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Normal de novo

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Caos rima com roseiral e não deve ser por acaso. Após as queimadas, por mais que sejam devastadoras, o solo fica fértil e a vida, paulatinamente, começa a vingar. Com mais visgo, desafiando a tragédia.

Vingar, no caso, é dar o troco. Prosperar. A vida não vinga fazendo mal, vinga para sobreviver. Descobrir novas formas de existir… Resistir. Talvez seja essa uma das essências da vida: vingar.

Tragédias, as mais variadas possíveis, existem para testar e aperfeiçoar essa qualidade. Limar os seres vivos é função de qualquer processo de evolução. Adequando-os aos ambientes.

Até que nascessem pernas, asas. Até que o pensar fosse corrente, nada foi obtido sem a ausência de dor, seja lá em qual nível for.

A expressão da moda é a tal “do novo normal”. A nova ordem que se instituirá num mundo pós-pandemia. Os efeitos dela nos vários setores da vida, desde a relação entre as pessoas, passando por questões de saúde, as econômicas, as de fundo emocional e psicológico, dentre inúmeras outras.

Como vai ser ao certo, ninguém sabe. O fato é que estamos reaprendendo, engatinhando ainda. Testando limites, sentindo o solo para, só depois, firmar o passo e caminhar.

Uma das coisas que me chamam a atenção nesse momento é a capacidade de funcionarmos como “organismo”. Milhares são os exemplos – iniciativas espontâneas – de ações realizadas em rede que estão amenizando o sofrimento de muita gente, que está desamparada de alguma forma.

É a vida vingando em meio ao processo. Rosas que brotam em meio ao caos, aqui e ali. Vida que resiste. Evolui e dá o troco à tragédia.

Somos protagonistas de um momento histórico. Uma página significativa na evolução humana, em relação aos últimos séculos, está sendo escrita. Somos atores em movimento, germinando nessa terra “arrasada”.

Os que sucederem a este momento terão (por que não?) uma percepção diferente da nossa. Saberão da nossa fragilidade frente à tragédia e os efeitos tão menores, como a falta de um abraço.

Verão também que há afeto digital. Que há companhia à distância. E que o novo normal só precisará de tempo. Para logo se tornar normal de novo e a vida seguir sem atropelos maiores.

  • RODRIGO DIAS é jornalista e web poeta, há mais de duas décadas trabalha no mercado de comunicação. Formado em Publicidade e Propaganda, também atua como assessor de comunicação.

 

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