Conselheira de saúde aciona PM após ser ameaçada por defender lockdown em BH

A presidente do Conselho Municipal de Saúde de Belo Horizonte (CMSBH), Carla Anunciatta, de 61 anos, relatou que vem recebendo ameaças de morte e de estupro desde o dia em que, mediante avaliação da junta fiscalizadora, recomendou à PBH a implementação do lockdown em Belo Horizonte.

No dia 3 deste mês, o conselho avaliou que a Santa Casa e o Hospital das Clínicas não possuíam mais vagas na UTI nem na enfermaria para atender pacientes vítimas da Covid-19. No último dia 13, Carla registrou boletim de ocorrência junto à Polícia Militar. Um procedimento foi instaurado pela Polícia Civil para apurar o caso, conforme informou a instituição na última quinta-feira, 16 de julho.

De acordo com Carla, desde a sua aparição na imprensa e divulgação da recomendação nos perfis do Instagram e do Facebook do CMSBH, começaram a surgir ataques direcionados a ela e ao conselho. “Alguns perfis vieram me falar que eu queria quebrar a cidade e que eu estava em conluio com 98 chineses que chegarão na cidade em setembro para poder comprar todas as empresas que quebraram em BH”, diz Carla.

Em um dos mais de 600 compartilhamentos de uma das postagens do Conselho no Facebook, Carla afirma ter identificado algumas das ameaças. “Recebi comentários de ameaças de morte e de estupro, apenas pelo fato de eu ser mulher”, fala a presidente em conversa com o jornal O TEMPO. Mesmo diante das mensagens, Carla diz não ter se intimidado. “O intuito do conselho é salvar vidas”, argumenta.

O prefeito Alexandre Kalil anunciou, no dia 26 de junho, que, a partir do dia 29 daquele mês, os comércios não essenciais deveriam fechar as portas. No dia 3 de julho, o conselho argumentou que a adoção do lockdown seria mais eficiente para combater a circulação do novo coronavírus.

Dados do último boletim epidemiológico de Belo Horizonte divulgado nessa terça-feira (14) apontam para 12.123 casos confirmados do novo coronavírus e 288 óbitos em função da doença na cidade.

Perfil falso 

Além das mensagens que tem recebido, Carla comenta que alguém criou um perfil falso utilizando uma foto dela para produzir conteúdos difamatórios sobre ela mesma.

“Uma pessoa criou um perfil no Facebook com uma foto minha, mas de nome Elen Mourão. Ela está propagando mentiras, destruindo a minha imagem”, afirma. Segundo Carla, ela ainda não sabe quem está por trás disso, mas registrou um boletim de ocorrência para se resguardar.

Ela diz que o conselho também elaborou um ofício para ser enviado ao Secretário de Saúde. Dessa forma, ela conseguiu ser incluída no programa de proteção dos defensores dos direitos humanos, que tem a participação de órgãos de Justiça de âmbitos municipais, estaduais e federais e conta com o auxílio das polícias militar e civil.

“Eu não senti medo, mas indignação. Ao mesmo tempo, me senti fortalecida pela grande mobilização feita por conselhos de classes, vereadores, deputados e membros de outros conselheiros que saíram em minha defesa”, afirma.

Por causa das ameaças, Carla foi incluída no Programa de Proteção aos defensores de Direitos Humanos de Minas Gerais (PPDDH/MG), que conta com o apoio de órgãos de justiça de âmbitos estaduais e federais e conta com o auxílio das polícias Militar e Civil

Tentativa de associação da imagem a Kalil 

A presidente do CMSBH comenta também que esses perfis têm tentado associar a imagem dela ao do prefeito Alexandre Kalil. “Sou uma mulher de esquerda e progressista, não escondo minhas preferências ideológicas, elas não interfere em nada no meu caráter e nas decisões do conselho”, diz. “Temos posições diferentes (em relação ao prefeito), e o Conselho não está subordinado à secretaria, mas funciona como um órgão fiscalizador”, diz.

Fonte: Por Laura Maria –  O Tempo

Foto: Arquivo Pessoal Montagem – O Tempo

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