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Saúde

Julho amarelo: mês de atenção às hepatites virais

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Julho amarelo
Criança no médico — Foto: Freepik

A campanha Julho amarelo foi instituída no Brasil pela Lei nº 13.802/2019 com o objetivo de informar a população sobre as diferentes formas de hepatite viral, seus modos de transmissão, prevenção, diagnóstico e tratamento. A conscientização sobre as hepatites virais é fundamental para reduzir a incidência dessas infecções, garantir o acesso ao tratamento adequado e melhorar a qualidade de vida das pessoas afetadas. Com informações de Crescer Saúde.

Nem sempre os sintomas iniciais de um problema no fígado são aparentes, por isso, é comum escutar que a hepatite é uma doença silenciosa: quando nos damos conta, ela já se instalou. Por causa desse cenário, a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) estima, por exemplo, que apenas 22% dos infectados (de todas as idades) por hepatite C em 2021 foram diagnosticados.

A hepatite pode trazer graves prejuízos para a criança, já que é no fígado que acontece a produção de bile, a síntese de proteínas, a fabricação de hormônios e a excreção de substâncias tóxicas, entre outras funções. E é preciso um olhar cuidadoso.

Quais são os sintomas mais comuns da hepatite?

“O primeiro sintoma costuma ser fadiga, mas é quando os olhos ficam amarelos que conseguimos notar a doença. O xixi escuro (colúria) e as fezes esbranquiçadas (acolia fecal) também aparecem em fases em que já existe a alteração da bilirrubina (substância produzida pelo fígado)”, explica a hepatologista pediátrica Adriana Porta Miche Hirschfeld, membro do grupo de Transplante Hepático Pediátrico do Hospital Sírio-Libanês e Hospital Infantil Menino Jesus, ambos em São Paulo.

Como fazer o diagnóstico da hepatite?

O diagnóstico da hepatite viral em crianças envolve exames de sangue para detectar a presença do vírus e avaliar a função hepática. Na maioria das vezes, tem um curso benigno. Na hepatite aguda grave, a pior complicação é a falência do fígado, que leva a um transplante. Já na crônica pode ocorrer cirrose hepática, hemorragia digestiva, água na barriga e desnutrição, além de uma predisposição ao câncer.

Como é o tratamento da hepatite viral?

O tratamento depende do tipo e da gravidade da hepatite, podendo variar desde medidas de suporte, como repouso e hidratação adequada, até medicamentos específicos para combater a infecção.

Menino tomando vacina — Foto: Freepik

Como proteger as crianças da hepatite?

Apesar da gravidade da doença, a boa notícia é que ela é rara em crianças. De acordo com o Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais de 2022, houve uma redução de 85,5% na taxa de incidência de hepatite A em crianças menores de 5 anos, e de 92,9% dos 5 aos 9 anos, entre 2014 e 2021. Mérito da vacina!

No Brasil, a rede pública oferece as vacinas de hepatite A e hepatite B isoladas, e na rede particular é possível encontrar o imunizante que combina as duas. Vale lembrar que a taxa de vacinação não tem atingido a meta preconizada de 95%. Em 2022, 72,85% das crianças tomaram a vacina da hepatite A, e 76,24% a da hepatite B, segundo o Datasus. “Como a imunização caiu muito, a preocupação é voltarmos a ver um aumento da hepatite aguda em crianças daqui a alguns anos”, alerta a gastroenterologista Gilda Porta, presidente do Departamento de Hepatologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Pediatria e membro da Sociedade Brasileira de Hepatologia.

Tipos mais comuns de hepatite

Hepatite A

Quais os sintomas da hepatite A e como é transmitida?

Causada pelo vírus da hepatite A (HAV), a transmissão acontece de forma fecal-oral, por meio da água ou alimentos contaminados. Por isso, há chance de se espalhar rapidamente numa creche, por exemplo, e são necessárias medidas de higiene preventivas para barrá-la. Os sintomas se confundem com os de viroses: fadiga, febre, náusea, perda de apetite e dor abdominal, além da icterícia, vômito, fezes claras e urina escura.

Como tratar e prevenir?

O tratamento consiste em amenizar os desconfortos e manter a hidratação. O Programa Nacional de Imunizações (PNI) disponibiliza uma dose gratuita da vacina aos 15 meses. Já a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBim) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomendam duas doses, aos 12 e 18 meses. Na rede particular, existe ainda a opção da vacina combinada contra a hepatite A e B (com preço médio de R$ 235*), que também deve ser aplicada em duas doses, a partir dos 12 meses, com intervalo de seis meses entre elas.

Hepatite B

Quais os sintomas e como é transmitida?

A hepatite B (HBV) tem sintomas semelhantes aos da hepatite A, porém, é transmitida por fluidos corporais infectados, como sangue e sêmen. Em crianças, a transmissão ocorre principalmente de mãe para filho. Por isso, a gestante tem de fazer o teste e iniciar o tratamento (em geral, com antiviral específico) na gravidez, se o resultado for positivo. Nesse caso, o bebê também precisa receber a imunoglobulina (medicamento com anticorpos) contra hepatite B após o nascimento, como medida profilática.

Como proteger a criança contra a hepatite B?

“Nas hepatites virais, o corpo costuma criar uma memória imunológica e a doença não volta, mas, na hepatite B, pode se tornar crônica”, alerta a gastroenterologista Gilda. Isso tende a ocorrer quando é adquirida na infância. Felizmente, existe vacina para proteger desde cedo. A primeira dose é administrada nas primeiras horas de vida, e os reforços podem ser no esquema 2-4-6 meses, quando utilizada uma imunização combinada (pentavalente ou hexavalente, que inclui a vacina da hepatite B). Para quem não recebeu no primeiro ano, a recomendação são três doses, com intervalo de um ou dois meses entre a primeira e a segunda, e de seis meses entre a primeira e a terceira.

Hepatite C

Quais os sintomas e como é transmitida a hepatite C?

Rara em crianças, é causada pelo vírus da hepatite C (HCV), sendo similar à hepatite B tanto nos sintomas e diagnóstico quanto na transmissão. Há, no entanto, uma particularidade: pode ser a mais sorrateira das hepatites, por normalmente causar sintomas leves ou mesmo ser assintomática.

Como tratar?

O tratamento também depende da gravidade e, apesar de não existir vacina para esse tipo, há antivirais específicos, com respostas de 95% de cura. A progressão pode levar a uma cronificação com danos severos para o fígado no futuro, como cirrose e câncer, daí a importância de detectar e tratar o quanto antes.

Hepatites D e E

Com a vacinação, as hepatites A e B foram controladas, mas além da C, existem outros vírus que também podem levar à inflamação no fígado. É o caso da mononucleose, causada pelo vírus Epstein-Barr. Transmitida por partículas de saliva e fluidos, é apelidada de “doença do beijo”, comum entre adolescentes, e causa fadiga, febre e aumento dos gânglios.

No caso da hepatite D (HDV), chamada de delta, uma curiosidade: a infecção só ocorre em quem já teve hepatite B. Por isso, a transmissão e as complicações também são iguais e, apesar de não ter vacina específica, as doses contra a hepatite B ajudam a preveni-la. Já a hepatite E (HEV) é semelhante à A na transmissão oral-fecal e nos sintomas, mas é rara no Brasil e não leva a complicações graves.

Outras causas incluem o citomegalovírus, as arboviroses (dengue, zika, chikungunya e febre amarela), bactérias e a hepatite autoimune. “Nessa, é o próprio organismo que cria anticorpos que agridem o fígado”, explica a hepatologista pediátrica Adriana. E, por fim, duas formas pouco frequentes em crianças: a hepatite medicamentosa, causada por medicamentos, produtos químicos ou toxinas, e a hepatite alcoólica, desencadeada pelo consumo excessivo de álcool.

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