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Hepatite misteriosa: ‘É motivo de alerta para pais’, diz SES-MG
Apesar de a hepatite misteriosa estar em investigação em cinco pacientes em Minas Gerais, a gravidade da enfermidade merece atenção redobrada dos pais — os doentes têm entre 1 e 16 anos. A médica infectologista pediátrica do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS Minas), Daniela Caldas Teixeira, é quem faz o apelo. As informações são do jornal O Tempo.
“É motivo para ficar alerta, não pela quantidade de casos, mas pelo potencial de gravidade dos casos. Entendendo que, em casos publicados no exterior, um percentual considerável de pacientes precisaram de transplante hepático, suporte de terapia intensiva e até mesmo evoluíram para óbito”, explicou a represenrante da SES-MG.
A hepatite severa e aguda que tem afetado crianças de 1 mês a 16 anos em todo mundo, com oito casos suspeitos em Minas Gerais, tem desafiado a comunidade científica. O Instituto Butantan traçou quatro possíveis causas para a doença misteriosa. Isolamento prolongado em função das medidas de prevenção à Covid-19 é uma das hipóteses, mas nada foi efetivamente confirmado.
Segundo documento do Ministério da Saúde voltado para orientar profissionais em todo país, ao qual a reportagem teve acesso, o isolamento na pandemia poderia ter alterado a imunidade das crianças, uma vez que “o confinamento foi uma mudança dramática e enorme no comportamento da sociedade, as crianças não tiveram exposição habitual a esses vírus durante a pandemia da covid-19” e, por isso, “podem estar apresentando respostas imunes graves e considerando os resultados laboratoriais neste inverno vimos aumento em toda a gama de vírus incluindo adenovírus”, explica.
Para o infectologista Marcelo Otsuka, essa teoria não pode ser descartada de imediato, mas é preciso fazer algumas ressalvas. “As crianças de fato não tiveram contato com os vírus que tradicionalmente circulam e por conta desse não contato pode ocorrer uma resposta exacerbada do organismo à doença. Mas, se pensarmos que o adenovírus pode ser um dos agentes relacionados a essa hepatite, temos que levar em conta que não houve redução da circulação de adenovírus nesse período de isolamento. Tivemos redução da circulação de outros, como o de influenza”, diz.
A outra hipótese levantada pelo Butantan é a de que a doença estaria de fato relacionada ao adenovírus. O ministério da saúde cita o virologista da Universidade de Bristol, David Matthews, que explica que o vírus, normalmente associado a doenças sem grandes complicações, pode ter mudado ou algo acontecido com os pacientes. Por essa razão, a resposta dos organismos ao vírus teria se concentrado no fígado e não no trato respiratório como é o comum.
Nos Estados Unidos, inclusive, o Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC) mudou o status da doença de alerta para demanda de ação imediata dos médicos e a principal orientação por lá é que haja testagem de adenovírus para identificar qualquer relação da hepatite misteriosa com o vírus. Ainda segundo o ministério, cerca de 10% das crianças afetadas pela doença necessitaram de transplantes de fígado.
Para Otsuka, a ligação com a Covid-19 é algo que precisa ser melhor estudado. Ele lembra que foram registrados casos da chamada Síndrome Inflamatória Multissêmica Pediátrica em crianças que tiveram coronavírus e que a hepatite misteriosa também pode ser uma resposta imunológica do organismo das crianças à Covid, da mesma forma.
“No caso da síndrome inflamatória, o que acontece é que, após ser infectado pelo coronavírus, o corpo da criança cria uma reação em defesa e ataca o próprio organismo, com uma taxa de mortalidade de 8% no Brasil”, diz o especialista. “O que parece ser provável é que o adenovírus possa servir de gatilho para que crianças após contaminação por Covid-19 tenham o quadro de hepatite severa como resposta imunológica”, completa.
Ainda com base nos estudos do Butantan, o ministério alerta que uma hipótese para o avanço da doença seria a presença de toxina no ambiente ou nos alimentos. A agência de saúde do Reino Unido (UKHSA) já realiza estudos epidemiológicos que envolvem a avaliação do ambiente, demografia e ingestão alimentar das crianças e, até o momento, não existem evidências para o desfecho.
Os casos em investigação foram notificados em Belo Horizonte, Juiz de Fora e Montes Claros. Os casos descartados foram notificados em Montes Claros e Divinópolis. Os principais sintomas relatados foram dor abdominal e vômitos, acompanhados de alterações de enzimas hepáticas.