Colunistas
A educação do “Brazil”
Em tempos atuais, em meio à pandemia, com as aulas em formato online, entre outros mecanismos, alguns pontos vieram à tona, como a questão da educação do brasileiro.
Com os pedidos de auxílio emergencial, a dificuldade de alguns cidadãos em solicitá-lo, em que dados simples como CPF, Cédula de identidade, ler informativos, entre tantos outros exemplos, muitos brasileiros sofrem com a falta do pilar de uma educação básica de qualidade, um problema histórico.
Vamos fazer uma breve linha cronológica, começando por volta de 1549, quando os primeiros padres jesuítas chegaram ao Brasil, e aí começou nossa educação. Era uma colônia habitada por nativos, os “índios”, iniciando-se uma educação ligada ao catolicismo, que foi praticamente a única no país por cerca de 200 anos.
Porém, em 1759, movidos por sentimentos despotistas, o rei D. José I acusou os jesuítas de traição e, desde então, alguns pontos e medidas foram analisados para padronizar e reativar a educação. Mas, nada surtiu efeito!
Somente por volta de 1800 a 1808, com a vinda da família real portuguesa é que começaram a dar novos rumos para educação, como a criação da Escola de Cirurgia da Bahia (1808) e da Faculdade de Direito de São Paulo e de Olinda (1827).
A educação perdurou na era do Império de 1822 a 1889. O Ato Adicional de 1834 delegou às províncias a incumbência da educação básica; houve também projetos para criação de Universidades, tendo nenhum vingado.
Posteriormente, a educação no Brasil-República de 1889 a 1964, quando surgiram as pioneiras Universidades do Rio de Janeiro (1920), Minas Gerais (1927), São Paulo (1934) e Porto Alegre (1934).
Na Constituição de 1934, o ensino público, gratuito era uma prioridade. Em 1962, foi criado o chamado Plano Nacional da Educação, com plano de metas, a ser atingido em 8 anos.
Após esse período, vem a Ditadura Militar de 1964 a 1985, quando houve a crise na educação, sendo que o investimento em educação por parte do MEC chegou a aproximadamente um terço do mínimo fixado por legislação da época.
A educação básica sofreu muito, após tal período, além de que o ensino privado ganhou campo e, exemplo disso que para concluir o então terceiro ano do segundo grau, era necessário pagar pelo tal e assim foi até que, após essa breve historia, chegamos então à Constituição de 1988, que trouxe – após períodos complicados – a Educação como um grande destaque, como Direito Social e, constitucionalmente, o seu objetivo é o pleno desenvolvimento da pessoa, do cidadão e do profissional.
O Brasil começava a lutar contra o sistema falho no passado e a massa enorme com analfabetismo; o país que deixava sua parte agrária para se tornar um país urbano e a maioria abdicava da “escola” pelo trabalho nas cidades.
Atualmente, com a Pandemia, conforme observado, temos presenciado a dificuldade do brasileiro. Os dados do Pisa, maior avaliação de estudantes do mundo, foram divulgados em 2019 mostrando que o Brasil é um dos países mais desiguais na educação.
A China lidera nas três áreas avaliadas: Leitura, Matemática e Ciências; os alunos brasileiros atingiram, em média, 413 pontos na classificação geral de capacidade leitora, ocupando o 57º lugar entre 79 países.
Em países membros da OCDE, o custo por aluno é de de US$ 10.759 anuais por estudante com valores convertidos, levando em conta todos os níveis de educação, do básico ao universitário. No Brasil se investiu US$ 5.610, ou seja, metade (esse valor inclui salário e formação de professores, material e infraestrutura, manutenção das escolas, medidas para diminuir o número de alunos por sala).
Uma pesquisa de 2017 revela que cerca de 51% da população brasileira de 25 anos ou mais têm somente até o Ensino Fundamental completo; no caso do Ensino Médio, 26,3% desse grupo tinham completado esse nível de instrução, sendo a taxa mais baixa localizada no ensino superior: 15,3% completaram a etapa. Números do IBGE mostram que o Brasil ainda tem 11,3 milhões de analfabetos entre a população de 15 anos ou mais — o número corresponde a 6,8% dessa população, observando divergências regionais. Temos exemplo no Sudeste: o índice de analfabetismo na população de 15 anos ou mais é 3,47%, no Nordeste a taxa é de 13,87%.
Outro ponto é a mutação: o processo ficou muito dinâmico, a educação fundamental precisa ser mais bem trabalhada para preparar o cidadão. Muitos alunos não sabem ler nem escrever e nem interpretar pequenos símbolos; as diferenças socioeconômicas são gritantes, mas se faz necessário um investimento digno na educação, precisa-se trabalhar, além da educação de qualidade, as habilidades, interpretações mundanas e competências socioemocionais, tão exigidas no dia a dia. Hoje o cidadão além do ensino básico precisa se situar ao cotidiano a sua volta e no mundo.
Um fator importante para ajudar no ensino e que vem sendo usado em meio à pandemia é a internet, porém cerca de cinco milhões de crianças e adolescentes não possuem o acesso em casa no Brasil, o que corresponde a 17% do total quem tem de 9 a 17 anos, segundo dados da Unice, conforme apresentamos na coluna do dia 16/06/2020, seria hoje a internet um direito fundamental.
Outro ponto a se destacar é desvalorização dos professores, com pouco investimento, e detalhe: no Brasil o professor é obrigado a ser mais que professor, afinal lida com vários aspectos de um país continental, em contraponto ao pouco investimento. Isso desvaloriza o ofício do professor na rede pública no ensino fundamental e médio, pois com o pouco investimento recebido e remuneração fica complicado para o profissional buscar seu fortalecimento, seu aperfeiçoamento profissional.
Por fim essa é a face de um país gigante e tão pequeno perante a educação, que precisa caminhar e muito para atingir uma educação digna de qualidade. Vemos como o principal ponto para o Brasil começar a aquecer turbinas e decolar rumo a voos maiores tendo a educação como o pilar, principalmente, no ensino fundamental. Precisamos vencer essa barreira e investir na educação para se formar cidadãos brasileiros. Parafraseando Paulo Freire: “A Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo.”
E assim seguimos na esperança de que o gigante deixe de ser “Brazil” e caminhe a passos largos com a educação e vire “Brasil”!