda mais inquietante, o governo sustenta que o número de barragens da companhia com potencial para produzir estragos é muito maior. Ou seja, se essa providência tivesse sido adotada há três anos e dois meses, quando a barragem de Mariana tornou-se uma tragédia de repercussão planetária, o reservatório de lama de Brumadinho teria deixado de existir antes de virar uma mina assassina, com um número de vítimas jamais visto.
Posteriormente, assistimos atônitos, o fim prematuro, dos sonhos daqueles adolescentes rubro-negros, no fatídico incêndio no Ninho do Urubu, centro de treinamento do Flamengo. A utopia de uma ascendente carreira futebolística, interrompida de modo trágico, em circunstâncias que precisam ser averiguadas, para o pleno esclarecimento e apuração, e quiçá punição, dos responsáveis do ocorrido; numa semana em que a Cidade Maravilhosa foi assolada por chuvas torrenciais, vitimando sete moradores.
Mas bem sabemos que no Brasil, as “tragédias” oriundas das alterações climáticas, como as precipitações, embora por vezes, previsíveis, dada a inconsequência de tantos, vão pra cota de “São Pedro”, e nos acostumamos, a contabilizar as vítimas fatais em decorrência do período chuvoso, sem de fato, buscarmos dar resolutividade ao dilema.
Com tantas mortes decorrentes de medidas procrastinadas, o acaso vitimou prematuramente, num acidente de helicóptero, uma das vozes que se esforçavam para demonstrar que a corrupção e menosprezo matam no Brasil.
O incidente envolvendo o renomado jornalista Ricardo Boechat, é outro fato, que denota as peculiaridades desse 2019; em seu último comentário na Rádio Bandeirantes, ele citou a reportagem do jornal O Globo, cujo título era: “Negligência e impunidade marcam tragédias no país.” E interpretou o sentimento dessas gentes, ao censurar a benevolência para com os responsáveis por desastres – agentes públicos e privados – cuja ação ou omissão criminosa se manifestam ou têm a conivência dos Poderes Executivo, Legislativo e também no Judiciário.
Que ao menos aprendamos com nossos sucessivos erros, esperançosos de dias mais amenos.
Abençoada semana, Graça e Paz.