Editorial - Opinião sem medo!
Mobilização de um homem só!
Quando ouvimos falar de Nova Serrana, a primeira informação realmente impactante que é trazida é que esta cidade tem um povo trabalhador, engajado, um povo que se une para obter suas conquistas pessoais.
A terra do calçado é conhecida pelo fato de que todos se ajudam (dentro, claro da generalização), os esforços se unem e assim conquistas que em suas terras natais eram praticamente impossíveis aqui são realizadas em poucos meses.
Por aqui um auxilia o outro a arrumar trabalho, um procura ajudar o outro a realizar seu sonho, a bater a sua laje, a comprar seu próprio meio de locomoção, a tornar o sonho realidade por meio do esforço.
Esse povo trabalhador nas urnas deu um recado nas últimas eleições e de forma quase que uníssona elegeu um deputado estadual.
Nas urnas o povo de Nova Serrana deu outro recado e elegeu um migrante para prefeito do município, quebrando o domínio de décadas em que Paulo e Joel eram os únicos nomes que venciam nas urnas do município.
Bom, esse mesmo povo trabalhador se une constantemente para reclamar e com razão, nas redes sociais, sobre o descaso e falta de respeito da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), para com o município.
As milhares de reclamações demonstram um descontentamento dos populares do município com o fato de que, ficar sem água nas torneiras em todas as regiões da cidade não é mais um episódio isolado e sim, a normalidade vivenciada por cidadãos de todas as esferas sociais.
Porém se por algum motivo a empresa vinha sinalizando com lapsos de respeito ao povo e seus protestos, neste fim de semana toda a indignação, ou melhor, toda a sensação de que algo mudará na cidade foi pelo ralo, e acredite não devido ao fato de que a empresa desrespeitou os populares, mas sim pela falta de adesão da própria população.
Um ato de protesto foi marcado e para não falarmos que foi uma mobilização de um homem só, não mais de duas dezenas de pessoas se uniram para tirar uma foto e dizer não a Copasa.
A mobilização da população foi tão pífia e vergonhosa, que a participação do deputado estadual, Cleitinho Azevedo, político que vem comprando briga com a empresa, foi vista, mas nem registrada.
Na foto oficial o deputado nem mostrou a sua cara, talvez pela vergonha de perceber que o povo que reclama por não ter água para lavar a cara, não teve brio de fazer valer a sua voz em uma das raras oportunidades vivenciadas em Nova Serrana.
Parece que a falta de água é exclusividade isolada de meia dúzia de famílias em Nova Serrana. Parece que o protesto não foi divulgado, parece que as contas de água estão vindo com descontos e as interrupções no fornecimento são caso raro. Parece que a qualidade da água levada para dentro das residências é pura e valorosa proporcionalmente aos valores pagos nas faturas.
Apesar de entender que o protesto foi um primeiro passo, lá dentro de nossa consciência passou uma vergonha de nos chamar população, afinal, cobramos dos políticos a sua parcela de responsabilidade e quando precisamos de dar nossa contribuição como cidadãos fazemos esse papelão.
Bem, se por acaso algum executivo da Copasa foi conferir a mobilização, esse teve a certeza de que pode continuar sambando na cara da população por mais 30 anos que nada de diferente acontecerá.
No final da mobilização foi ainda distribuídos narizes de palhaços e esses sim vieram a calhar. Não pela iniciativa que foi muito válida, mas pela piada que é ler nas redes sociais o descontentamento e ver pessoalmente a pífia participação da população.
Depois deste fim de semana ficou no coração aquela sensação de revolta e a vontade que nos dá é de que, quando recebermos uma denúncia de falta de água na cidade, o nosso desejo é de mandar a população abrir a pagina do Facebook e ver se de lá sai água para beber, banhar ou cozinhar, e isso porque já que a cidadania é vivenciada somente no meio virtual, talvez os populares possam por meio das redes também saciar suas necessidades básicas, depois da lastimosa manifestação de protesto contra uma instituição que desrespeita a cidade faz tempos