O ataque a policiais federais protagonizado neste domingo (23) pelo ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB), ocorre a exatamente uma semana das eleições presidenciais, o que, segundo a cientista política Maria do Socorro Braga, professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) pode impactar no resultado do pleito.

A especialista analisa que a ação violenta protagonizada pelo ex-parlamentar, apoiador do candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), pode interferir principalmente na decisão de quem ainda não definiu o voto. “Ainda é preciso aguardar um pouco para conhecer os desdobramentos, mas esse evento pode ter resultado sobre os indecisos e ajudar a decidir a eleição”, afirma.

Para Maria do Socorro, é possível que o caráter violento da ação de Roberto Jefferson – que lançou granadas e disparou tiros de fuzil contra os agentes da Polícia Federal durante uma tentativa de cumprimento de ordem de prisão contra o ex-parlamentar – acabe desfavorecendo a campanha de Bolsonaro. “Esse evento de curto impacto tão perto da eleição pode favorecer o ex-presidente Lula e favorecer o atual presidente Bolsonaro dado o grau de violência”, avalia.

O filósofo e cientista político Dênis Rosenfield concorda. Segundo ele, a declaração de Bolsonaro, que usou as redes sociais para chamar o ataque contra os agentes da PF de um “comportamento de bandido”, é uma tentativa de “contenção de danos”. Para o especialista, no entanto, deve ser bem difícil reverter o impacto negativo das ações de Jefferson a tempo da eleição.

Por outro lado, o cientista político e sócio da Tendências, Rafael Cortez, o episódio não deve provocar reações a ponto de alterar os rumos da eleição. “É muito difícil a gente ver uma alteração do voto de ambos os lados. É mais um capítulo da mesma narrativa. Basicamente, o ato de Jefferson coloca um senso de urgência muito elevado para a candidatura do governo, que precisaria trazer alguma novidade para virar. Mas não me parece que ato altere cenário da candidatura de Bolsonaro”, afirmou Cortez, em entrevista ao Estadão.

Para Cortez, a tendência é que a ação de Jefferson só reforce tanto os votos de Lula (PT), quanto de Bolsonaro, o que manteria, portanto, o favoritismo do candidato petista.

O ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) atacou agentes da Polícia Federal (PF) com fuzil e granadas, neste domingo (23). O confronto ocorreu depois de o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ter determinado a detenção do político por ofender a ministra do STF Cármen Lúcia – além de ter atacado à Corte e o sistema eleitoral.

Na sexta-feira (21), Jefferson publicou um vídeo proferindo ofensas contra a ministra. Na ocasião, comparou a magistrada a uma prostituta.

Jefferson resistiu à prisão e atirou contra agentes da Polícia Federal. Um delegado e uma policial foram feridos por estilhaços durante o cumprimento de mandado, na casa do ex-parlamentar, em Levy Gasparian, no Rio de Janeiro. Segundo a corporação, ambos foram encaminhados a um hospital e estão fora de perigo.