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Kalil enfrenta ‘cristianização política’ e tem trunfo a menos que Zema

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Na reta final da campanha, o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD) permanece, ao menos nas pesquisas de intenção de voto, bem atrás do atual governador Romeu Zema (Novo). Na tentativa de virar o jogo, Kalil conta com um trunfo a menos na corrida eleitoral: praticamente não tem apoio dentro do próprio partido nas redes sociais, enquanto o concorrente conta com a ajuda da imensa maioria dos correligionários.  As informações são do jornal O Tempo.

Levantamento feito pelo jornal O Tempo no Facebook e no Instagram mostra que apenas 21,25% dos candidatos a deputado federal ou estadual do PSD demonstram apoio ao ex-presidente do Atlético na internet. Na contramão, o atual chefe do Executivo estadual conta com a divulgação de 96,3% dos seus colegas de sigla.

A falta de apoio dentro do próprio partido é conhecida como “cristianização política”. Esse nome existe desde 1950, quando Cristiano Machado, que concorria à Presidência da República justamente pelo PSD, perdeu o apoio da própria sigla. À época, os principais líderes do partido se fecharam a favor de Getúlio Vargas, candidato do PTB que venceu o pleito.

O PSD tem 80 candidatos a deputado neste ano: 41 para a Assembleia e 39 para a Câmara. Desses, apenas 17 demonstraram apoio a Kalil nas redes sociais, conforme levantamento feito no último dia 19. Há cinco casos extremos, nos quais os candidatos do partido do ex-prefeito fazem propaganda para Zema. Um está com Carlos Viana (PL), preferido do presidente Jair Bolsonaro (PL) para a Cidade Administrativa. Outros 48 não se posicionaram e nove não foram encontrados nas redes sociais.

Chama a atenção também que Kalil não conta com o apoio dos “peixes grandes” do PSD. Diego Andrade, Subtenente Gonzaga, Stefano Aguiar e Misael Varella, que tentam a reeleição à Câmara dos Deputados, não estão com o ex-prefeito. O caso de Diego Andrade é ainda pior: ele é um dos cinco correligionários de Kalil que estão com Zema. Um vídeo postado em 4 de setembro mostra o deputado federal cumprimentando o atual governador diversas vezes.

Entre os nove que tentam a reeleição à ALMG pelo PSD, apenas o deputado estadual Cássio Soares está com Kalil. Ainda assim, o apoio dele não aparece em postagens nas redes sociais, apenas em eventos de campanha filmados e postados nos canais de comunicação.

Conforme já noticiado pelo jornal O Tempo, durante a campanha, Kalil enfrenta resistência dentro do partido, sobretudo, por conta da divisão do fundo eleitoral. Alguns postulantes reclamam do envio de R$ 16 milhões do recurso para o ex-prefeito, enquanto muitos ficaram sem receber quantias. A divisão é legal, mas tem gerado desgaste dentro da sigla pelo que muitos candidatos classificam como “quebra de promessas”. Por outro lado, o PSD tem informado à imprensa que entende as queixas, mas salienta que não houve promessas por conta do diretório estadual.

Por outro lado, Zema tem apoio de 96,3% dos 83 candidatos do Novo. Entre os 31 que tentam chegar à Câmara, apenas um não está com o governador nas redes sociais: o professor Dennys Xavier, que não se posiciona publicamente sobre sua escolha para o cargo. Entre os 51 postulantes a uma cadeira na Assembleia, Zema conta com o apoio de todos. Na imensa maioria dos casos, os candidatos postaram vídeos ao lado do chefe do Executivo e usam o rosto e o nome dele nos materiais de divulgação. Imagens ao lado do candidato a vice-governador Professor Mateus Simões (Novo) também são comuns.

Para o sociólogo e professor do Ibmec Lucas Azambuja, a diferença de apoio entre Kalil e Zema dentro dos seus partidos tem várias explicações. Uma delas é a característica da eleição legislativa: muitos candidatos preferem se distanciar do nome cotado para o Executivo para não desagradar seu curral eleitoral, principalmente se ele for no interior, onde os eleitores costumam ser mais homogêneos em termos de posicionamento político.

“À medida que o Kalil tem uma ligação mais próxima com Belo Horizonte, há um interesse maior na trajetória empresarial do Zema (por parte dos candidatos a deputado) ou porque se identificam com o Bolsonaro (por conta do apoio de Lula ao ex-prefeito)”, diz o especialista.

O fato de Zema estar na frente nas pesquisas também pesa, segundo Azambuja. “Os cargos legislativos precisam de muitos apoios, que você só consegue quando está com o governo, como indicações de cargos e direcionamento de verba. Se você ficar atrelado ao candidato que vai perder, você perde essa moeda de troca, impactando o engajamento em torno do seu nome”, afirma.

Senado e presidência
Como presidente do PSD em Minas Gerais, o senador Alexandre Silveira, que tenta a reeleição, tem mais apoio dentro do partido que Alexandre Kalil: 33,75% dos candidatos a deputado federal e estadual da sigla divulgam o nome de Silveira nas redes sociais. São 27 contribuições contra 17 do ex-prefeito. Além desses, 43 não se posicionam para a corrida ao Senado, enquanto um está com o maior concorrente do correligionário na disputa, o atual deputado estadual Cleitinho Azevedo (PSC).

Apoiado por Zema para uma vaga no Senado, Marcelo Aro (PP) tem bem menos apoio que o governador entre os candidatos do Novo. Além do fato de não ser do mesmo partido, pesa contra ele o uso do fundo eleitoral, prática não adotada pelos correligionários de Zema. Dos 83 candidatos da sigla, apenas 31 estão com Aro nas redes sociais – cerca de 37%.

“A eleição para senador é meio diferente. Ela funciona pelo voto majoritário, parecido com os cargos executivos. Mas, tem uma dinâmica semelhante à dos cargos legislativos para deputados. Os senadores têm interesses e representações específicas. Às vezes, é a máquina dentro do partido que conta mais, não a coligação. Então, eu acredito que essa diferença é resultado de uma capacidade de articulação pessoal de cada um”, afirma Lucas Azambuja, professor do Ibmec.

Quanto à presidência, os dados levantados pela reportagem mostram que Luiz Felipe d’Avila tem bem menos apoio que Zema entre os candidatos a deputado em Minas Gerais, ao menos nas redes sociais. Demonstram apoio ao nome dele 48 dos 83 postulantes do Novo – 57,8%. Dois fazem campanha para Jair Bolsonaro (PL), 31 não se posicionam e dois não foram encontrados nas redes sociais.

Do lado do PSD, que fechou com Lula (PT) para o Planalto, só 13 dos 80 candidatos a deputado em Minas apoiam o petista publicamente nas redes. Outros nove estão com Bolsonaro, 49 não se posicionam e nove não foram encontrados pela reportagem nos principais canais de comunicação com os eleitores.

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