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Com quase 40% dos leitos fechados, Ipsemg deixa pacientes pelos corredores

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Pacientes estão amontoados em macas e cadeiras no corredor do Ipsemg — Foto: Reprodução de vídeo / Arquivo pessoal

Segundo a administração, 168 dos 442 leitos estão fechados sob a justificativa de falta de enfermeiros e de técnicos de enfermagem

Espaços ociosos se contrastam com a superlotação dos corredores do Hospital Governador Israel Pinheiro (Ipsemg), na região Centro-Sul de Belo Horizonte. Na unidade responsável pelo atendimento de pelo menos 840 mil beneficiários, dos quais 205 mil residem na capital e região metropolitana, 39% dos leitos estão indisponíveis devido à falta de profissionais da saúde, segundo a administração da unidade. Com informações de O Tempo.

Conforme dados fornecidos pelo instituto, 168 dos 442 leitos estão fechados sob a justificativa de falta de enfermeiros e de técnicos de enfermagem. São 849 profissionais, número inferior aos 1.099 que seriam necessários para o funcionamento do hospital em sua totalidade.

“Tem três técnicos de enfermagem para atender mais de 40 pessoas, isso só no setor de emergência”, relatou a acompanhante de um paciente que está internado na unidade com o diagnóstico de pneumonia. Conforme pedido por ela, a identidade será preservada — já que ela tem medo de ter ainda mais problemas quando precisar de atendimento para seu familiar na unidade de saúde.

Para ela, pacientes estão “abandonados” por falta de estrutura e assistência. “Uma mulher, que está internada sentada em uma cadeira, deitou no chão porque não suportava mais. A médica alertou sobre o risco de infecção, mas a paciente disse que não suportava mais”, acrescentou.

Uma situação semelhante é enfrentada por outra acompanhante ouvida pela reportagem de O TEMPO. Ela também terá o nome preservado por causa do receio de comprometer a assistência médica da sua mãe, que se encontra hospitalizada na unidade. Segundo a mulher, a idosa está em uma maca debaixo da escada, em um espaço com calor intenso e sem ventilação.

“Ninguém deu banho nela porque não tem funcionário. Pedi um balde e um pano para conseguir dar banho, no leito mesmo. Falta dignidade”, relatou. Situação que desperta o sentimento de revolta na comerciante Maria Cristina Correa, de 48 anos, que também acompanha a sua mãe na unidade de saúde. “Os profissionais são ótimos, mas está faltando gente. Quem está trabalhando, está fazendo milagre”, avaliou.

O que diz a administração do Ipsemg

A administração do Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (Ipsemg) reconhece a situação denunciada pelos acompanhantes e pelos pacientes do Hospital Governador Israel Pinheiro. Além da falta de profissionais na equipe de enfermagem, a gestão da unidade aponta para a escassez de recursos como um dos motivos que comprometem a assistência aos pacientes.

Um levantamento feito pela unidade indicou que a projeção de arrecadação em 2024 é de R$ 1,5 bilhão. O valor, no entanto, está abaixo da despesa projetada — que hoje é de R$ 1,7 bilhão. O déficit previsto somente para este ano é de cerca de R$ 200 milhões.

“É um desafio de financiamento muito grande. Por isso, estamos discutindo um projeto de lei, que deverá ser encaminhado para a Assembleia Legislativa de Minas Gerais, para que essa fragilidade seja discutida. Hoje, o Ipsemg oferece assistência no limite da sua capacidade financeira. Se não mudar, teremos que reduzir a capacidade de atendimento por causa desse déficit”, alertou o gestor público André Luiz Moreira dos Anjos, presidente do Ipsemg desde junho do último ano.

Ele sinaliza que as isenções para familiares dos beneficiários são obstáculos para a gestão. “Nós não temos capacidade para atender aquele beneficiário que não contribui financeiramente”, pontuou. De acordo com a administração, dos 840 mil beneficiários em todo o Estado, 255 mil contam com alguma isenção. Entre aqueles que não pagam por atendimento, estão 140 mil beneficiários com menos de 21 anos, além de 15 mil cônjuges. O Ipsemg conta ainda com mais de 100 mil cônjuges com algum tipo de desconto.

“É muito importante que esse público contribua. Além disso, tem a questão de que, à medida que a remuneração do titular aumenta, ele paga menos de 3,2%. Isso compromete também a arrecadação”, acrescentou.

Déficit nas equipes de saúde

A assistência médica comprometida para os pacientes que se encontram no Hospital Governador Israel Pinheiro é avaliada pelo presidente do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (Sinmed-MG), Artur Mendes, como “omissão do governo de Minas” em relação aos problemas na unidade.

Ele afirma que as denúncias quanto a sobrecarga de atendimento se repetem anualmente e que não são solucionadas com as “medidas paliativas” adotadas pelo Estado, como a contratação de profissionais terceirizados.

“Não apresentam um plano para resolver essas questões. Fica muito claro que a quantidade de profissionais está abaixo do necessário, é algo perceptível. Hoje, a gente vê o governo de Minas bater no peito e dizer que possui capacidade para abrir leitos quando tem o surto de alguma doença, mas, e para contratar profissionais? Não adianta abrir leitos se não tem profissionais para dar assistência”, questionou Mendes.

O presidente do Ipsemg, André dos Anjos, reconhece a dificuldade em contratar profissionais. Ele, inclusive, aponta o fechamento dos leitos como uma consequência da complexidade para atrair enfermeiros e técnicos de enfermagem para a rede. “Em 2023 não conseguimos efetivar os contratos que precisávamos, muito por causa do piso de enfermagem. O Estado só fez o pagamento em novembro, as outras instituições pagaram antes. A pessoa até participou do nosso processo, mas comparava o nosso valor com os demais e optou em não fechar o acordo com a gente”, argumentou.

No entanto, segundo o presidente do Ipsemg, a instituição tem buscado alternativas para garantir atendimento médico aos beneficiários. “Hoje, quando um paciente chega ao hospital do Ipsemg e a unidade está muito cheia, sempre falamos sobre a possibilidade dele ser transferido para pelo menos cinco hospitais da região metropolitana. São unidades referência, como o hospital Luxemburgo, Evangélico, São Lucas, entre outros, mas eles preferem ficar na unidade. É uma opção que, infelizmente, o paciente e o acompanhante fazem pelo desconforto (optam por um local cheio e com falta de leitos do que ser levado para longe) “, justificou.

Para ele, é a recusa pela transferência que faz com que pacientes fiquem aglomerados nos corredores e debaixo de escadas. “Não temos falta de equipe no setor de emergência, mas quando tem essa recusa, fica além da capacidade suportada. E não adianta pensar em colocar esse paciente no 8° ou 10° andar onde tem o leito. Ter a cama não é sinal de assistência. O que precisamos é ter a cama com a equipe assistencial, e isso não temos”, finalizou.

Falas do presidente do Ipsemg

Por quais motivos os leitos estão fechados?

“Estão fechados por falta de profissionais da enfermagem. Tivemos uma redução no número de contratações no ano passado, muito por causa do piso da enfermagem. O Estado só conseguiu pagar o piso em novembro, depois de outras instituições. Esse atraso ocorreu porque não recebemos recurso suficiente do Governo Federal antes de novembro. A pessoa até participou do nosso processo, mas quando ela comparava o valor com o de outras instituições, ela não fechava com a gente”. 

Os pacientes que estão no hospital não podem ser levados para essas camas? Eles precisam ficar nos corredores, debaixo de escadas?

“O paciente não pode ser direcionado para um andar sem equipe assistencial. Ter a cama no 8° ou 10° andar não é sinal de assistência. Precisamos ter a cama com a equipe assistencial. Quando identificamos que a nossa capacidade está cheia, oferecemos o direcionamento para uma unidade parceira, hoje são cinco na região metropolitana. Mas o que temos observado é que o nosso usuário prefere esperar no corredor do que ser transferido”.

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