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Falsa moral estupradora

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Tenho umas coisas a dizer, mas elas embrulham o estômago. Secam a garganta. Emudecem a fala, sucumbe qualquer grito. Como tantos outros, sinto-me violentado por uma falsa moral; o avesso do que seria o certo.

Uma menina de dez anos no Espírito Santo foi estuprada. Primeiramente por um tio doente, mal-intencionado. Agora, é estuprada outra vez por defensores da “vida” que condenaram a jovem que optou por interromper a gestação. Fruto de uma violência, crime. Abusos que começaram desde os seis anos.

As sequelas que sobraram para a jovem parecem não importar. Estavam tão interessados em salvar uma “vida”, não a dela, que se esqueceram que estupro é crime, e esse tipo de relação com menores de idade é pedofilia.

Mas nada disso importa para o dito cidadão de bem. Bastião da moral, a da falsa moral. Por essa razão, a menina de dez anos do Espírito Santo continuará sendo estuprada por parte de uma sociedade débil e conservadora.

A mesma que gera filhos em relacionamentos promíscuos e tolerados. Que vai à missa, ao culto e comunga. Sociedade que professa uma fé que a proteja e queima o outro – o de pensamento diferente – numa fogueira de inquisição.

A menina de dez anos é violentada pela nossa ignorância. Por valores arcaicos e por uma suposta paz na consciência do homem e mulher de “bem”. Os mesmos que condenam a menina e seu direito de interromper uma gestação indesejada; são os que há duas semanas diziam que mulher não pode ser “pai”.

A sociedade evoluiu. Direitos são assegurados. Eles não entendem isso.

Dentro da lei, as pessoas devem ser livres para fazer suas opções. Podemos até não concordar, mas temos que respeitar.

Pensar com fígado derrama a bílis, dá azia e o

máximo que se consegue é uma convulsão social.

A perda do foco permitirá outras interpretações e no caso em questão, transformou vítima em ré. A garotinha de dez anos por milhares já foi julgada e condenada.

Enquanto isso, perguntas relevantes deixam de ser feitas: Quem expôs os dados sigilosos da menor? Por que vazou? A quem interessa?

O aspecto religioso é importante, mas a fé raciocinada é melhor ainda. Deus é amor. Amor é tolerância. O fanatismo cega e não permite viver o amor em plenitude. Sem amor, não se enxerga Deus no outro.

Valerá, sempre, o exercício da compaixão. Mas entenda, compaixão não é ter dó. Dó é sentimento mesquinho que confere superioridade em relação ao outro. Compaixão é bem diferente disso.

É estar no lugar do outro e sentir suas dores e necessidades. Para quem crê, compaixão é centelha divina que ascende ao bem. O melhor de cada um.

  • RODRIGO DIAS é jornalista e web poeta, há mais de duas décadas trabalha no mercado de comunicação. Formado em Publicidade e Propaganda, também atua como assessor de comunicação. e-mail: rodrigodiascomunica@gmail.com

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