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CÉU E INFERNO

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Tinha medo de morrer e ir para o inferno. A ideia de queimar, pela vida eterna, no fogo rodeado de capetas e afins, o aterrorizava. Para evitar esse cenário rezava compulsivamente, debulhava, toda noite, um rosário.

Queria mesmo era ir para o céu. Ficar sobre as nuvens, rodeado de anjos e arcanjos de toda ordem. Essa ideia, sim, o reconfortava. Julgava ser merecedor dessa dádiva, pois rezava para os seus e por aqueles que já se foram.

O tolo viveu os seus 60 e poucos anos e não aprendeu que é aqui que se vive o céu e o inferno. É na consciência que estão estes dois ambientes, e é ela que compele o indivíduo a agir na direção de um dos dois.

Quanto maior a consciência, maior a cobrança. Do ignorante não pode ser exigido muito, a não ser que aprenda. Já dos que têm compreensão é necessário que apliquem o que foi apreendido e acrescente ao seu redor o que reteve pra si.

O pior inferno não é o figurativo, mas o que se vive internamente. O mesmo caso se aplica ao céu. Quanto mais equilibrada a pessoa, mais paz ao seu redor existirá.

Filosofia barata à parte, o fato é que nos dias atuais manter-se em paz é um exercício que demanda perseverança. Se não bastassem os grilos de cada um, a convivência, e os atritos advindos dela, acabam por tencionar as relações e os ambientes onde eles ocorrem.

O céu e o inferno são uma questão de postura e não de anseio. Eles estão mais ligados ao campo prático do que ao campo das conjecturas. Sendo assim, independente do meio em que se esteja inserido, é possível ter o mínimo de paz.

Aí cabe outra aferição barata: cada um é capaz, pelo menos internamente, de construir o ambiente em que queira viver.  A partir dessa escolha reproduzir, para o externo, o que foi resolvido internamente.

É aqui, no tempo presente, que tudo acontece. Não adianta muito querer ou fugir de outros ambientes sem se resolver primeiro aqui.

Essa reflexão diária é um estágio purgatório que destila aqueles que se atrevem a querer mais. Por mais que se renegue, o sofrimento, em determinados casos, é instrumento de crescimento.

A cada dia que se vive é dada essa oportunidade. Ter consciência dela e não mudar é um exemplo de sofrimento que não chega a lugar nenhum. Quem sabe, aí, a reza seja necessária para entorpecer os sentidos em busca do engodo da salvação sem atrito. Mesmo que ela seja interna.

Rodrigo Dias

jornalistarodrigodias@bol.com.br

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