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Covid-19, o cabo eleitoral

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Enquanto sobem os números de notificações e de óbitos provocados pela pandemia do Covid-19, sobe também o tom politiqueiro com que a questão vem sendo abordada pelas esferas de governo. Bem como por segmentos específicos da sociedade e do setor econômico, entre outros.

Se o quadro da pandemia é dramático por si só – uma vez que milhares de vidas correm risco – com a politização do tema ele tende a complicar. Pois as ações que são necessárias para o momento podem ficar comprometidas por discursos e posturas meramente eleitoreiras.

Faço coro aos vários analistas políticos sérios que defendem que o embate entre o presidente Jair Bolsonaro e seu ex-ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, estava politizado. Há muito já passou o estágio de preocupação com o Covid-19 e se transformou num palanque de exposição de força ou de construção de imagem.

As falas, as postagens em rede social, as entrevistas, bem como a postura que estavam sendo sustentados por ambos, ajudaram a fechar o raciocínio acima. Estar bem diante da opinião publica num momento tão crucial, gabarita para o pleito de 2022.

Nesse embate, Mandetta não resistiu foi demitido na quinta, 16, por Bolsonaro que o substituiu pelo também médico e empresário Nelson Teich que logo na primeira entrevista garantiu estar alinhado com Bolsonaro. Na queda de braço com o presidente Mandetta caiu, mas caiu de pé.

Com um índice de aprovação imensamente maior que o de Bolsonaro – superior a 60% junto à opinião pública, como aponta pesquisas – já tem partidário do ex-ministro defendendo que ele não se afaste do atual cenário de combate ao Covid-19, assumindo a frente dos trabalhos em Goiás ou São Paulo, a fim de manter a visibilidade e se consolidar como um virtual candidato a presidência em 2022.

Brasil afora a tendência é que esse tipo de postura de polarização – em menor ou maior escala – se replique. Tudo porque 2020 é ano de eleições municipais. Pseudocandidato a prefeito ou a vereador estão aí, cumprindo mandato ou tentando se viabilizar para o pleito que se avizinha.

Na busca pelo voto lançam mão de artifícios variados e apostam (porque não?) que o Covid-19 será um cabo eleitoral de primeira ordem, não importando os seus efeitos para o grosso da população.

Num país cada vez mais polarizado e, portanto, cheio de radicalismos que não observam os pormenores dos fatos, a posição dos políticos – ou a falta dela – sobre a pandemia de Covid-19, e seus efeitos, pode ser determinante no pleito municipal.

Entre o “eu acho assim” e o “eu que mando” tem que haver o razoável, o bom senso. Enxergar o problema livre de paixões e ideologias. Antes do voto: vem eu, você e outro. Não dá para correr risco em função de algo tão sério porque as ações que seriam necessárias estão sendo politizadas.

Desconfie das falas exacerbadas sem ação. Esse tipo de postura é só palanque e quase sempre não dá em lugar nenhum.

Eleições ocorrem a cada dois anos. A vida é para já.

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