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Cavucando sentidos!

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Está tudo estranho. A impressão que tenho é que estamos num liquidificador e estão misturando tudo ao mesmo tempo. Desse preparo, sai um grosso sem gosto que ninguém bebe.

Todo mundo meio suspenso, apreensivo para o que virá à frente. Gente com medo de abrir a porta. Essa página do livro pesa. Está difícil virá-la e a leitura não agrada. É daquelas que faz perder o sono.

O medo vem desafiando a sobriedade. O resultado: perda da razão. Os fatos emparedam e não se trata aqui só da pandemia. Nossas mazelas cotidianas também assombram e parecem estar mais densas.

O flagelo do desemprego, nossa corrupção sistêmica, o abismo social, a polarização irracional são só alguns dos tantos exemplos dos desagrados que nos assombram diariamente.

Esse tempo maluco parece potencializar os histéricos e o caminho para a vida normal se torna mais longo e doloroso. Muita coisa precisa mudar, mas para isso é necessária uma revolução.

Uma revolução íntima na tentativa de expurgar o que vem causando tanto mal. Eu, por exemplo, deixei de ver jornal com a frequência que via antes. Não se trata de alienação, só não quero surtar em decorrência de outros.

Bolsonaro, Moro, Lula e tantos outros são atores de uma comédia dantesca e até que me provem o contrário, estão mais preocupados com o próprio umbigo do que com questões maiores e mais plurais.

Em períodos assim, o mais sóbrio a ser feito é cuidar do próprio quintal. Colocar as coisas em ordem para trazer, minimamente, prazer à própria vista. Quem aprende a cuidar do próprio quintal tende, aos poucos, a ficar mais habilidoso e apto a dar um digitório no quintal ao lado. De quem ainda não conseguiu se organizar.

Em tempos confusos, lucidez é farol que ilumina por dentro e a partir daí dá luz a tudo que nos cerca. No claro, é possível separar o que vai ao liquidificador. Batendo só aquilo que deixará mais forte. Mesmo que o gosto seja ruim.

Afinal, nem tudo que nos faz bem é tão saboroso assim. Mas ao menos tem que ser tragável.

Ocorre que do jeito que está muito do que é imposto é difícil de engolir. Daí a necessidade de separar o que se quer tomar ou não.

Esse artigo não tem a pretensão de ser um texto de autoajuda, muito pelo contrário, ele está impregnado de impressões desse tempo maluco e até as palavras procuram uma saída. Neste caso, sentido.

É você que vai dar. Eu, daqui, continuo perdido. Enquanto escrevo, cavucando meus sentidos.

RODRIGO DIAS é jornalista e web poeta, há mais de duas décadas trabalha no mercado de comunicação. Formado em Publicidade e Propaganda, também atua como assessor de comunicação.

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