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Economia

Banco Central eleva Selic a 14,25%, maior patamar desde 2016

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Banco Central elevou a Selic a 14,25% Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) elevou a taxa básica de juros, a Selic, em 1 ponto percentual, passando de 13,25% para 14,25% ao ano, em reunião nesta quarta-feira (19 de março). Com isso, a taxa atingiu seu maior patamar desde agosto de 2016, quando também estava em 14,25%. A movimentação já era esperada, conforme pesquisa semanal do boletim Focus, que ouviu diversos analistas de mercado.

Esta é a quinta elevação consecutiva da Selic. A taxa chegou a ser fixada em 10,5% de junho a agosto do ano passado. Depois, sofreu uma alta de 0,25 ponto em setembro, outra alta de 0,5 ponto e três de 1 ponto percentual, contando com o ajuste de hoje.

Confira a evolução da taxa no Brasil:

A movimentação faz parte das tentativas do BC de conter a alta da inflação no Brasil. Segundo o último boletim Focus, a estimativa de inflação para 2025 está em 5,66%, bem acima da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que era de 3%, podendo chegar, com margem de tolerância, a 4,5%.

Em sua justificativa para o aumento, o BC diz que “essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta”. O comitê cita o cenário externo, que “segue exigindo cautela por parte de países emergentes” e, em relação ao cenário doméstico, pontua que “a inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta para a inflação e novamente apresentaram elevação nas divulgações mais recentes”.

“O Comitê segue acompanhando com atenção como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. A percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida segue impactando, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes”, diz. O Comitê diz ainda que nas próximas reuniões ainda deve haver aumentos na taxa, mas em menor patamar.

Entidades e especialistas reagem ao aumento

O Conselho Regional de Economia da 2ª Região – SP (Corecon-SP) publicou uma carta aberta alertando para os limites do uso da taxa Selic para o combate à inflação. “Um dos efeitos negativos de uma taxa Selic muito elevada é o impacto sobre a trajetória da dívida pública, uma vez que as expressivas despesas com juros têm sido o principal fator a impulsionar o aumento do endividamento e a deterioração da percepção sobre o risco fiscal. Em 2024, os gastos com juros atingiram R$ 950 bi, contribuindo para um déficit nominal de R$ 998 bi”, diz a entidade.

O Corecon-SP ainda pondera que o maior impacto inflacionário veio da alta dos preços dos alimentos, influenciada por fatores climáticos, como as secas e as enchentes, além do ciclo do boi, que afeta a oferta de carne. “Nessas situações, o aumento da Selic tem pouca ou nenhuma eficácia, pois os juros elevados não reduzem o preço dos alimentos nem alteram as condições climáticas. Ao contrário, aumenta o custo do capital para todos e isso vai ser repassado aos preços. O sacrifício da redução da inflação recai sobre toda a sociedade, especialmente para os tomadores de recursos financeiros”, alerta a entidade.

Seguindo a mesma linha de raciocínio, na visão do economista da casa de análise Top Gain Bruno Cotrim, a alta da taxa de juros sozinha não consegue combater a inflação. “Se o aumento da taxa de juros não consegue mais fazer com que o país tenha um controle inflacionário, não adianta a gente ficar subindo só taxa de juros. Com o Brasil subindo 1 ponto percentual da taxa básica de juros, nós vamos ser um dos países, senão o país, que mais paga uma taxa de juros real”, avalia.

Já a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) diz em nota que reconhece a importância do controle da inflação para a estabilidade econômica, mas alerta para os impactos negativos dos juros elevados. “A elevação da Selic a níveis tão altos tende a restringir os investimentos produtivos, aumentar os custos de produção e reduzir a competitividade da indústria brasileira e mineira”, ressalta Flávio Roscoe, presidente da FIEMG.

Para Roscoe, a adoção dessa medida tende a desacelerar ainda mais a atividade econômica, refletindo na geração de empregos e renda das famílias. Ele também aponta que a taxa básica de juros em patamar tão elevado “aumenta significativamente o custo financeiro das empresas, que enfrentam despesas maiores com empréstimos e capital de giro, além de encarecer os produtos finais, pressionando a inflação – justamente o que a política monetária busca conter”.

“É essencial implementar medidas que não apenas mantenham a inflação sob controle, mas também contenham os gastos públicos, preservem o ambiente de negócios, estimulem investimentos produtivos e promovam o crescimento econômico de maneira sustentável”, afirma Roscoe.

A Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), também se manifestou dizendo que “a estratégia do governo não está surtindo o efeito desejado, pois a inflação continua em alta”. “A manutenção de taxas altas de juros por longos períodos pode prejudicar a recuperação econômica, limitar a expansão dos negócios e afetar a criação de empregos”, argumenta o presidente da CDL/BH, Marcelo de Souza e Silva. “O aumento dos juros também pode gerar inadimplência de empresas e consumidores, dificultando a recuperação econômica”, diz.

Outro ponto levantado por Souza e Silva, é a restrição ao investimento. “As empresas reduzem os investimentos em expansão, o que pode impactar o crescimento do setor e a geração de empregos”, disse. “Reconhecemos a importância do controle da inflação, mas defendemos um equilíbrio entre essa meta e a necessidade de estimular o crescimento econômico”, conclui Souza e Silva.
A Fecomércio-MG lembra que “a alta da Selic aumenta o custo de capital para os empresários, dificultando a expansão dos negócios e a geração de empregos” e pontua que “uma política monetária calibrada depende também da política fiscal adotada pelo país”.

A entidade reforça que manter a inflação sob controle é essencial para evitar aumentos na taxa de juros, mas pondera: “É necessário que haja a adoção de uma política econômica coordenada, com políticas monetárias e fiscais claras, acrescido de uma minimização dos riscos fiscais, além de uma gestão da dívida e contas públicas transparentes. É preciso criar um ambiente para um crescimento econômico, sustentável e de longo prazo para todos os setores da economia brasileira.”

A professora da Uninter Aleksandra Cabrita lembra que o aumento da Selic é uma ferramenta clássica de política monetária para conter a inflação, mas “esse efeito não é imediato e pode levar alguns meses para se materializar”, pondera. “A Selic é eficaz para conter a inflação, mas seu impacto é desigual. Enquanto setores dependentes de crédito sofrem mais, outros podem ser menos afetados. O aumento da Selic pode também desacelerar a economia, reduzindo o consumo e o investimento. Em um cenário de baixo crescimento ou recessão, isso pode agravar problemas sociais, como desemprego e desigualdade”, argumenta.

“A política de elevação da Selic é uma medida necessária, especialmente quando há pressões de demanda e descontrole de expectativas, mas algumas questões precisam ser consideradas”, pontua. “Para além da política monetária, é essencial adotar reformas estruturais que melhorem a produtividade da economia, reduzam custos logísticos e aumentem a competitividade. Além disso, políticas fiscais responsáveis e investimentos em infraestrutura podem ajudar a controlar a inflação de forma mais sustentável”, sugere Aleksandra.

Do outro lado da mesa, o planejador financeiro e sócio da The Hill Capital Marcelo Bolzan enxerga a decisão de aumento da Selic como um acerto do BC. “E eu vejo com bons olhos essa sinalização de que vai sim continuar aumentando os juros, mas com uma magnitude menor. Isso porque quando a gente avalia os dados de inflação que saíram recentes, o IPCA de fevereiro que veio em 1,31% e o acumulado de 12 meses, está bastante pressionado ainda, acima de 5%”, diz. “Realmente necessita-se, nesse momento, de um comitê duro que continue subindo os juros, mas em menor magnitude”, avalia.

“Eles deixam bem claro, assim como nos últimos comunicados, que vão perseguir a inflação dentro do centro da meta, no horizonte relevante. E esse horizonte relevante a gente está falando de um ano a um ano e meio, não é a inflação desse ano, e, sim, eles já estão olhando para a metade de 2026”, comenta Bolzan.

O analista de investimentos e co-fundador da Dom Investimentos, Alison Correia, também espera que o Comitê continue subindo a Selic. “Estamos indo rumo ao 15% até o final do ano”, diz. “Para a próxima reunião, eu trabalho com uma possibilidade de um aumento de 0,5 pontos percentuais”, estima. “Para a abertura da Bolsa amanhã, levando em conta ainda essa manutenção, eu acho que não vai ter muita diferença nas cotações. Na verdade, a gente pode ver amanhã uma correção pela Bolsa ter subido seis dias consecutivos e o dólar ter tido uma queda relevante”, prevê.

Fonte: https://www.otempo.com.br/economia/2025/3/19/banco-central-eleva-selic-em-1-ponto-percentual-e-taxa-chega-a-14-25

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