Abicalçados
Invasão de produtos chineses e mão de obra escassa ameaça setor calçadista no Brasil
Indústria calçadista não descarta demissões, já que alíquotas de Trump à China e outros países da Ásia pode redirecionar produção ao Brasil
Uma possível invasão de calçados chineses no Brasil, após a escalada de sanções econômicas de Donald Trump aos asiáticos, preocupa e ameaça o crescimento do setor calçadista brasileiro em 2025. O temor se soma às dificuldades de contratação e custo de mão de obra, problema que afeta a indústria de maneira mais intensa nos últimos anos.
Responsável por movimentar mais de R$ 33 bilhões em 2024, o mercado nacional prevê a produção de até 904 milhões de pares em 2025, o que representaria um avanço de 2% em relação ao balanço do ano passado, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados). A entidade acredita que um freio ao avanço do setor em função do aumento de calçados da China no mercado nacional pode colocar em risco o emprego dos mais de 290,3 mil trabalhadores que atuam no setor.
A previsão é do presidente da Abicalçados, Haroldo Ferreira, e compartilhada por pares do mercado. Com o tarifaço de Donald Trump nos Estados Unidos, as taxas dos norte-americanos aos chineses são de 145%, mas podem chegar a 245% em alguns casos, o que deve reduzir as exportações dos calçados da China a Washington. Por outro lado, a indústria brasileira, taxada em 10%, acredita que terá mais espaço nos EUA.
“O tarifaço pode ser uma oportunidade para exportar mais calçados no mercado norte-americano, mas a questão da invasão no nosso mercado preocupa, porque 85% da produção nacional é para o mercado interno. A nossa expectativa é de que não precise cortar postos de trabalho na indústria. Mas se realmente a importação aumentar demais, não vamos conseguir compensar as perdas com esse possível aumento de exportação”, cravou Haroldo Ferreira.
Entre janeiro e março deste ano, a Abicalçados contabilizou um aumento nas importações. Somente em março, o avanço foi de quase 50%, tendo como destaque as fábricas chinesas – que enviaram 2,55 milhões de pares ao Brasil. O crescimento foi observado antes mesmo do tarifaço de Trump entrar em vigor. “O problema é que toda produção que era destinada ao mercado norte-americano, ela será enviada ao restante do mundo, inclusive o Brasil”, completou Ferreira.
A Abicalçados afirmou que mantém conversas com o governo federal, em busca de minimizar os impactos à indústria calçadista nacional e evitar cortes de empregos.
Preocupação mineira
Em Minas Gerais, onde está concentrada 14% da produção nacional, o temor é latente. O presidente do Sindicato Intermunicipal das Indústrias de Calçados de Nova Serrana (Sindinova), Rodrigo Amaral Martins, citou que há uma preocupação não só com a invasão de sapatos chineses, mas também de outros países com grande produção como Indonésia, Vietnã e Camboja, também taxados com alíquotas maiores em comparação ao Brasil.
“Eles vão precisar buscar mercados alternativos para esse mercado asiático, sendo o maior consumidor do mundo, que está se fechando, entre aspas, devido a essas tarifas. Então, a gente se preocupa que exista uma invasão de produtos asiáticos através de um dumping”, sinalizou Rodrigou.
“Quando vem um produto de fora, principalmente quando vem um produto subsidiado, principalmente ali da região da Ásia, que tem condições laborais e fiscais diferentes da nossa, todas as nossas empresas sofreriam muito e teriam que fazer demissões”, projetou o presidente do sindicato.
Ele afirmou que os calçados de outros países chegam ao Brasil com valores mais baixos, dificultando a competitividade com a indústria nacional. “Essa invasão de produtos chineses preocupa, justamente, por impactar muito um setor que já está fragilizado principalmente pela alta da taxa de juros que vem diminuindo a saúde financeira de várias empresas, que estão operando com margens cada vez mais apertadas”, sublinhou.
Mão de obra em falta
Minas Gerais é o quinto maior empregador do setor calçadista, com mais de 31 mil postos de trabalho. O número, no entanto, poderia ser maior na avaliação do presidente do Sindnova, que lamenta uma dificuldade generalizada para contratação de mão de obra.
“A gente sabe que não é só aqui, mas Nova Serrana sempre foi uma cidade que teve mais oferta de emprego do que de fato trabalhadores disponíveis. Então, nesse momento todos estão passando por essa dificuldade, mas Nova Serrana está com uma situação até pior, porque aqui sempre faltou”, acrescentou Rodrigo Amaral, que informou conversas com os empresários para diversificação das condições de trabalho, como forma de atrair colaboradores.
Foto: Pixabay/ Reprodução – Com informações de O Tempo: https://www.otempo.com.br/economia/2025/4/27/invasao-de-produtos-chineses-e-mao-de-obra-escassa-ameaca-setor-calcadista-no-brasil