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Câncer de mama na gravidez: 12 coisas que toda mulher deve saber
O câncer de mama durante a gravidez é uma condição rara, mas em crescimento, que apresenta desafios únicos. Saiba mais sobre a doença e como é feito o tratamento, que depende do estágio do tumor e leva em conta a saúde da mãe e do bebê
É durante a gestação que a mulher se sente plena por ter a capacidade de gerar e dar à luz uma nova vida. Tanto para aquelas que não estavam esperando quanto para as que tentaram engravidar por muito tempo, isso representa o auge da felicidade. Agora, imagine descobrir durante esse período um problema de saúde grave, como um câncer, e mais especificamente nas mamas, local de produção do alimento mais precioso que irá nutrir o filho? Com informações de Revista Crescer.
O câncer de mama na gestação é compreendido quando o tumor é detectado durante a gestação ou dentro de 12 meses após o nascimento do bebê. Ele é o tipo de câncer mais diagnosticado durante a gravidez, no pós-parto ou em qualquer época da amamentação. E, embora ainda seja considerado raro, os consultórios médicos têm observado um aumento nos casos. O Centro de Pesquisas Oncológicas (Cepon) e o Instituto Nacional de Câncer (INCA) estimam que só em 2023 serão diagnosticados 73.610 mil novos casos deste tipo de câncer no Brasil, em mulheres. Destes, acredita-se que cerca de 4% serão feitos durante a gravidez.
Mas, por que cada vez mais estamos vendo mulheres grávidas com câncer de mama? Os motivos passam pelo estilo de vida, o fato de as mulheres engravidarem em idades mais avançadas, quando o câncer de mama se torna mais prevalente, e também a amamentação por períodos mais curtos e tardios, uma vez que o aleitamento materno é um fator de proteção para este tipo de câncer.
Para esclarecer todas as dúvidas sobre câncer de mama na gestação, CRESCER conversou com a médica Fanny Cascelli, que é oncologista clínica especializada em tumores femininos do Centro de Referência da Mulher em São Paulo, anteriormente conhecido como Hospital Pérola Byington. Ela também possui fellowship (treinamento especializado) em câncer de mama no grupo Oncoclínicas. Confira:
1. Gravidez tardia aumenta os riscos de câncer de mama?
De acordo com um estudo realizado na região da Lombardia, na Itália, a incidência de câncer de mama durante a gravidez tende a aumentar porque atualmente muitas mulheres priorizam sua formação e carreira, adiando a maternidade para um momento posterior. Como resultado, a gestação geralmente ocorre após os 35 anos, e quanto mais avançada a idade, maior o risco de desenvolver câncer de mama. Vale lembrar que a taxa de incidência de câncer de mama na população italiana é maior, cerca de 0,08% em relação aos 0,04% observado na população em geral.
2. A amamentação é fator de proteção para o câncer de mama?
Como já é sabido há muito tempo, a amamentação ajuda na prevenção deste tipo de câncer. Isso acontece porque durante o aleitamento materno ocorrem alterações hormonais que atrasam o ciclo menstrual, resultando em menor exposição do tecido mamário ao hormônio estrogênio. Isso, por sua vez, retarda o crescimento de células tumorais na mama, especialmente em certos subtipos de tumores, que têm receptor hormonal. Vale lembrar que não basta amamentar, mas o tempo de amamentação também é importante. Segundo estudos, mulheres que amamentam por um período mais curto enfrentam um maior risco de desenvolver a doença. Quem amamenta por 12 meses ou mais tem um risco reduzido em 4,3% neste tipo de tumor.
3. O tratamento do câncer deve ser feito na gravidez?
Quanto mais cedo for detectado e tratado qualquer tipo de câncer, maiores são as chances de cura da doença. Portanto, assim que detectado, o tratamento deve começar o mais rápido possível. O tipo de tratamento durante o período gestacional vai depender do tempo da gestação que a paciente se encontra e do tipo de câncer.
4. Pode fazer quimioterapia durante a gestação?
A quimioterapia é contraindicada no primeiro trimestre, pois é o período da organogênese, quando os órgãos do bebê se formam. Ela deve ser utilizada a partir do segundo semestre com medicamentos que não prejudicam a formação e desenvolvimento do bebê. A cirurgia, por sua vez, pode ser realizada em qualquer período da gestação. Já a radioterapia é contraindicada.
5. Imunoterapia não é indicada na gravidez?
Em 2022, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou o uso da imunoterapia para apenas um subtipo de câncer de mama, o triplo negativo. Porém, como se trata de uma terapia relativamente nova e não foram realizados estudos abrangentes para avaliar sua segurança durante a gravidez, não há informações suficientes sobre os potenciais riscos para a mãe e o feto. O que se sabe é que como a imunoterapia funciona ativando o sistema imunológico do paciente para combater o câncer, esse aumento na atividade do sistema imunológico pode desencadear reações inflamatórias e imunológicas que podem afetar o desenvolvimento normal do feto, aumentando o risco de complicações na gestação.
6. Hormonioterapia também é contraindicada na gravidez?
O mesmo acontece com a hormonioterapia, pois alguns medicamentos utilizados podem afetar os níveis hormonais no corpo, como os antagonistas de receptores hormonais. Isso pode ter efeitos adversos no desenvolvimento fetal, aumentando o risco de malformações congênitas e outros problemas de saúde para o bebê. Vale lembrar que em muitos casos, há opções de tratamento que podem ser consideradas mais seguras durante a gravidez, como a cirurgia e quimioterapia, dependendo do tipo e estágio do câncer.
7. Há casos em que se deve avaliar o aborto terapêutico?
O aborto terapêutico, que envolve a interrupção da gravidez para salvar a vida da mãe, é um assunto complexo e delicado que varia de acordo com as circunstâncias individuais. Por exemplo, em casos em que uma mulher é diagnosticada com um tumor avançado, com múltiplas metástases, durante o primeiro trimestre de gravidez, o aborto terapêutico pode ser considerado como uma alternativa para preservar a vida da mulher. É fundamental ressaltar que a decisão é tomada em conjunto com a paciente e leva em consideração seus desejos e os da família.
8. Antes de engravidar é preciso investigar as mamas?
Além do exame físico geralmente conduzido pelo ginecologista/obstetra, é comum que se solicite como exame de rotina o ultrassom de mamas. Para mulheres com 40 anos ou mais, ou que possuam histórico familiar da doença, é recomendada também a mamografia antes da gravidez, além do ultrassom e exame físico.
9. Nem todos os exames são permitidos durante a gravidez?
Durante o tratamento, a paciente precisará realizar alguns exames, como o ultrassom das mamas, e em alguns casos, a mamografia, além de outros exames que o especialista possa solicitar para determinar o estadiamento da doença. Em gestantes, evita-se a realização de exames de tomografia com contraste, dando preferência a exames como o Raio X de tórax com proteção abdominal, ultrassom de abdome ou ressonância de abdome sem contraste.
10. Exames genéticos não previnem o câncer de mama?
Até o momento, não existem estudos suficientes que permitam a detecção precoce do câncer de mama antes de seu surgimento. No entanto, em certas situações, testes genéticos, conhecidos como assinaturas genômicas, são usados em pacientes mais jovens para avaliar a necessidade de quimioterapia e se ela está indicada ou não.
11. É preciso interromper a amamentação durante o tratamento?
No caso do câncer de mama pós-gestação, assim que seu subtipo, tamanho e grau são identificados, é estabelecido um plano terapêutico. A paciente deve interromper a amamentação e iniciar a quimioterapia. Esse esquema de tratamento é semelhante ao de uma mulher que não estava gestante.
12. Quanto tempo depois a mulher pode engravidar?
Não há um consenso universal sobre esse assunto, pois isso depende do tipo de tumor e da duração do tratamento. No ano passado, durante o Congresso Mundial de Câncer de Mama em San Antonio, no Texas (EUA), foi apresentado um estudo chamado “Positive” (3) que representou um grande avanço. Esse estudo permitiu que pacientes com tumores luminais em Estágio Clínico I a III interrompessem o uso da hormonioterapia após 18 meses de tratamento para engravidar, demonstrando a segurança dessa interrupção. Após a gestação, essas pacientes retomam a hormonioterapia até concluir o período de tratamento prescrito.