Colunistas
Meio e mensagem
Antigamente, ouvia-se muito a expressão: aquele sujeito tem duas caras. A expressão em questão acentua que o tal sujeito é um cara falso. Do tipo que não se confia. É instável ao sabor dos seus interesses e só.
Num mundo pós-moderno, e sob o advento do fenômeno que são as redes sociais, o antigo ditado mudou: aquele sujeito tem uma face e vários perfis. É a tal falsidade num nível hard, muito mais intensa escondendo de vez as reais intenções.
De pedófilos a extremistas. Passando por golpistas e terroristas; perfis são forjados nas redes sociais. Se antes era possível olhar no olho e sentir se a pessoa mentia ou tinha lá segundas intenções, agora isso não é mais possível.
Em busca dos mais incautos, os perfis falsos são cuidadosamente elaborados. A fim de seduzir, rapidamente, possíveis vítimas. Cada vez mais quadrilhas se especializam nesse tipo de crime, e as ações são as mais variadas de que se tem registro.
Vão desde extorquir dinheiro e bens de pessoas carentes e solitárias – à procura de um novo amor – indo até mesmo à interferência em processos eleitorais complexos.
Um dos papeis mais danosos de quem pratica esse tipo de crime nas redes sociais talvez seja o de estimular o discurso do ódio. A intolerância às minorias e ao que é diferente.
O efeito manada impulsionado por isso é desastroso. Agressões que cada vez mais saem do ambiente digital e ganham a vida real. Polarizando discussões e restringindo o espaço da razão e da sobriedade.
É mais forte quem grita mais alto. Será?
É importante dizer aqui que o direito à opinião deve ser sempre preservado dentro de um debate racional. Ter opinião formada é sempre melhor do que não ter opinião nenhuma. Entretanto, é necessário ser razoável e refletir.
Jesus Cristo teve suas convicções. Escolheu um lado. Explicou os motivos
e mesmo assim foi morto. Não por quem não compreendeu a mensagem,
foi morto por quem a entendia e não concordava com ela
Esses instigaram quem não compreendia a matar. Por causa dos ignorantes, Cristo teve sua morte. Mas a mensagem prevaleceu e os salvou.
Mesmo com todas as modernidades que nos cercam as ações, de alguma forma, são as mesmas de outros tempos menos iluminados como os de agora. Temos um lado sombrio que insiste em velhos erros.
A sensação de anonimato que pode ser proporcionada nas redes sociais, aliada à possibilidade de subjugar o outro, pode, sim, despertar certos demônios. Não se trata de uma questão do meio, mas do seu uso.
Neste caso, o mensageiro é a mensagem. Pois carrega em si os traços dela. Seja de ódio ou paz.
- RODRIGO DIAS é jornalista e web poeta, há mais de duas décadas trabalha no mercado de comunicação. Formado em Publicidade e Propaganda, também atua como assessor de comunicação. e-mail: [email protected]