De acordo com ele, o propósito dos pesquisadores era determinar, quando ao correr, andar rápido ou pedalar diretamente atrás de alguém, qual distância se deveria tomar, para ter o nível de “não exposição” às gotículas do outro equivalente à distância de 1,5m estando parado.
“Nossa mensagem é: se você vai sair para pedalar com outra pessoa, tente não ir em grupos grandes. Em grupos maiores, você sempre estará no rastro de gotículas. E se a pessoa da frente estiver infectada tossir ou espirrar, as gotículas vão se mover diretamente na sua direção”.
Polêmica
O primeiro problema se deu com a forma da divulgação dos achados. Via Twitter, o professor de engenharia, com 20 anos de experiência em aerodinâmica, publicou um vídeo. A turma cobrou um artigo e ele publicou um texto preliminar. Ainda falta, contudo, um validador científico importante, chamado “revisão dos pares”. Para o professor, esperar por isso em uma situação como a pandemia do coronavírus não seria adequado.
“Precisamos de cientistas, atualmente, que dêem informação correta, honesta. Mesmo que seja a informação que talvez o público não queira ouvir. Mesmo que não tenha sido revisada pelos pares. Assim que se tem certeza, é preciso ir a público. Se estiver errado meu estudo e isso for comprovado, me demito de meus dois empregos nas universidades em que leciono”.
Carga viral
Para a professora Viviane Alves, do departamento de microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), neste estudo falta o principal: o vírus. “As microgotículas, claro, existem, mas a gente não sabe se elas têm capacidade de carregar vírus suficiente para transmitir a doença”, detalha
Viviane chama atenção para a questão da carga viral, a quantidade mínima de vírus com a qual é preciso entrar em contato para que haja a infecção. “A gente não sabe ainda nem a carga viral em uma gotícula de saliva maior, de um milímetro. Então este estudo traz uma sugestão baseada em suposições, por enquanto. É uma hipótese, pode acontecer? Pode, mas por enquanto, não temos evidência que aconteça.
“A real dimensão ou implicação da capacidade infectante a partir de atividades físicas que envolvem o movimento é uma inferência, a partir de um estudo aerodinâmico que simula o que pode acontecer com eventual propagação e efetivação da infecção entre pessoas que compartilham alguma proximidade em atividade física ao ar livre”, diz o professor Mateus Westin, da área de infectologia da Faculdade de Medicina da UFMG. Ele lembra que o risco sempre haverá sempre que as pessoas optarem por se exercitarem junto com alguém.
Por isso, a recomendação da microbiologista reforça o que já preconiza a Organização Mundial da Saúde: “Se você quiser fazer exercício, que seja sozinho, de preferência dentro de casa, mas se for caminhar, que seja sozinho. O que é praticamente impossível, então prefira ficar em casa, arrume métodos alternativos de se exercitar, pelo menos por enquanto”, aconselha Viviane.