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Saúde

Após isolamento, outros vírus voltam a circular entre crianças

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Após uma redução significativa de casos de outras infecções respiratórias que atingem crianças, fora a Covid-19, os vírus mais comuns voltam a circular entre os mais novos e deixam especialistas em alerta para o próximo outono e inverno, quando as taxas de isolamento social podem estar ainda menores que as atuais. As informações são do Jornal O Tempo.

Entre meados e o final de outubro deste ano, foram registrados 175 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) causados pelo Vírus Sincicial Respiratório (VSR) no Brasil, por exemplo, número cinco vezes maior que os 35 formalizados no mesmo período de 2020. Ao mesmo tempo, a proporção de casos de Covid-19 confirmados que levaram a hospitalizações por SRAG entre crianças caiu de 8,9% para 2,2%, de acordo com número da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Com potencial de gravidade principalmente para os menores de dois anos, a volta da circulação do VSR preocupa em um momento em que parte das crianças não teve contato social o bastante nos últimos meses para desenvolver algum grau de imunidade.

“Na melhor das hipóteses, teremos o mesmo cenário que tínhamos antes da pandemia. Talvez haja algum grau de piora, pensando no VSR e no Influenza, já que crianças que teriam tido contato com esses vírus neste ano ainda não terão tido”, pontua a infectologista pediátrica e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Lilian Diniz.

No pronto-atendimento do Hospital Infantil João Paulo II, o número de casos respiratórios aumentou 4,5 vezes em outubro deste ano, em relação a outubro de 2020: foram 2.665 contra 585. “Por Covid, temos só uma internação agora, mas muitos pais já chegam aqui pensando ser a doença. Geralmente, as crianças de até cinco anos têm de sete a dez infecções virais por ano. Acredito que essa infecções tenham se deslocado para o final do ano, desta vez, porque as crianças foram voltando às escolas ao longo dos meses” diz a infectologista pediátrica do hospital Bárbara Marques.

A Covid-19 foi uma das primeiras doenças que passou pela mente de Evelin Cristiane, 25, quando o filho, Antony, de três meses, começou a apresentar sintomas respiratórios, no final de outubro. “Começou como uma tosse, levei na UPA e disseram que não era nada de mais, mas a tosse piorou e depois ele ficou internado no CTI. Já chegou no hospital fazendo teste de Covid, mas graças a Deus não era”, conta, comemorando a alta que o filho recebeu mais de duas semanas depois do atendimento.

O pesquisador em saúde pública da Fiocruz Leonardo Bastos pontua que casos de SRAG em crianças podem já ser ainda maiores neste ano, dado o eventual atraso nas notificações, e avalia que os números do inverno de 2022 podem ser mais elevados que o habitual. “Se essa sensibilidade se mantiver e continuarmos em alerta e testando sempre que houve alguém com sintoma respiratória, poderemos ver mais casos”, pontua.

Volta às aulas abre portas para retorno de infecções frquentes

As aulas presenciais trazem de volta à rotina das famílias as gripes e outras doenças virais que já eram comuns antes da pandemia. O hábito de enviar a crianças com sintomas gripais à escola, fonte de contágio de doenças respiratórias sazonais, tornou-se impensável durante a crise sanitária. Mesmo com a contenção dos números da Covid-19 com a vacinação e a esperança de um ano letivo mais típico em 2022, a manutenção de cuidados pode atenuar a erupção de mais doenças respiratórias em crianças, reforça a infectologista pediátrica Bárbara Marques.

“Não enviar a criança doente para a escola deveria ser uma reinação para a toda a vida, mas sabemos da dificuldade dos pais no dia a dia e que muitos precisavam mandá-las. Com a pandemia, isso mudou e devemos manter o cuidado”, pontua.

Após meses sem adoecer, as filhas gêmeas da advogada Michele Buldrini, 41, Júlia e Bruna, de 6 anos, voltaram à escola e contraíram faringite viral. O colégio, privado, permitiria que elas retornassem à rotina normalmente após apresentar teste negativo para Covid-19, mas Michele preferiu mantê-las longe do contato com colegas durante uma semana. “Sempre tive zelo por isso, para não adoecer outras pessoas, e depois da pandemia vou continuar”, diz.

A médica Lilian Diniz diz que a eventual aprovação de vacinas contra Covid-19 para crianças acima de cinco anos, que já é realidade nos Estados Unidos, mas não no Brasil, aliviaria o cenário em 2022. “Seria um vírus a menos na época de maior circulação de doenças respiratórias. Mas, ao mesmo tempo, o grupo que preocupa mais são os menores de dois anos, para o qual ainda não temos vacina”, pontua.

A dentista Marina Mezêncio, 38, diz esperar um cenário mais favorável no próximo ano, quando pretende matricular o filho Bernardo, de dois anos, em uma escola pela primeira vez. No último mês, sua filha de 4 anos, Maria Luiza, teve sintomas gripais, sob suspeita de Covid-19. “Antes da pandemia, era todo mês, mas quando era só um narizinho escorrendo e eu via que não era nada, mandava para a escola. Depois da pandemia, sinceramente, eu acho que isso volta ao normal”, avalia.

Minas Gerais
As internações por problemas respiratórios em crianças de até 9 anos em Minas Gerais mais que dobraram em outubro deste ano, em relação ao mesmo mês em 2020, passando de 543 para 1.192, segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG). O número inclui todas as casas respiratórias e pode incluir casos mais tarde confirmados como Covid-19.

 

Além da Covid

Vírus que já afetavam crianças de até 9 anos antes da pandemia voltaram a circular com maior intensidade, após meses de isolamento social.

BRASIL
Total de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em crianças de até 9 anos*:
2020: 2.484
2021: 2.404

SRAG causada por Vírus Sincicial Respiratório (VSR) em crianças de até 9 anos*:
2020: 35
2021: 175

SRAG causada por Covid-19 em crianças de até 9 anos*:
2020: 222
2021:  59

– 8,9% dos casos de SRAG em crianças de até 9 anos foram confirmados para Covid-19 em 2020, percentual que caiu para 2,4% em 2021.

*Dados de meados de outubro ao final de outubro, considerando casos testados para as doenças. Dados mais recentes podem ser atualizados.  Fonte: Infogripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz

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