Para José Geraldo Leite Ribeiro, epidemiologista e professor emérito da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, há inclusive a possibilidade de colapso do sistema com a epidemia. “O risco sempre ocorre quando há epidemia de dengue e a chikungunya também contribui para o aumento do movimento”, avalia. Em Minas Gerais, são 34.421 casos prováveis de chikungunya, mais de 63% dos praticamente 54 mil diagnósticos suspeitos em todo o país.

Para o especialista, a chikungunya é uma doença que impacta nessa sobrecarga do sistema de saúde, mas o risco maior está no aumento de casos de dengue. “A dengue tem um risco muito maior de morte”, aponta. José Geraldo ainda destaca outro aspecto que irá pesar no atendimento à população que é o aumento de casos de influenza, que geralmente acontece neste período do ano.

Renato Kfouri, pediatra infectologista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, acredita que o colapso não deve acontecer. “A gente tem na dengue esse caráter oscilatório. Alguns anos, tem uma epidemias mais importantes, que se reflete na sobrecarga do sistema. Mas, a gente está habituado a lidar com essas epidemias, o sistema de saúde tem uma estrutura adequada para atender”, detalha.

Ainda assim, Renato admite a possibilidade de que o atendimento seja prejudicado pelo número de casos. “Quando você tem a sobrecarga de qualquer doença, impacta na assistência como um todo”, aponta

Combate ao mosquito ainda é principal medida

Para os especialista, impedir que o Aedes aegypti se reproduza ainda é o caminha mais eficiente para controlar a epidemia. O epidemiologista José Geraldo trabalhava na Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, quando o estado registrou o primeiro caso de dengue, há mais de 20 anos. Até hoje, ele espera que, em algum momento, haja uma mudança na atitude.

“A gente sempre tem a esperança que nós todos tomemos lição desses momentos graves e cuidemos de nossas casas, para que o Aedes não se reproduza. A fêmea do mosquito busca picar alguém por no máximo 200 metros, então, em geral o problema está na casa da pessoa ou de um vizinho muito próximo. Mas, depois que já começou a epidemia, os mosquitos já estão voando, então o que tem que focar é em atender as pessoas”, avalia.

O infectologista Renato Kfouri concorda que as medidas de controle individuais são importantes, mas destaca que é essencial também a atuação do poder público. “É preciso que o governo promova o saneamento básico, remova os lixões. Qualquer estratégia de controle do vetor tem falhado, por isso metade de população mundial vive em zona de risco”, informa.

Tratamento e diagnóstico

Segundo os especialistas, não há um tratamento específico, nem para a dengue, nem para chikungunya, portanto a assistência é só de suporte. “Busca a prevenção das complicações das doenças”, explica Renato Kfouri.
Segundo José Geraldo, o maior risco está no quinto dia da infecção pela dengue. “É quando pode acontecer a síndrome do choque, em uma fase em que às vezes a febre diminui e o paciente acha que até melhora. Por isso, o pronto atendimento deve sempre marcar retorno para quando a febre diminuir”, detalha.

O especialista explica que essa síndrome do choque acontece quando a pessoa começa a perder líquido de dentro dos vasos sanguíneos para o tecido. No entanto, com o atendimento qualificado, seguindo os protocolos recomendados pelo Ministério da Saúde, é possível identificar esses riscos e aplicar o tratamento adequado.

Dada a maior gravidade dos casos de dengue, José Geraldo afirma que, durante uma epidemia, os diagnósticos laboratoriais têm menor importância. “O que é importante é o diagnóstico clínico. A sorologia de dengue só positiva lá para o décimo primeiro dia da doença e o teste rápido falha em até 40% dos casos, dando falso negativo. Em caso de dúvida, é seguido o protocolo de dengue, porque é a que tem um risco muito maior de morte”, detalha.

Fique atento aos sintomas, de acordo com a Secretaria do Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG):

Sintomas de dengue: febre (geralmente acima de 38°C, de início abrupto e duração de 2 a 7 dias), dores de cabeça e musculares, dor nas articulações e atrás dos olhos. Também podem estar presentes vômitos, diarreia e erupções cutâneas vermelhas pelo corpo.

Sintomas de chikungunya: a doença possui uma fase aguda com duração de 5 a 14 dias e uma fase pós-aguda que pode durar até 3 meses ou se tornar crônica se os sintomas persistirem após esse período. Na fase aguda, há surgimento abrupto de febre alta (maior de 38,5°C), dor forte nas articulações e músculos, dor de cabeça intensa e fadiga