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Denúncia

Mãe de Mineira desaparecida nos EUA faz denúncia de tráfico sexual de pessoas

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Descrita pela mãe como uma menina “carinhosa, dócil e apegada à família”, Letícia Maia Alvarenga, de 21 anos, nos últimos dias passou a atacar os próprios pais, com acusações graves feitas em vídeos publicados nas redes sociais, após eles registrarem um boletim de ocorrência pelo seu desaparecimento. Sem contato com a filha desde abril deste ano, a família suspeita que ela e outras jovens brasileiras tenham sido vítimas de tráfico humano para a prostituição no país.  As informações são do jornal O Tempo.

A reportagem conversou, na manhã desta segunda-feira (17/10), com a mãe da jovem, que preferiu não ser identificada por medo. Ela, o marido e outros dois filhos do casal vivem em Perdões, no Sul de Minas. “Muito talentosa, desde criança ela sempre gostou de trabalhar, fazia doces para vender, e nós sempre apoiávamos a ganhar a vida de forma digna. Ela sempre sonhou em ir para os Estados Unidos e se inscreveu no programa de intercâmbio, para trabalhar inicialmente de babá para uma família”, detalha.

Depois de algum tempo vivendo no país, os familiares de Letícia descobriram que, desde quando estava no Brasil, ela já se consultava online com a influencer, life coach, escritora, hipnoterapeuta, empresária e “bruxa” Kat Torres, que teria, segundo o seu site oficial, mais de 2 milhões de seguidores em todas as redes sociais.

“Decobrimos que essa suposta ‘guru’ que teria incentivado minha filha a fazer o intercâmbio por uma empresa e depois abandonar o programa, prometendo que ela ficaria famosa, milionária e conseguiria o green card (cidadania norte-americana) se pagasse US$ 8 mil”, continuou a mãe.

Ainda conforme a família de Letícia, com o tempo, ela foi mudando o comportamento com os pais, irmãos e amigos, se distanciando, diminuindo as ligações e, em seguida, bloqueando todos os conhecidos nas redes sociais.

Em abril deste ano, a jovem teria voltado à terra natal, tendo dito aos pais apenas que estava no Brasil à trabalho e que tinha vindo buscar alguns documentos. Bastante fria, a filha teria se recusado a dormir na casa da família, ficando em um hotel e, a partir daí, não foi mais vista pelos parentes.

A reportagem tentou contato com Kat Torres, que apagou a conta no Instagram, mas, até a publicação desta matéria, a mulher não havia sido localizada para comentar as denúncias. No site da life coach, onde são vendidas consultas virtuais por R$ 70 mensais ou R$ 700 anuais, foi possível fazer uma “avaliação de vida gratuita”, com base no nome, data de nascimento e signo.

Em duas simulações, com signos diferentes, as orientações são bastante semelhantes, falando sobre a ligação do emocional com o sucesso financeiro. Além disso, a guia também afirma ser “totalmente” contra uso de medicamentos para depressão e ansiedade, chegando a afirmar que os remédios “só vão piorar a situação”.

A empresa que teria sido indicada pela influencer para que a jovem fizesse o intercâmbio também foi procurada, mas não se posicionou. O caso é investigado pela Polícia Civil de Minas Gerais.

Caso não é o único

Além de Letícia, outra mulher também vem sendo procurada por familiares e amigos. Desirrê Freitas Silva, de 26 anos, é natural de São Paulo e, segundo uma amiga, que a conheceu no Canadá, teria sido induzida por Kat Torres a se separar do marido, com quem vivia na Alemanha, e se mudado para o Texas, nos EUA, para trabalhar com a “guru”.

“A Desi era muito sonhadora, trabalhava muito pois queria abrir a própria empresa. Começou a meditar muito e, após conhecer a Kat, passou a ser muito influenciada por ela. A guru começou dizendo que ela tinha que se separar, pois o marido não queria o bem dela, e tinha feito magia negra para a Desi. Ela se separou e a guru virou a vida dela, gastava todo o dinheiro em consultas virtuais”, detalhou a amiga.

Em abril deste ano ela foi para o Texas dizendo que iria trabalhar com a influencer, sendo este o último contato que Desirrê teve com os amigos. “Depois disso ela bloqueou todo mundo, deletou redes sociais. Em agosto criamos um grupo, procurando por ela, e horas depois recebemos um vídeo de uma Desirrê bem diferente, com ar triste, nos ordenando a parar de procurá-la”, continua a amiga.

A “rainha dos áudios intermináveis”, como os amigos chamavam Desirrê, agora não tinha mais voz. Passou a respondê-los apenas com mensagens de texto, agressiva e até mesmo fazendo ameaças, inclusive de tirar a própria vida. Desde setembro, ainda conforme os conhecidos da jovem, eles não tiveram qualquer prova de que a amiga estaria bem.

Prostituição

Desesperados, os pais de Letícia passaram a procurar provas sobre o que estaria acontecendo com a filha e, antes de registrarem o boletim de ocorrência na Polícia Civil mineira, conseguiram encontrar provas de que a filha e Desirrê teriam imagens em sites de prostituição no país.

“Conseguimos achar imagens da minha filha e da Desi em sites de garotas de programa no Texas. Então, a conclusão que chegamos, é que seria um esquema de tráfico humano”, afirma a mãe da jovem. O TEMPO teve acesso às imagens que mostram tanto Letícia como Desirrê como garotas de programa em um site do país.

Depois do registro policial, passaram a surgir vídeos da jovem pedindo para parar de ser procurada. No primeiro deles, que foi publicado primeiro na página de Kat Torres e em seguida no de Letícia, ela aparece dentro de um carro, em um local escuro, e fazendo acusações de que o pai teria abusado sexualmente dela e que a mãe sabia disso.

Após seguidores preocupados com a brasileira apontarem que ela parecia estar lendo um texto e sendo ameaçada, um novo vídeo foi publicado, desta vez com uma marcação de localização em São Paulo. Letícia aparece com filtros de embelezamento em uma espécie de quarto e dizendo que gravava em uma parede branca para que a família não conseguisse localizá-la.

Mais uma vez, os seguidores questionaram a estrutura que aparece ao fundo, já que a casa parece ter uma fundação em madeira, algo pouco comum no Brasil e muito utilizado no país norte-americano, indicando que Letícia possivelmente ainda estaria no país.

“Nos vídeos, ela está irreconhecível. Não é aquela Letícia que nós conhecemos. A fala dela está de maneira pausada, e ela não fala assim. A gente nota também que ela pisca muito, olha para os lados. Por isso, faço um apelo às autoridades, para que possam agir rapidamente nas investigações para poder encontrar as meninas. A Letícia, a Desi e outras, caso existam. Elas correm risco e nós estamos desesperados”, finaliza a mãe da mineira.

Itamaraty está acompanhando caso

Por meio de uma nota, o Ministério das Relações Exteriores, por meio do Consulado-Geral do Brasil em Houston, informou que tem conhecimento da situação e está em contato com as “autoridades policiais norte-americanas” que fazem a investigação do caso.

“Aquela repartição consular permanece à disposição para prestar a assistência cabível às nacionais brasileiras e a seus familiares, em conformidade com os tratados internacionais vigentes e com a legislação local”, completou.

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