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A sujeira por debaixo do tapete

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Um dia desses ouvi algo mais ou menos assim: Essa pandemia não mudou ninguém. Quem era bom, continuou bom. Quem era mau, continuou mau. Na verdade o que aparenta ter mudado, ou ao menos esteja mais latente, é a nossa sensibilidade em observar melhor estes dois extremos.

Quem era paciente e caridoso há seis meses, continua sendo. O mesmo acontece com aqueles mais prepotentes e arrogantes, que continuam a agir da mesma forma.

Talvez por não ter mudado muito as pessoas, a pandemia no Brasil – aliada a outros fatores como o sanitário e o social – esteja tão bem desenvolvida. Assolando todas as regiões.

Se por um lado existem aqueles que, além de se preocuparem com a própria saúde se preocupam também com a do próximo, e tomam as medidas indicadas, existem outros que não estão nem aí.

O caso do desembargador Eduardo Siqueira – que foi flagrado sem máscara, e orientado por um guarda municipal da cidade de Santos a usar se recusou,  dando carteirada e humilhando o policial – é apenas um recorte entre tantos que acontecem por aí.

Por ser quem é, o tal desembargador se julgou superior ao policial. No vídeo que mostra a agressão do desembargador percebe-se que outras pessoas transitam pela orla usando máscara. Ele não. Era tão superior que recusou a fazer o certo e criou o seu próprio código de conduta.

As pessoas são o que são. E não é a possibilidade da doença, e até da morte, que vão mudá-las assim, de uma hora para outra. A essência de cada um é o que se é no dia a dia. Sem máscaras.

Historicamente, a ambiguidade de valores é uma característica do povo brasileiro. Uma espinhosa relação entre exploradores e explorados. Entre quem doa e entre aquele que dá um jeito para tirar proveito da situação e se dar bem. Mesmo que para isso seja necessário desviar recursos que são de todos para o próprio bolso.

Em países com maior civilidade, organização e responsabilidade social a pandemia ainda assusta, mas está controlada. Por aqui, ela se incorpora ao conjunto de outras mazelas que de tanto relativizadas vão se tornando culturais e por fim, se acostuma com a sujeira por debaixo do tapete e vai se tocando a vida.

A sujeira continua lá, mas se faz vista grossa.

Não sou antropólogo e tampouco cientista social. Mas tenho comigo que os desafios que temos em termos de resistência no enfrentamento dessa pandemia têm relação, entre outros fatores, com a nossa formação social enquanto povo.

Combater certos fantasmas e amadurecer como nação. Um dever de casa que deve ser feito. Hoje é a pandemia, amanhã a desigualdade social, o racismo

Tudo deve ser visto agora, sobre a luz de ontem. Uma visão ampla dos fatos ajuda a explicar certas atitudes.

RODRIGO DIAS é jornalista e web poeta, há mais de duas décadas trabalha no mercado de comunicação.

Formado em Publicidade e Propaganda, também atua como assessor de comunicação.

e-mail: [email protected]

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