Ciência
Engenheiro de Moema faz parte de missão da Nasa que leva drone à superfície de Marte
“Como que esse mineirinho foi parar na Nasa?”. A pergunta que o engenheiro Ivair Gontijo mais escuta pode ser feita por inúmeros contextos. Um deles, talvez o principal, é a história do menino de Moema, no Centro-Oeste de Minas, de família humilde, que perdeu o pai cedo e não tinha em mente nem concluir o ensino médio.
Mas, que agora, coordena uma equipe de diversos engenheiros, de várias partes do mundo, que integra a missão de levar um drone para explorar a superfície de Marte que foi mostrado no último domingo, 03 de agosto, no Fantástico.
O foguete com novo robô chamado Perseverance (Perseverança em Português) foi para o planeta vermelho a bordo do foguete Atlas V541, na quinta-feira (30), da Estação da Força Aérea em Cabo Carnaveral, na Flórida. A previsão é que ele chegue a Marte em fevereiro de 2021.
De engraxate à Nasa
Ivair vem de uma família com nove irmãos. Ainda criança, o pai morreu e a mãe ficou sozinha para cuidar dos filhos. Segundo as irmãs do engenheiro, foi a mãe deles que o apresentou o espaço.“Minha mãe entendia tudo de zodíaco, do horóscopo. Não tinha luz elétrica e a gente ficava observando o céu, e ela nos explicando as coisas”, lembrou Terezinha de Fátima Gontijo.
Ivair trabalhou como engraxate quando criança. Atrelado a isso, tentou conseguir uma vaga no time de futebol de várzea. Mas, aos 9 anos de idade, quando viu pela televisão Neil Armstrong andando na lua, o garoto despertou o interesse pelo espaço.
“Eu e outras crianças estávamos brincando de bola na rua em frente à minha casa, quando um dos meus irmãos me chamou e disse que os vizinhos haviam comprado uma máquina estranha, que dava para ouvir e falar com pessoas de longe. E foi assim que eu vi Neil Armstrong andando na lua”, lembrou Ivair.
Nessa época, ele ainda não sonhava em fazer parte da Nasa. Não acreditava, inclusive, que pudesse fazer o ensino médio. A solução para isso foi procurar Bambuí, cidade vizinha, para seguir estudando.
“Não existia ensino médio em Moema. Então fiquei sabendo que em Bambuí tinha uma escola de ensino agropecuário, que ficava a pouco mais de 100 km de distância de onde eu morava”, relembrou Ivair.
Foi na biblioteca da escola que ele conheceu, por meio dos livros, Isaac Newton e Albert Einstein, e mergulhou no mundo da ciência e da física. Prestou vestibular para física e passou entre os dez primeiros colocados na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Se formou, foi para a Universidade de Glasgow, na Escócia, fazer doutorado e, depois de concluir, foi trabalhar na Califórnia onde chegou a ficar sem emprego.
“Entre 2000 e 2003 muitos engenheiros perderam o emprego aqui nos Estados Unidos, inclusive fui um deles”, lembrou Ivair. No entanto, o engenheiro havia estudado algo que poucos estudam: o comportamento do raio laser. Esta é, inclusive, a resposta para a pergunta de como ele foi trabalhar na Nasa.
Perseverança
O primeiro robô construído com a ajuda de Ivair foi lançado para Marte há seis anos: Curiosity (Curiosidade em português), sonda que a Nasa mandou para Marte em 2008. Ele fez o radar que controlou os últimos 4 km de descida. Faz seis anos que o robô está no planeta vermelho.
“Ele descobriu que, dentro na cratera onde ele desceu, houve água líquida estável que durou milhões de anos”, afirmou.
A missão bem sucedida foi o que garantiu ao engenheiro o trabalho da construção do robô Perseverança. O trabalho do Ivair foi essencial para que o equipamento pudesse funcionar. “Muita tensão e uma emoção enorme na decolagem do foguete”, disse o engenheiro.
Ivair coordena a equipe de engenheiros no projeto. “A ideia agora é que vamos procurar por sinais de vida microbiana no passado de Marte”, concluiu.
Com a ajuda do drone, batizado de Engenhosidade, o solo do planeta vermelho será fotografado e as imagens mandadas diretamente para a base da Nasa, nos Estados Unidos. A ideia é um dia colonizar Marte.
Livro
Ivair contou a história, de Moema até Marte, no livro “A caminho de Marte – A incrível jornada de um brasileiro até a Nasa”, vencedor do prêmio Jabuti, o mais tradicional prêmio literário do Brasil, concedido pela Câmara Brasileira do Livro, em 2019.
Fonte: G1
Foto: Reprodução/ Fantástico