Educação
Escolas sem energia elétrica ainda são obstáculo para inclusão digital no Brasil
A volta dos estudantes para as escolas públicas no pós-pandemia do coronavírus ainda não conta plenamente com a inclusão digital, e aproximadamente 4 mil escolas da rede pública do país não contam nem com energia elétrica. A|s informações são do jornal O Tempo.
Levar instalações elétricas para essas unidades de ensino é um dos desafios para que seja possível incluir mais estudantes no mundo digital, de acordo com a secretária de Telecomunicações do Ministério das Comunicações, Nathalia Lobo, que concedeu entrevista exclusiva a O Tempo.
“É uma missão do ministério que todas as escolas sem conectividade sejam conectadas até o fim deste ano. Identificamos que são 30 mil escolas de ensino fundamental e médio sem conectividade, excluindo as creches, pois nas creches o uso da internet é mais administrativo”, explica Lobo.
“Infelizmente a gente não consegue fazer um atendimento tão rápido nas escolas que ainda não têm energia elétrica. Temos cerca de 4 mil escolas ainda sem energia. Nessas 16 mil que restaram, já vamos fazer o atendimento por meio de um contrato com a RNP [Rede Nacional de Pesquisa]. Até junho nós vamos atender 12 mil escolas e temos o objetivo de atender o restante até o fim do ano”, detalha.
De acordo com a secretária, estão sendo feitas reuniões com o Ministério de Minas e Energia e Anatel para destravar a instalação de eletricidade nessas quase 4 mil escolas.
Parte dos recursos do leilão do 5G vai para a educação
Lobo também lembra que o leilão do 5G, realizado em novembro do ano passado, definiu que uma parcela dos recursos arrecadados será destinada a projetos de conectividade nas unidades de ensino fundamental e médio, tanto urbanas quanto rurais.
A informação coincide com declaração dada pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria, em audiência pública realizada na Comissão de Serviços de Infraestrutura, em novembro do ano passado, depois do leilão da tecnologia.
Do total de R$ 47,2 bilhões arrecadados no leilão e investidos pelas empresas privadas, R$ 3,1 bilhões, ou 6,5%, serão reservados para a área de educação.
Na ocasião, Faria prometeu o 5G standalone (uma versão melhorada da tecnologia) para 72 mil escolas públicas urbanas do país até 2028, de acordo com informações da Agência Senado.
Se atualizarem legislação, todas as capitais vão receber 5G até julho
Ainda sobre o 5G, a secretária de Telecomunicações reiterou que está mantida a previsão de que todas as capitais do país vão contar com a tecnologia até julho deste ano, mas algumas dependem de atualizações na legislação.
“Várias cidades, entre elas Brasília, Curitiba, Florianópolis e Fortaleza, já conseguiram fazer alterações na legislação municipal [e distrital]. É importante que outras cidades também comecem a fazer atualizações. O 5G demanda mais equipamentos, então vamos ter até dez vezes mais equipamentos do que em geral se utiliza para o 4G”, esclarece a secretária, que substituiu Artur Coimbra em 14 de abril e é a primeira mulher a comandar as Telecomunicações do país.
“É muito importante essa modernização da legislação para que seja mais amigável a esses equipamentos, que vêm num tamanho bem menor, com impacto visual bem menor.”
Lobo, que é doutora em Economia pela Universidade de Brasília (UnB) e servidora de carreira da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), avaliou que o 5G tem potencial para impactar positivamente na economia brasileira, mas dependerá “do abraço dessa tecnologia” pelas empresas.
“Tudo depende do abraço dessa tecnologia pelos diversos setores e do desenvolvimento de novas formas, com softwares, aplicações e modelos de negócios. Vai ser necessário capacitar profissionais para explorar melhor os recursos humanos. O Ministério da Economia soltou um estudo mostrando que as soluções de software são 90% responsáveis por cerca de R$ 100 bi a mais na economia”, destaca a secretária.
“Tivemos primeiro a missão de colocar a infraestrutura na rua. A partir dessa implantação, precisaremos pensar no que vai rodar nessa tecnologia. Nossa previsão é de que a difusão do 5G leve de três a cinco anos. Então temos a missão de colocar também linhas de crédito para que as empresas operem essa tecnologia”, acrescentou.
Na entrevista completa, Lobo comenta o atual cenário do acesso à internet pública nas regiões Norte e Nordeste, detalhando como funcionam e onde são instalados os pontos de acesso nessas regiões, que ainda amargam baixos índices de conectividade, por meio dos programas Wi-Fi Brasil, Norte Conectado e Nordeste Conectado.
A secretária também adianta as previsões de mudanças que o 5G promoverá na sociedade brasileira, como o uso de carros autônomos, cirurgias à distância, maquinários agrícolas conectados, além de uma revolução, para melhor, no mundo dos games.
Foto: imagem ilustrativa