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Saúde

Diagnóstico em estágio inicial é crucial para pacientes com câncer de mama e de pulmão

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Política de rastreamento aliada à celeridade no início dos cuidados adequados pode reduzir taxas de mortalidade e trazer mais qualidade de vida às pessoas

Uma em cada cinco pessoas terá câncer durante a vida1. No topo da lista de tipos mais frequentes, no mundo todo3 e também no Brasil1, estão o câncer de mama e o de pulmão, que também têm altas taxas de letalidade1,3. Nos dois casos, porém, as chances de controle e cura aumentam muito quando a doença é detectada em estágio inicial. Com informações de Estúdio Folha.

Os exames de rastreamento, como a mamografia e a tomografia de tórax de baixa dosagem, servem para fazer um diagnóstico precoce, mesmo em pessoas com os fatores de risco e que não apresentam sintomas. “Quando a doença é detectada de forma microscópica, as chances de cura são maiores e há possibilidade de tratamentos menos invasivos”, esclarece a oncologista Daniele Assad, do hospital Sírio Libanês de Brasília.

Foi graças a esse rastreamento sistemático que a jornalista Rejane Monteiro, de 45 anos, foi diagnosticada quando o câncer de mama ainda estava em fase inicial. “Tive um nódulo na mama aos 24 anos, fiz uma cirurgia, mas era só um nódulo de gordura. Na época, a mastologista recomendou mamografia e ultrassom todos os anos, porque minha avó teve câncer de mama. Desde então, faço os exames anualmente. Quando tinha 38, apareceram três nódulos pequenos, mas com formato diferente, pediram uma biópsia e recebi o diagnóstico.”

“Sempre penso que, se por algum motivo, tivesse passado um tempo sem fazer o exame, poderia estar numa situação bem pior, com o câncer maior ou já em metástase”, afirma.

Rejane teve alta oncológica no final de 2022. “Minha médica disse que, a partir de agora, é só acompanhamento clínico. É tudo o que você quer ouvir.”

Foram cinco anos desde o término do tratamento com quimioterapia, radioterapia, terapia alvo e cirurgia de quadrantectomia, na qual foi retirada apenas a parte onde estavam os nódulos e conservou a maior parte da mama.

Um salto tecnológico possibilitou novas opções terapêuticas para as mulheres com câncer de mama, explica a oncologista. Com os avanços da medicina, hoje é possível conhecer o tipo e subtipo de cada câncer e, com o diagnóstico preciso, a equipe médica consegue tomar decisões personalizadas sobre cirurgias e sinalizar a melhor sequência de terapias.

Para o câncer de mama, isso inclui desde cuidados prévios à cirurgia, que possibilitam um melhor prognóstico, até o resgate de pacientes que poderiam evoluir para a doença metastática, aumentando as chances de cura. Daí a importância da mamografia anual para aumentar os casos diagnosticados da doença enquanto é potencialmente curável.

“O tratamento evoluiu sobremaneira. Temos mecanismos novos e tratamos o câncer de mama baseado em subtipos moleculares, não é mais a mesma fórmula para todos os casos. O tratamento é personalizado”, afirma a oncologista.

Segundo a especialista, o desafio agora é buscar, cada vez mais, diagnósticos precoces. No ano passado, 52% dos casos de câncer de mama no Brasil foram descobertos em estágio localmente avançado e metastático (III e IV)5, quando as chances de cura são menores. Com a pandemia de Covid-19, menos mamografias foram realizadas e aumentou o número de diagnósticos tardios.

Além do desafio para a paciente, há um grande impacto econômico, tendo em vista que os atendimentos dos casos de câncer mais avançados são mais prolongados e custosos ao sistema de saúde7.

Em relação ao câncer de pulmão, o que mais mata no mundo, os índices são ainda piores: 90% dos casos diagnosticados no país, em 2022, já estavam em estágios avançados (III e IV)6.

“Já há três estudos mostrando que o rastreamento do câncer de pulmão em fumantes diminui a mortalidade. Realizar tomografia nessas pessoas é uma forma de pegar essa doença em estágio mais precoce, o que leva a uma maior sobrevida e até a chance de cura”, afirma o médico William Nassib William Jr. , coordenador do comitê de tumores torácicos da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica e professor adjunto associado do MD Anderson Cancer Center, nos EUA. Em um dos estudos, houve maior detecção da doença em estágios iniciais, resultando em diminuição de até 20% do risco relativo de morte por câncer de pulmão8.

O médico lamenta que, apesar de os dados dessas pesquisas serem conhecidos há mais de dez anos, pouco se fala sobre o rastreamento do câncer de pulmão. “Precisamos conscientizar pacientes e médicos”, alerta. Ele explica que, hoje, a recomendação é pedir a tomografia de tórax de baixa dosagem para pacientes de 50 a 80 anos que fumam o equivalente a 20 maços/ano. “É uma multiplicação: o número de maços por dia vezes o número de anos. Alguém que fumou um maço por dia por 20 anos ou dois maços por 10 anos, por exemplo, deve fazer”. Esse exame deve ser repetido anualmente.

O caso da aposentada baiana Iane Cardim, de 54 anos, ilustra a necessidade de conscientizar pacientes e médicos. Antes de receber o diagnóstico de câncer de pulmão, ela passou por 14 profissionais de saúde. “Mesmo eu me declarando ser uma grande fumante, ninguém me pediu a tomografia”, recorda.

Foram seis meses de consultas com vários especialistas até que ela, por conta própria, decidiu ir a uma oncologista especializada em pulmão.

Após ser internada por intercorrências em broncoscopias, ela finalmente recebeu o diagnóstico. Por causa da demora e de tudo que passou até ser diagnosticada, Iane hoje atua para conscientizar as pessoas sobre a importância do diagnóstico precoce. “Falta um protocolo. Se eu me declaro fumante, qualquer médico deveria pedir o exame. Por exemplo, para as mulheres, a partir de certa idade, tem a mamografia, o homem tem exame de próstata. Então, se você é fumante, a partir de 45, 50 anos deveria ser pedido.”

Para o doutor William, as políticas brasileiras contra o tabagismo foram fundamentais para uma queda na taxa de mortalidade do câncer de pulmão. “O Brasil é modelo no mundo inteiro no controle do tabagismo por meio de políticas públicas. Mas outro ponto importante é o rastreamento. Se começar a fazer o diagnóstico mais precoce, provavelmente a gente vai melhorar ainda mais.”

Os tratamentos para o câncer de pulmão também evoluíram muito nos últimos anos. É o caso de Iane, que descobriu o câncer já em metástase e convive com a doença há quase oito anos. “É como se eu tivesse uma doença crônica. Tenho câncer, mas não vejo diferença entre mim e uma pessoa com pressão alta, por exemplo.” Muita coisa mudou desde o início de sua jornada como paciente oncológica: ela parou de fumar, faz atividade física, participa de pesquisas e de projetos de voluntariado, entre eles, no Instituto Oncoguia, organização não-governamental voltada para a promoção de informação e defesa dos direitos do paciente com câncer.

Para Luciana Holtz, fundadora e presidente do Instituto Oncoguia, o diagnóstico precoce é fundamental para garantir mais qualidade de vida aos pacientes. “A vida das pessoas sempre é impactada pelo diagnóstico de um câncer. Como ela vai viver durante a fase de tratamento da doença, quais os efeitos colaterais esperados dos tratamentos. Existem mudanças físicas, emocionais e até sociais que precisam ser administradas. Tudo isso importa e precisa ser levado em consideração nessa fase.”

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