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Saúde

Falta de acolhimento agrava quadros de pessoas em situação de rua com transtornos mentais

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Se já é difícil mensurar quantas pessoas encontram-se em situação de rua no país, problema mais evidenciado com a pandemia do coronavírus, fica mais complicado ainda saber quantos desse montante sofrem de transtornos mentais. As informações são da Rádio Itatiaia.

Desconhecimento numérico não pode ser justificativa para ausência do Estado no acolhimento desses necessitados que não possuem um teto, não tem familiares que podem ajudar e ficam à mercê de ingredientes fáceis de encontrar nas ruas como álcool e drogas, que podem piorar o quadro mental deles.

Enquanto isso, setores paralelos se esforçam para cuidar de quem encontra-se desamparado de todas as formas. Uma dessas forças vem da igreja católica, a pastoral da Arquidiocese de BH atua na identificação e suporte para quem passa por transtorno mental nas ruas.

Roseni Schmidt é psicóloga voluntária do projeto, e cita como é feito o trabalho para ajudar quem tem o problema e não possui endereço fixo.

“Nós trabalhamos com a criação de vínculo de confiança, estabelecendo o que essa pessoa dá conta. Às vezes ela está com sede, com fome ou precisando de um banho. Articulamos uma rede de serviço para cuidar da pessoa”, cita.

De acordo com Roseni, o grande desafio é conciliar a alta demanda de pessoas para os poucos locais de encaminhamento.

“Nós demandamos na Conferência de Saúde uma proposta para os Serviços de Residência Terapêutica (SRT) acolher a população em situação de rua. Por muitas das vezes as pessoas aceitam e começam o tratamento, mas como continuar permanecendo na rua enquanto precisa desse cuidado?”, questiona.

Realidade dura

Um dos amparados desse projeto hoje tem 42 anos, natural de São Paulo, chegou ao 9º período de Arquitetura, mas as intempéries da vida fizeram com que fosse morar nas ruas de BH, chegando aqui já com o sofrimento mental. Um homem que não será identificado, conta a sua trajetória regada a drogas no passado e explica que tudo piorou na sua mente a partir de um trauma.

“Passei uma parte minha infância na rua cometendo infrações depois, aos 18, fui morar com papai e ele me ajudou. Ele me internou, me visitava e, quando eu saí, ele me amparou, me deu amor, pagou meu estudo, eu levava uma vida normal. Só que de repente ele faleceu no meus braços e eu fiquei sozinho em casa. Quase fiquei louco”,

O homem conta que percebeu mudanças na sua mente após o trauma e que seu período em situação de rua agravou seu estado.

“Ainda tem dias que eu acho que eu preciso de ir lá em casa ver se ele está lá, às vezes ele está preocupado comigo. Eu ficava esperando ele nos terminais rodoviário, de metrô, de trem, às vezes apareciam pessoas parecida com ele e eu ia atrás, mas não era”, relembra.

Sua vida começou a mudar depois de chegar à capital mineira, quando, através da Roseni, o homem teve acesso a apoio médico para cuidar da saúde. Mas, ao mesmo tempo, conta um pouco sobre a realidade que viveu antes deste período.

“Na realidade, a sociedade é hostil com a pessoa em situação de rua. Ninguém está nem aí pra você, não se importam com você. Você se torna um ser humano”, lamenta.

E ao ser perguntado sobre planos para o futuro, ele respondeu: “Quero terminar meus estudos, montar minha empresa, tentar ser um ser humano melhor.

Amanhã a série vai abordar dois pilares fundamentais da recuperação de quem sofre de transtorno mental: a família ou pessoas próximas e o uso correto dos medicamentos. Para acompanhar o último episódio desta série, clique neste link.

Foto: Reprodução Pixabay

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