Segundo Fábio Terra, pesquisador em política monetária e professor de Economia na Universidade Federal do ABC (UFABC), trata-se de uma questão de logística.
“O Brasil é, por conta da desigualdade social, um país em que uma vasta parcela da população não acessa o sistema bancário. Então, eles não vão usar moeda bancária, cartão de débito, conta corrente, depósito à vista, transferência. Eles vão usar dinheiro vivo”, afirma.
Cerca de 42% da população brasileira não tem acesso a conta bancária, segundo os últimos dados do Instituto Locomotiva.
Outra questão colocada por Terra é que quando chega um momento de crise econômica, como a que o Brasil vive agora, intensificada pela pandemia de covid-19, as incertezas aumentam.
Isso faz com que aquelas pessoas que têm dívidas tirem o dinheiro do banco, com medo de perdê-lo para esses débitos, e usem a moeda viva. Mesmo com o valor do auxílio emergencial de R$ 600, as pessoas sacam, com medo dos bancos tomarem o dinheiro, explica Terra.
“Aquilo que já é um uso comum no Brasil do dinheiro vivo em momentos de crise claramente aumenta ainda mais. Então, a razão do Banco Central é construir uma facilidade maior de distribuir as notas e, desta forma, como a nota de R$ 200, acaba fazendo com que as pessoas acessem o auxílio emergencial em um volume menor de notas, sendo mais fácil chegar nos rincões do Brasil”, afirma.
Para o professor, nesse sentido, a medida veio tardiamente. Houve ocasiões em que os beneficiários do auxílio ficaram horas nas filas de banco para retirar o valor e, quando chegaram na boca do caixa, não havia mais dinheiro em papel. “Com a nota de 200 reais, essa movimentação é mais fácil, porque será agora necessário o uso de menos notas para se conseguir o mesmo valor, então isso facilita o volume físico da distribuição”, afirma o professor.
Volta da inflação?
O anúncio de lançamento da nota de R$ 200 acendeu em muitas pessoas o temor da volta da inflação. Em períodos de alta inflação, o dinheiro perde valor rapidamente e notas de maiores valores são lançadas o tempo todo. Na década de 1990, o Brasil chegou a ter uma nota de R$ 500 mil cruzeiros, com o rosto de Mário de Andrade estampado.
Uma nota de R$ 200 pode, de fato, trazer essa memória. Mas, segundo Terra, não se trata de uma questão inflacionária, visto que o Brasil se encontra em um processo de deflação, ocasionado pela crise econômica.
“Isso é absolutamente irrealista, porque a gente está entrando na verdade em um processo deflacionário em função da atividade econômica profundamente recessiva”, explica.
Uma outra narrativa que entrou em torno do lançamento da nota é que isso estimularia a corrupção, uma vez que ficará mais fácil transportar maiores quantidades de dinheiro. Terra pondera que não se pode julgar a causa pelo efeito. “A causa da corrupção não é uma nota de R$ 200”, pontua. Para o especialista, um dos principais problemas que se impõe é a oferta de troco nas transações realizadas com notas de maior valor.
Edição: Leandro Melito / Brasil de Fato