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Áudio aponta tentativa de interferência na apuração do MP sobre fura-filas em MG

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Um áudio de uma reunião entre integrantes da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) obtido pelo jornal O TEMPO sugere que os participantes do encontro atuaram para interferir nas investigações do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) sobre os fura-fila da vacinação na secretaria.

Na gravação, uma pessoa que seria o chefe de gabinete da SES, João Pinho, discute com um homem chamado Everton, possivelmente o chefe da assessoria de comunicação (Ascom) da pasta, Everton Souza, e outros dois servidores a resposta a um pedido de informação do Ministério Público de Minas Gerais, que também seria compartilhado com a CPI dos Fura-Fila.

A promotora Josely Ramos Pontes pediu à SES a lista de quantos servidores vacinados estavam trabalhando presencialmente e quantos estavam em regime de teletrabalho quando foram vacinados e qual o regime de trabalho atualmente.

Confira o áudio divulgado pelo jornal O Tempo: 

A primeira versão da resposta enviada para o gabinete da SES – e que seria repassada ao MPMG – aponta que os dois servidores da área de publicidade, que foram vacinados, estão em home office.

Com o argumento de protegê-los da exposição na mídia, o chefe de gabinete, João, sugere aos dois servidores que passem para o regime presencial para que o documento a ser enviado ao MPMG diga que nenhum servidor que foi vacinado está em regime de teletrabalho.

O homem chamado Everton, possivelmente o chefe da Ascom, explica o procedimento:

“A gente chamou vocês aqui para conversar porque a gente ainda pode mudar esse discurso, dizendo que depois da segunda dose a gente está se organizando para que vocês passem a vir presencialmente. E aí vocês teriam realmente que abrir mão do teletrabalho para que a gente consiga responder essa demanda e (vocês) não serem eventualmente expostos, como o João falou”, explicou.

Os dois servidores topam voltar ao regime presencial. A conversa segue e, já no final, um deles questiona: “A partir de segunda-feira então a gente volta ao regime presencial e vocês alteram esse documento aí?”

“Na verdade o que vai acontecer: se a gente acordar aqui agora que a partir de segunda-feira vocês vão vir de forma presencial, eu faço a alteração no documento [que seria enviado ao MPMG], porque também não é fácil pra mim, eu cheguei tentando, já cheguei sendo meio que obrigado a tentar corrigir o problema [inaudivel]”, responde o homem chamado Everton.

A conversa aconteceu em uma sexta-feira, sem data especificada na gravação. Um dos servidores confirma que tomou a segunda dose na terça-feira daquela mesma semana.

Na gravação é mencionado que quando cada setor da SES enviou a lista dos servidores que seriam vacinados, os dois foram incluídos pela então chefe da Ascom à época, Virginia Silva, como estando em regime de trabalho presencial.

“Essa é a forma como está estabelecido no email que a Ascom mandou para a subsecretaria de Vigilância. Então aqui tem um grau de exposição direto. Uma ligação direta que não se fecha”, explica João, que diz ser o chefe de gabinete.

Chefe de gabinete demonstrou intenção de alterar resolução para evitar questionamentos

O homem chamado João que se identifica como chefe de gabinete demonstra durante a reunião a intenção de alterar uma resolução interna da Secretaria de Saúde de Minas Gerais para evitar que a pasta seja alvo de questionamentos do Ministério Público e da Controladoria Geral do Estado.

Resolução interna da Secretaria de Saúde considera que um servidor trabalha presencialmente caso ele compareça à sede da pasta pelo menos três vezes por semana. A conversa indica que a mesma norma, na época da vacinação, determinava que apenas 50% dos servidores da secretaria poderiam trabalhar presencialmente.

Isso, durante a conversa, foi apontado como um argumento a ser utilizado pelos órgãos de investigação contra a Secretaria de Estado de Saúde.

“Eu acho que a Josely [promotora] e a Controladoria [Geral do Estado] podem pegar a [resolução] 7.229 para falar ainda mais que a gente estava desorganizado. ‘Uai, mas por que você mandou essa gente então [para vacinar] se não podia voltar mais de 50%?”, prevê João.

Ele diz que inclusive pretende conversar com o secretário de Saúde, Fábio Baccheretti, para alterar a resolução. “A gente está aqui, eu anotei aqui para tentar despachar com o Fábio na segunda a possibilidade da gente alterar a resolução. Estou com esse receio das pessoas utilizarem isso para poderem nos expor. Utilizar isso contra a gente”, completa João.

Em nota, o governo de Minas Gerais informou que tomou conhecimento do áudio na tarde desta quinta-feira (22) e que está apurando a veracidade e o conteúdo da gravação.

“O Governo de Minas reitera seu compromisso com a transparência e reafirma que todas as denúncias relativas ao processo de vacinação de servidores são apuradas por órgãos de controle, com colaboração do governo estadual”, diz nota enviada à imprensa.

Fonte: por Pedro Augusto Figueredo –  O Tempo

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