Minas
MG tem recorde de infecção rara de dengue e chikungunya ao mesmo tempo; entenda
11% dos casos de infecção das doenças tiveram diagnóstico duplo; no ano passado, índice era de 2-3%
Uma descoberta assustou cientistas durante o estudo de vigilância genômica e epidemiológica de dengue e chikungunya no Brasil e colocou Minas Gerais sob alerta nacional. O número de casos de infecção simultânea, isto é, quando o paciente é infectado com os dois vírus ao mesmo tempo, saltou no Estado. De janeiro a julho deste ano, 11% dos mineiros adoeceram com os vírus da dengue e da chikungunya no corpo. No mesmo período de 2022, o índice era de 2-3%, ainda raro. Com informações de O Tempo.
A pesquisa foi conduzida em uma parceria entre a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e o Laboratório Hermes Pardini/Grupo Fleury e analisou diagnósticos positivos para dengue e chikungunya em 14 estados do país. Minas Gerais, no entanto, se destacou pelos números. Até o final de julho, os casos de chikungunya aumentaram quase sete vezes, da dengue, três vezes.
O alarde é confirmado pelos dados do boletim epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG). O levantamento indica que os casos de dengue saltaram 351% no Estado, saindo de pouco mais de 60 mil infectados no final de agosto de 2022 para quase 275 mil no mesmo período deste ano. Já as infecções por chikungunya surpreendem ainda mais: aumentaram 1340%. Minas já está registrando quase 66 mil infectados em 2023 – no ano passado, foram pouco mais de 4.500 doentes até o final de agosto.
De acordo com o infectologista Leandro Curi, a alta transmissão da chikungunya pode ser um dos motivos das infecções simultâneas dos vírus terem se tornado mais comuns. “A população de Minas Gerais ainda é vulnerável à chikungunya. Até o ano passado, não tínhamos altos números de infecção. Por migrações, essa doença que era mais presente no Nordeste chegou ao Estado. Quanto mais pessoas infectadas, mais o vírus circula, mais infecções acontecem. Então, se temos dengue e chikungunya em grande alcance, a coinfecção é facilitada”, explica.
O último período chuvoso também é um dos fatores que contribuíram para esse resultado, segundo a coordenadora de Pesquisa e Desenvolvimento do Hermes Pardini/Grupo Fleury, Danielle Zauli. “Foram altos índices pluviométricos em um momento de saída da pandemia com baixa das campanhas de prevenção e ações de controle do mosquito. Estávamos relaxados, preocupados com a covid. Essa infecção de dengue e chikungunya em uma mesma pessoa nos causou surpresa e preocupação, precisa ser evitada”, alerta.
Como funciona a infecção simultânea de dengue e chikungunya
O infectologista Curi explica que a coinfecção de dengue e chikungunya pode acontecer de duas formas, uma mais comum e outra rara. “Um mosquito passar as duas doenças em uma picada só não é impossível, apesar de bastante raro. Claro, se ele está carregando ambos os vírus, pode acontecer”, afirma. “Mas é mais comum que, em uma mesma área, estejam circulando mosquitos carregando o vírus da dengue e da chikungunya, e a pessoa é infectada duas vezes por dois mosquitos diferentes”, continua.
Nesses casos, o diagnóstico duplo passa a ser um desafio. “Os sintomas da dengue e da chikungunya são muito parecidos. Clinicamente, é difícil distinguir entre os dois. Por isso, a testagem é tão importante, tanto para atendimento adequado do paciente, quanto para monitoramento da doença. Existem testes sorológicos e moleculares de detecção da dengue, chikungunya e zika”, explica a coordenadora Danielle Zauli.
No setor privado, os planos de saúde cobrem os exames sorológicos de dengue e chikungunya e os exames de antígeno de dengue. Já a testagem para zika e os exames PCR devem ser pagos pelo próprio paciente. Pelo SUS, o exame não é obrigatório e é feito sob necessidade a partir de encaminhamento do médico responsável. Em Minas Gerais, existe a Rede de Laboratórios de Diagnóstico de Dengue, em funcionamento por meio do Laboratório Referência Estadual para o Diagnóstico de Dengue e do Laboratório de Arbovírus, do Serviço de Virologia e Riquetsioses (SRV), da Fundação Ezequiel Dias (Funed).
Coinfecção pode levar a complicações de saúde
Mesmo sendo doenças parecidas, há o que diferencie a dengue da chikungunya. No início dos sintomas, ambas apresentam mal estar, febre alta e dores no corpo. Mas, com o avanço das doenças, o paciente passa a apresentar problemas diferentes. “A dengue pode alterar mais a função do fígado, baixar o nível das plaquetas, e tem uma maior taxa de mortalidade, ou seja, gera mais mortes. Já a chikungunya leva a uma infecção grande nas articulações que pode invalidar as pessoas por alguns meses, anos até. A chikungunya é marcada por deixar sequelas após a cura do vírus, diferente da dengue”, reforça o infectologista.
É por isso que, dependendo da condição de defesa do paciente infectado com as duas doenças, podem ocorrer complicações de saúde. “A reação de cada um vai depender da situação da infecção e da vulnerabilidade do paciente. Pode acontecer de um paciente ser coinfectado, ter complicações e morrer, enquanto outro com as mesmas doenças consegue se recuperar. Claro, a tendência, quando falamos de infecção simultânea, é de um mal estar maior”, alerta Curi.
Perigo o ano todo
Com a proximidade do período quente e chuvoso, as transmissões de arbovirus podem aumentar ainda mais. Mas, segundo a coordenadora Danielle Zauli, a dengue e a chikungunya já não ocorrem unicamente em estações de risco. “As estações do ano já não estão tão bem definidas, temos infecções o ano todo, independente da estação. É também por isso que os vetores devem ser enfrentados o ano todo”.
O que diz o secretário de estado de saúde?
Durante evento com a imprensa nesta sexta-feira (1º de setembro), o secretário de estado de saúde Fábio Maccheretti comentou que estamos vivendo um ano epidêmico da dengue em Minas Gerais. Ele aproveitou a oportunidade para anunciar duas novidades no enfrentamento da doença. “Vamos lançar no próximo mês uma nova política de drones. Municípios de 100 mil habitantes ou aqueles com consórcio de saúde terão drones que podem ir em locais mais remotos e jogar larvicida, evitando a dengue”, disse.
Ainda, Maccheretti afirmou que a Biofábrica Wolbachia, uma unidade de controle de arboviroses como zika, dengue e chikungunya, ficará pronta no ano que vem. “Nós temos a fábrica de mosquito com a bactéria Wolbachia que está sendo construída e, em meados do ano que vem, ficará pronta”, anunciou. As obras estão acontecendo em um terreno do Governo do Estado localizado no bairro Gameleira, região Oeste de Belo Horizonte, com um valor de construção de mais de R$ 20 milhões.