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ASSÉDIO MORAL

Escrivã que se matou em MG gravou áudio relatando abuso e denúncia a delegado

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Escrivã Rafaela Drummond foi encontrada morta pelos pais no Campo das Vertentes, em Minas Gerais — Foto: Arquivo pessoal

Na troca de mensagens, Rafaela revelou ter sido chamada de ‘piranha’ e que buscou auxílio de superior

Em áudios encaminhados a uma amiga, a escrivã Rafaela Drummond, de 32 anos, denunciou que um servidor da Polícia Civil a assediava. A profissional disse ainda que um delegado foi comunicado dos fatos, mas não tomou providências. O servidor teria só questionado sobre quais providências a moça desejava tomar. O caso é investigado. A escrivã se suicidou em Sá Forte, distrito de Antônio Carlos, na região do Campo das Vertentes, em Minas Gerais. Ela trabalhava em uma delegacia de Carandaí, na mesma região. Com informações de O Tempo.

A troca de mensagens — compartilhada pela família com O TEMPO — entre a escrivã e a amiga aconteceu em fevereiro deste ano. Na oportunidade, Rafaela informou que um colega de trabalho estaria a assediando sexualmente. O homem teria até mesmo jogado bebidas nela após a servidora recusar manter relações com ele. O episódio narrado pela escrivã aconteceu durante uma confraternização de trabalho.

“Ele ficava dando em cima de mim e começou a falar na minha cabeça. Eu não dava ideia. Eu fechei a cara e fiquei na minha. Fiz cara de deboche e não respondi aquele grosso, otário. Aí, de repente, ele começou a falar: ‘polícia não é lugar de mulher, mulher não era para estar na polícia porque não serve, é por isso que a polícia está desse jeito’”, contou.

Na continuação do áudio, Rafaela afirmou ter debochado do homem com risos e revelou o que aconteceu na sequência. “Acho que isso [risadas] deixa a pessoa ainda mais nervosa. No final das contas, ele me chamou de ‘piranha’. Sabe o que ele fez? Virou a mesa em cima de mim, caiu cerveja na minha roupa, caíram os ‘negócios’ que estavam na mesa. Eu peguei o telefone e comecei a gravar”.

A gravação citada pela escrivã é o vídeo que está sendo periciado pela Polícia Civil, no qual uma voz masculina aparece xingando Rafaela. Na gravação de pouco mais de um minuto, o homem ofende a escrivã por diversas vezes. Em um dos momentos, ele confessa ter chamado a escrivã de “piranha”. “Na realidade, eu errei muito em te chamar de piranha, porque se fosse homem, geralmente, a gente chama de corno, viado”, disse o interlocutor no vídeo.

Delegado teria sido avisado

No dia seguinte ao ocorrido, Rafaela disse ter procurado um superior, que não teve o nome revelado. “Falei tudo com o delegado e mostrei o vídeo: ‘você vai querer tomar providências?’”, contou revelando a reação do servidor. “Ele não queria [que eu tomasse providência], pois sabia que ia sobrar para ele também. Disse que não queria pois ia me expor e, por morar em cidade pequena, temia que se voltassem contra mim. Preferi abafar”.

Rafaela contou ter evitado contato com o colega de trabalho desde então. “Não quero olhar na cara desse boçal nunca mais. Eu não quero que ele olhe pra mim. Que isso nunca mais se repita, pois isso é muita falta de respeito”, complementou a escrivã ao superior. Segundo a servidora, o fato relatado à amiga era parte do que ela vinha sofrendo desde o ano passado.

Escrivã relata rotina de abusos

“É isso que eu sofro. Ainda tem mais coisas, mas eu vou contar só os mais pra você [amiga] ter uma ideia, mas não conta para ninguém pelo amor de Deus”. Rafaela, em outro áudio, continuou o desabafo revelando que vinha sendo ‘alvo’ no serviço, principalmente, após o episódio na confraternização. “O maior arrependimento foi não ter pedido remoção para Barbacena, mas agora é aguentar. Deus sabe o que faz. Eu vou ficar aqui e cuidar da minha vida. Parar de sair e minha vida vai ser: delegacia, academia e voltar a estudar”. O sonho de Rafaela, conforme revelado pela mãe, Zuraide Drummond, era se tornar delegada.

O TEMPO procurou a Polícia Civil e questionou a respeito das denúncias feitas pela escrivã à amiga. Em nota, a instituição ressaltou que as investigações seguem em andamento. “A PCMG está seriamente comprometida a esclarecer todas as circunstâncias que envolvam o caso e esclarece que o aparelho celular da escrivã, bem como todas as mídias que circularam e permeiam os fatos, são objeto de perícia e investigação”.

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