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A maldição do torresmo

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Apesar das incansáveis restrições médicas ao torresmo, muita gente também condena “essa gostosura” gordurosa ao inferno, com o apoio, quase unânime de nutricionistas.

Um torresminho bem feito é a combinação perfeita para uma cervejinha gelada ou uma pinga, com ou sem limão. Torresmo com tropeiro ou com tutu de feijão é um prato saboroso e um dos destaques da culinária mineira.

Seja grande, médio ou pequeno, o torresmo sempre faz o contraste de sabores ficar mais sofisticado sem que a gente perceba. Ele é tão pecaminoso quanto a própria “Gula” no seu status mais pleno de pecado capital.

Mas, o torresminho é malvado com algumas pessoas, que como eu, manda às favas a dieta, o regime, os conselhos médicos e proibições, porque é impossível comer um só.

Outro dia, numa manhã de sábado com muito sol, reunido com um grupo de amigos acompanhado de uma viola bem tocada e cerveja gelada, vivi uma experiência quase indigesta com apenas um torresmo, que se misturava a outros numa cumbuca de barro bem servida.

Quero contar o acontecido para que seja uma advertência a todos que passaram dos 45 anos e se acham acima de todos os perigos.

A mesa estava completa com amigos de longa data. As músicas variavam de Renato Russo a Ataulfo Alves, passando por Titãs e sertanejos variados. Coloquei o violão de lado e busquei meu copo de cerveja sobre a mesa esticando o olhar até um lindo e corado torresmo, que parecia acenar de dentro da cumbuca chamando minha atenção entre todos os outros.

Lentamente, por uma questão de educação e etiqueta, fui buscá-lo com a ponta dos dedos e senti sua textura ainda quente naquela parte da pururuca. Um pequeno sopro para não queimar a boca e logo senti o prazer daquele sabor maravilhoso.

Acho que o torresmo esperava um pouco mais de delicadeza da minha parte, mas não resisti e taquei logo uma mordida naquela delícia.

“Croock!”… Esse foi o roído que veio da minha boca, rodou por toda a minha cabeça e deixou um estranho pedaço de dente na minha língua, que teimava em escorregar de um lado a outro se misturando ao torresmo criminoso.

Tentando manter a serenidade de forma a não deixar que as pessoas da mesa percebessem o “estilo cavalo velho assustado” na minha cara, consegui sutilmente pegar o pequeno pedaço de dente (que dentro da boca parecia um tijolo) e o escondi na mão.

Por vingança engoli o danado do torresmo de uma só vez o mandando para o “quinto dos infernos e suco gástrico” no meu estômago. Ainda fiquei um pouco sem jeito, com medo de sorrir, porque não sabia onde realmente acontecera aquela agressão bucal, mas consegui refletir sobre a intenção daquele torresmo maldito, traidor, apesar de sedutor.

Primeiramente, pensei se eu era a única pessoa na face da terra a passar por tal constrangimento em pleno lazer de um sábado. Em seguida, tentei adivinhar que mal eu fiz àquele pequeno torresmo e finalmente, tentei perdoar “a mãe” dele por tudo que pensei e praguejei naqueles eternos segundos.

Como diz minha mãe, nada está tão ruim que não possa piorar! E logo a turma da mesa chamou para voltar à cantoria. Pior: todos me olhavam esperando os primeiros acordes, enquanto eu ainda pensava onde colocaria o pedaço do dente: se na mesa mesmo, se jogava no chão ou se engolia o desgraçado!

Meus amigos! Eu precisava escrever sobre isso, porque imagino que possa estar salvando muitos leitores sobre a “maldição do torresmo”. Hoje, alinho esse momento a outros comuns no dia a dia das pessoas, como soltar gases em público sem querer ou sem controle, tropeçar e esborrachar no chão à frente daquela paquera especial ou comer algo excessivamente apimentado sem nada pra beber por perto.

Todas as situações são perversas com a nossa estima. Mas, quanto ao torresmo podemos nos prevenir e escolher sempre o menor naco, morder calmamente em seus pontos mais macios sem perder a pose.

E aos torresmos que ainda virão tenho a dizer apenas mais uma coisa:

“- A mãe de vocês é uma porca!”

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